Nesta rara imagem tirada em 19 de julho de 2013, a câmera grande angular da espaçonave internacional Cassini capturou os anéis de Saturno e nosso planeta Terra e a Lua no mesmo quadro.

A Terra, a 1,44 bilhões de quilômetros de distância nesta imagem, aparece como um ponto azul indicado pela seta à direita na imagem de abertura; a Lua pode ser vista como uma protuberância mais fraca em seu lado direito. Os outros pontos brilhantes próximos são estrelas.

Esta foi a terceira vez que a Terra foi fotografada a partir do Sistema Solar exterior. A primeira foto foi feita pela Voyager-1 da NASA em 1990 e intitulada “Pale Blue Dot”. Em 2006, a Cassini fotografou a Terra no impressionante e único mosaico de Saturno chamado “Na Sombra de Saturno – O Pálido Ponto Azul”.

As novas imagens marcaram a primeira vez que os habitantes da Terra souberam antecipadamente que o seu planeta estava sendo fotografado. Essa oportunidade permitiu que pessoas de todo o mundo se reunissem em eventos sociais para celebrar a ocasião.

Esta vista olha para o lado não iluminado dos anéis, cerca de 20º abaixo do plano do anel.

A Cassini-Huygens foi uma missão espacial não-tripulada enviada em missão ao planeta Saturno e seu sistema de luas. Um projeto conjunto da NASA, ESA (Agência Espacial Europeia) e ASI (Agência Espacial Italiana), ela consistia em dois elementos principais, o orbitador Cassini e a sonda Huygens. Lançada ao espaço em 15 de outubro de 1997, ela entrou em órbita de Saturno em 1 de julho de 2004 e continuou em operação até 15 de setembro de 2017, estudando o planeta, seus satélites naturais, a heliosfera e testando a Teoria da Relatividade. Entre as muitas descobertas da missão estão ambientes potencialmente habitáveis nas luas de Saturno, incluindo um oceano de subsuperfície de água em Enceladus.

 

Texto de Carl Sagan sobre a primeira foto da Terra feita pela Voyager-1, em 1990

Olhe novamente para aquele ponto. Está aqui. Esse é o nosso lar. Somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos de quem você já ouviu falar, todos os seres humanos que já existiram, viveram suas vidas. O conjunto de nossa alegria e sofrimento, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada caçador e coletor, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e cada pai, filho esperançoso, inventor e explorador, todo professor de moral, todo político corrupto, todo “superstar”, todo “líder supremo”, todo santo e pecador na história de nossa espécie viveram lá – em um grão de poeira suspenso em um raio de sol.

A Terra é um palco muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores para que, em glória e triunfo, pudessem se tornar os senhores momentâneos de uma fração de ponto. Pense nas infindáveis crueldades impostas pelos habitantes de um canto deste pixel aos habitantes dificilmente distinguíveis de algum outro canto, quão frequentes são os seus mal-entendidos, quão ansiosos eles estão para matar uns aos outros, quão fervorosos são os seus ódios.

Nossas posturas, nossa auto importância imaginada, a ilusão de que temos alguma posição privilegiada no Universo, são desafiadas por este ponto de luz pálida. Nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica envolvente. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que a ajuda virá de outro lugar para nos salvar de nós mesmos.

A Terra é o único mundo conhecido até agora que abriga vida. Não há outro lugar, pelo menos num futuro próximo, para onde a nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Habitar, ainda não. Goste ou não, no momento a Terra é onde nos posicionamos.

Já foi dito que a astronomia é uma experiência humilhante e que fortalece o caráter. Talvez não haja melhor demonstração da loucura dos conceitos humanos do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo. Para mim, isso sublinha a nossa responsabilidade de tratarmos uns com os outros de forma mais gentil e de preservarmos e valorizarmos o pálido ponto azul, o único lar que alguma vez conhecemos.

– Carl Sagan, Pálido Ponto Azul, 1994

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