‘JDAMski’: As bombas planadoras russas com o módulo UMPK na Guerra da Ucrânia
Rodolfo Laterza [1]
1 – Introdução
No outono de 2022, as Forças Aerospaciais Russas começaram a empregar nos ataques às unidades de combate das Forças Armadas da Ucrânia – FAU com uma ampla gama de bombas nos modelos KAB, UPAB e FAB com um sistema de módulo de planejamento universal de correção que converte bombas não guiadas em sistemas de precisão, conhecido como Módulo Universal de Planeio e Correção – “UMPK”.
Mais recentemente, tornou-se conhecido que as Forças Aeroespaciais Russas começaram a instalar os módulos UMPK em bombas detonadoras volumétricas ODAB-500. No momento, a Força Aérea Russa está armada com três tipos dessas bombas, como a versão básica do ODAB-500, bem como ODAB-500P e ODAB-500PMV (alta altitude), sendo adicionadas aos meios aéreos russos para derrotar acumulações de infantaria e de equipamentos das Forças Armadas da Ucrânia ao longo da extensa linha de contato entre as forças beligerantes, a qual se estende em quase 1.000 km de perímetro operacional.
O emprego deste sistema de conversão em aeronaves da combate russas com propósitos de apoio aéreo cerrado e interdição do campo de batalha, tais como o Su-34 e o Su-25 SM3 tem trazido superioridade aérea à VKS em setores da linha de frente, pois permite maior precisão e alcance nos ataques, além de menor exposição às baterias antiaéreas ucranianas.
Bombas planadoras são armas que são utilizadas para atingir alvos à distância, sem que a aeronave entre na zona de ação das forças de defesa aérea inimigas. Tais sistemas receberam esse nome pela capacidade de voar até o alvo, planar no ar, sem o uso de motores de foguete. As bombas planadoras podem ser lançadas de aviões ou veículos aéreos não tripulados e possuem vários tipos de ogivas – convencionais, de fragmentação ou mesmo nucleares.
2 – O conceito do sistema UMPK
O Módulo Universal de Planejamento e Correção é na verdade um sistema baseado em um módulo simples com montagens que permite transformar uma bomba convencional de queda livre em uma bomba de precisão.
Para corrigir o curso da bomba ajustada com módulo UMPK é usada a navegação por satélite de acordo com os dados do sistema de posicionamento por satélite GLONASS. A unidade de controle com sua lógica digital leva em consideração a velocidade e a altitude da munição de acordo com as coordenadas do alvo. O software do computador do módulo UMPK controla as asas e a cauda ajustada à bomba convertida e pode, dentro de certos limites, influenciar tanto a direção quanto a velocidade do voo. O desvio do ponto de impacto é geralmente de vários metros, com o raio de dano cobrindo essa provável imprecisão. Isso garante mais alta eficiência da aviação de ataque russa no teatro de operações.
O alcance nominal de uma bomba FAB típica de queda livre convertida pelo sistema UMPK é de 30 a 45 quilômetros, o que permite evitar que aeronaves entrem na área de cobertura de defesa aérea das Forças Armadas da Ucrânia – FAU. Quando as bombas da família FAB-250 e FAB-500 saem dos pontos duros de uma aeronave de combate a uma altitude de 12 km e velocidade de 950 – 1.000 km/h, o alcance de ataque pode chegar a 60 – 70 km, gerando um incremento qualitativo de eficiência.
No caso do uso de bombas convencionais não guiadas, quando usadas em alvos estáticos como prédios e estruturas de concreto, levando em consideração a dispersão, é necessário realizar várias surtidas e às vezes gastar dezenas de munições. Ao usar o módulo UMPK , há uma chance de que o alvo seja destruído em 1 a 2 surtidas. Assim, não há apenas economia de munições – o número de surtidas também é reduzido e os riscos de baterias antiaéreas atingir aeronaves quando estão sobre o alvo são reduzidos.
A principal vantagem dessas bombas convertidas pelo sistema UMPK é a total ausência de assinatura térmica devido à falta de motores turbojato, empregados por exemplo em mísseis táticos de cruzeiro e que são mais fáceis de serem interceptados por sistemas de defesa aérea de área.
O sistema UMPK portanto minimiza a probabilidade de interceptação de bombas planadoras mediante emprego de sistemas antiaéreos como o IRIS-T SLS e outros sistemas SAMs disponíveis para as Forças Armadas da Ucrânia – FAU.
Os módulos são adaptados para uso em quaisquer condições climáticas e não perdem eficácia quando a situação climática piora, ao contrário de armas de alta precisão com sistemas de orientação complexos.
O caça-bombardeiro multifuncional Su-34 é capaz de colocar até 16 bombas FAB-500 e até 22 bombas mais leves FAB-250 com módulos universais de planejamento e correção em sua estrutura de carga útil de combate, devendo os pilones serem parcialmente redesenhados, permitindo que número usual de tais bombas nos Su -34 e Su-35S aumente de dois para quatro.
Para a destruição mais eficaz de alvos especialmente protegidos, o uso de bombas planadoras guiadas especialmente projetadas é atualmente justificado. O exemplo mais notório é a bomba convertida UPAB-1500B, na qual a ogiva é do tipo penetrante-perfurante de concreto com carga de 1.000 kg de explosivo. O temporizador de detonação em retardo garante a destruição de bunkers e estruturas profundas – a bomba não detona na superfície da terra, mas rompe a camada protetora de concreto e só então explode.
Para voo planado, as bombas são equipadas com asas retráteis e podem voar do ponto de lançamento a uma distância de até 50 km. O sistema de orientação é inercial com uma unidade de correção de satélite – GPS ou GLONASS, como já analisado.
