A vitória dos F-39E Gripen sobre os F-15C Eagle no Exercício CRUZEX – considerações sobre a tecnologia embarcada
Por Alexandre Galante
Recentemente, no início do Exercício CRUZEX 2024, realizado em Natal-RN, veio à tona notícia da vitória dos caças F-39E Gripen sobre os icônicos F-15C durante o treinamento.
O CRUZEX é um exercício internacional que reúne forças aéreas de diversas nações para treinar operações conjuntas e aprimorar a interoperabilidade entre os participantes.
O desempenho dos Gripen não apenas destaca as capacidades avançadas da nova geração de caças, mas também sinaliza uma mudança significativa nas dinâmicas de poder aéreo no contexto militar contemporâneo.
É preciso lembrar que, enquanto o Gripen E representa uma plataforma de combate de nova geração, com tecnologias avançadas e design contemporâneo, o F-15C, embora modernizado, carrega as limitações de uma concepção de combate aéreo dos anos 1970, onde a potência da plataforma e o número de mísseis carregados eram os fatores principais.
O combate aéreo moderno está passando por uma profunda transformação, impulsionada pela evolução tecnológica e por novas táticas operacionais que redefinem as características essenciais de uma aeronave de combate. Se no passado a velocidade, a capacidade de manobra e a potência de fogo eram os principais atributos de um caça, hoje os paradigmas mudaram. A consciência situacional e a furtividade são os novos pilares do combate aéreo, redefinindo a forma como as aeronaves operam, interagem e enfrentam ameaças.
A superioridade da consciência situacional proporcionada aos pilotos de caças modernos como o Gripen dão imensa vantagem em cenários de combate além do alcance visual.
Enquanto um piloto de um caça antigo como F-15C tem que fazer operações mentais para ter um panorama do que está acontecendo à sua volta, no F-39E Gripen o piloto tem a consciência situacional ampliada graças ao display de grande área (WAD) que acelera o ciclo OODA (Observe, Orient, Decide, Act – Observar, Orientar, Decidir e Agir). O WAD apresenta o quadro tático e auxilia o piloto a decidir qual ação tomar no mais curto espaço de tempo.
Outro diferencial é o sistema de fusão de dados do Gripen, onde os alvos são acompanhados com base nas informações recebidas de diversos sensores da própria aeronave (Radar, IRST, IFF, EW) e de outras plataformas através de link de dados. A qualidade do rastreio (track quality) é apresentada no display auxiliando o piloto na tomada de decisão.
O radar AESA ES 05 Raven do F-39E Gripen tem grande capacidade e apresenta modo ativo e passivo, com base giratória (swashplate) com cerca de 100 graus de cobertura. Tem capacidade simultânea ar-ar e ar-superfície e de imageamento SAR.
Já o IRST Skyward-G, fabricado pela empresa italiana Leonardo, atua nas faixas de ondas médias e longas do espectro infravermelho, com ângulo de varredura de +/-85º em azimute e +/-60º em elevação, possuindo os modos de busca e rastreio contra alvos aéreos com funções que incluem medição passiva de distância e capacidade opcional de gravação de dados. Ainda que os seus alcances não tenham sido divulgados, dados oficialmente publicados afirmam que o Skyward-G é capaz de detectar simultaneamente até 200 alvos.
Para a Guerra em Rede, o F-39E Gripen é interoperável com o Link 16 da OTAN ao mesmo tempo que emprega o link digital TDL sueco, além de sistemas de comunicação seguras e por satélite.
O F-39E Gripen também possui o “Multi-Function System-Electronic Warfare” ou MFS-EW, Sistema Multifuncional – Guerra Eletrônica, desenvolvido para deixar o Gripen preparado para enfrentar as mais poderosas ameaças atuais e também aquelas que podem surgir nas próximas décadas.
O MFS-EW foi projetado com uma arquitetura AESA, o que significa que pode enfrentar várias ameaças ao mesmo tempo, como vigilância terrestre ou radares de controle de disparo, com um nível de precisão sem precedentes em relação à geolocalização, que pode ser tão baixo quanto 0,1º num raio de 360º. O conjunto de guerra eletrônica do Gripen cobre uma faixa de onda entre 0,5 GHz e 40 GHz, o que o torna capaz de detectar a orientação de armas e radares inimigos.
Implicações
O desempenho dos Gripen no CRUZEX 2024 tem implicações importantes para a aviação militar na América Latina e globalmente. Primeiro, demonstra a crescente capacidade do Brasil, que opera o Gripen, em projetar poder aéreo e contribuir para a segurança regional. O resultado também pode estimular outros países da região a reconsiderar suas escolhas de aeronaves, avaliando as vantagens que caças de nova geração podem oferecer em comparação com plataformas mais antigas.
Além disso, o resultado do exercício pode influenciar as futuras aquisições de aeronaves por forças aéreas ao redor do mundo. A competitividade do Gripen em um cenário de combate com um caça consagrado como o F-15C reforça a percepção de que a tecnologia e a inovação são fatores determinantes na eficácia militar, independentemente da herança e do prestígio de modelos mais antigos.