Vought V-601: A proposta de um caça ‘Aggressor’ baseado no F-7M chinês para a Marinha dos EUA

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Na década de 1980, a Vought, empresa aeroespacial dos Estados Unidos comprada posteriormente pela Northrop Grumman, apresentou uma proposta interessante e, até certo ponto, inovadora para a Marinha dos EUA. A ideia era produzir um caça chamado V-601, uma versão modificada do F-7M, uma cópia chinesa do famoso MiG-21 soviético. A proposta visava a criação de uma aeronave destinada ao treinamento de combate aéreo, especificamente no papel de “aggressor” — uma simulação de aeronaves inimigas durante exercícios militares para melhorar as habilidades de combate dos pilotos americanos.

Durante a Guerra Fria, a necessidade de preparar as forças militares dos EUA para enfrentar caças soviéticos em combate direto era uma prioridade. A Marinha e a Força Aérea dos EUA tinham programas específicos para esse treinamento, como o Top Gun e o Red Flag, onde caças desempenhavam o papel de inimigos para simular confrontos realistas. Esses aviões “agressores” imitavam táticas, capacidades de voo e manobras dos caças soviéticos, ajudando os pilotos americanos a se familiarizarem com as características e fraquezas desses aviões.

Na época, o MiG-21 era um dos caças mais prolíficos no arsenal da União Soviética e de seus aliados. Sua versão chinesa, o F-7, fabricada pela Chengdu Aircraft Corporation, era uma cópia licenciada com algumas modificações. O F-7M era uma variante de exportação modernizada, desenvolvida especificamente para o mercado internacional, e foi oferecida a vários países. A ideia de usar um caça baseado no MiG-21 fazia sentido para o papel de agressor, já que o avião poderia replicar o comportamento de uma das principais ameaças enfrentadas pelos Estados Unidos.

Americanização do MiG-21

O plano inicial incluía a realização de diversas modificações estruturais para suportar novos sistemas de aviônica e assento ejetor. Entre as atualizações estavam a instalação de sistemas de comunicação UHF e IFF, além de TACAN, ILS, intercomunicadores, um novo altímetro, sistema de aviso de incêndio no compartimento do motor, indicador de velocidade, regulador de oxigênio, sistema de desligamento de combustível, inversores elétricos, baterias de níquel-cádmio e fiação para o sistema de treinamento TACTS.

Posteriormente, a Vought ampliou a proposta, incluindo a adição de radar com capacidade de detecção de alvos abaixo do horizonte, sistema de navegação inercial (INS), melhorias no TACAN, gravador de acidentes, registrador de carga, dispenser de chaff e flare, além de um sistema de equipamento de parada para pousos em porta-aviões e a previsão de instalação de um sistema de alerta de radar (RHAW).

Em outras versões da proposta, algumas mudanças foram feitas, como a remoção do sistema de rádio VHF e do sistema de pouso por instrumentos (ILS), mantendo, no entanto, o sistema original de escape da tripulação.

Cockpit do V-601

A Vought propôs que, em vez de adquirir diretamente caças soviéticos ou suas versões capturadas, como já tinha ocorrido no passado, os EUA poderiam produzir uma versão própria do F-7M, o V-601, com ajustes no design e na eletrônica para adaptá-lo aos padrões americanos, tornando-o mais confiável e eficaz nos treinamentos de combate. O V-601 manteria o desempenho básico do F-7M, que refletia de perto as capacidades do MiG-21, mas com a vantagem de ser fabricado em território americano, com manutenção mais acessível e componentes modernizados.

A proposta da Vought oferecia várias vantagens. Em primeiro lugar, o V-601 seria mais barato do que outros caças americanos de última geração, devido ao seu design mais simples e comprovado. Isso significava que o custo operacional e de manutenção seria significativamente reduzido. Além disso, como o avião seria produzido nos EUA, questões de confiabilidade e acesso a peças sobressalentes seriam simplificadas.

Outro benefício seria a capacidade de replicar fielmente o desempenho de uma aeronave adversária real, como o MiG-21, proporcionando aos pilotos americanos uma experiência de combate mais autêntica. Ao enfrentar um V-601, os pilotos poderiam praticar contra uma aeronave que representava, em termos de manobrabilidade e perfil de combate, uma das maiores ameaças que eles poderiam encontrar em uma guerra contra os soviéticos ou seus aliados.

Chengdu F-7BGI da Força Aérea de Bangladesh

Apesar de suas vantagens, a proposta enfrentava desafios consideráveis. Um dos principais era a aceitação de uma aeronave baseada em uma cópia chinesa de um caça soviético. Isso poderia ser visto como um retrocesso tecnológico, já que os Estados Unidos já possuíam caças de superioridade aérea muito mais avançados. Além disso, havia questões geopolíticas envolvidas. Embora os Estados Unidos tivessem melhorado suas relações com a China na época, adquirir tecnologia diretamente ou baseada no F-7 chinês poderia gerar preocupações políticas e de segurança.

A proposta da Vought de produzir o caça V-601 baseado no F-7M chinês para atuar como aeronave agressora na Marinha dos EUA foi uma ideia interessante, especialmente considerando o contexto da Guerra Fria. Embora o projeto nunca tenha sido concretizado, ele reflete a criatividade e o pragmatismo de uma época em que a simulação realista de combate aéreo era fundamental para o treinamento das forças armadas dos EUA.

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