O módulo UMPK colocado nas bombas aéreas não guiadas é um recipiente retangular estreito do tamanho da própria munição, com asas ajustáveis, cauda e sistema de navegação inercial com um dispositivo GPS ou GLONASS implantado que confere a precisão ao sistema.
Como parte do módulo, é usada uma antena de treliça compacta de quatro elementos conhecida como “Kometa-M”. Este sistema permite reduzir o impacto da guerra eletrônica, neutralizando interferências.
3 – Características das bombas aéreas ODAB
As bombas aéreas ODAB apareceram em serviço na Força Aérea da URSS em meados da década de 1970. Esse tipo de munição também foi usado pelas tropas americanas no Vietnã com bastante ênfase, notadamente para destruição de pontos de acúmulo de pessoal inimigo.
A bomba ODAB tem um tanque de paredes finas cheio de um líquido inflamável, com um dispositivo de pulverização e um fusível. Ao entrar em contato com a superfície, a carga é ativada e o líquido é pulverizado, queimando instantaneamente e formando uma poderosa onda de choque que produz danos extremos a pessoas equipamentos.
A ODAB-500 é uma bomba termobárica, onde o valor “500” indica seu peso total. O análogo terrestre do ODAB-500 são os foguetes para o sistema MLRS termobárico TOS-1 “Pinocchio” ou TOS-1A “Solntsepek” , bastante usado pelas forças russas no teatro de operações da Ucrânia para destruição de acúmulo de tropas ucranianas entricheiradas em fortificações.
No caso da bomba ODAB-500, esta é usada para destruir a infantaria inimiga e blindados. No momento, as Forças Aeroespaciais Russas no teatro de operações da Ucrânia estão usando uma modificação da bomba termobárica ODAB-500P (com carga de piperileno conforme veremos), que, ao entrar em contato com a superfície, cria uma pressão no epicentro da explosão de até 120 atmosferas com um raio de destruição até 300 metros.
As bombas ODAB-500 e ODAB-500P diferem na presença de diferentes líquidos ativos. Na primeira versão, mais ultrapassada, é utilizado o óxido de etileno; na segunda, emprega – se um hidrocarboneto não saturado volátil e um combustível de estrutura linear denominado piperileno.
A ativação da ODAB-500P ao entrar em contato com a superfície ocorre em duas fases – primeiro tem-se a pulverização do líquido inflamável e, em seguida, sua oxidação com explosão. A massa da substância de combate chega a 145 kg.
A desvantagem tática da bomba termobárica ODAB-500, em comparação com as munições de aviação também com módulos UPAB ou KAB é a limitação da velocidade da aeronave para 1.100 km / h e a altura da aeronave no momento do lançamento restrita a 1.000 metros.
Dessa forma, uma aeronave de combate não pode usar velocidade supersônica para destruir alvos usando a bomba ODAB-500P, mesmo com módulo UMPK. Portanto, esse tipo de bomba aérea no teatro de operações é usada em aeronaves de ataque Su-25SM3, que são capazes de atacar em baixa velocidade.
A bomba aérea ODAB-500PMV pode ser utilizada tanto em aviões quanto em helicópteros a uma altitude de até 12 quilômetros e velocidade de transporte de até 1500 km/h (supersônico) e o peso do fluido ativo aumentou para 193 kg.
Mísseis termobáricos lançados do sistema de lança-chamas pesado Solntsepek TOS têm um alcance de até 6 km. Nesse sentido, as bombas aéreas ODAB-500 lançadas de caças pesados da família Sukhoi – notadamente as versões modernizadas do Su-34 – não são limitadas pelo alcance da destruição e sua distância de planeio depende apenas dos critérios de localização da própria aeronave.
VÍDEO: Supostas bombas russas com kit UMPK lançadas sobre Vuhledar
4 – Considerações finais
Com o uso de bombas guiadas de alta precisão, a aviação de ataque das Forças Aeroespaciais Russas aumentou significativamente a eficácia de cada surtida, permitindo contenção de ataques de colunas mecanizadas e pontos de implantação de forças ucranianas em setores com maior nível de confronto.
Com base na eficácia de sistemas de baixo custo e rapidez de prontidão, o complexo industrial-militar russo incrementa a produção em massa de kits de UMPK para equipar bombas convencionais, no âmbito de uma guerra de desgaste e de atrito avançado, permitindo infligir baixas significativas à forças ucranianas – que empregaram com bastante eficiência munições ocidentais guiadas contra centros de comando e controle, armazéns e depósitos russos, levando a uma necessidade de curva de aprendizagem pelas Forças Armadas da Federação Russa.
Embora não defina isoladamente o desfecho de um conflito militar como qualquer sistema de armas, os módulos UMPK constituem uma solução tecnológica altamente eficaz e otimizada para a VKS, contribuindo para neutralizar ameaças e perdas de suas aeronaves de combate perante as redes de defesa aérea da Ucrânia e, finalmente, provendo mais ataques de precisão a alvos das forças ucranianas.
Fontes consultadas:
- https://www.airandspaceforces.com/russian-air-force-lot-of-capability-left-ukraine-invasion/
- https://www.businessinsider.com/russias-success-at-equipping-simple-bombs-with-guidance-systems-report-2023-4
Can Russia’s New Guided Glide Bombs Help Blunt Ukraine’s Counteroffensive?
- https://kyivindependent.com/russias-smart-bombs-pose-increasingly-serious-threat-to-ukraine/
- https://militarywatchmagazine.com/article/ruaf-glide-bombs-ukraine-mass-use
- https://www.popularmechanics.com/military/weapons/a43571893/how-dumb-are-russias-winged-smart-bombs/
[1] Delegado de Polícia, historiador, pesquisador de temas ligados a conflitos armados e geopolítica, Mestre em Segurança Pública