A rede de defesa antimísseis de Moscou
Por Sérgio Santana* [1]
A escalada de tensões resultante da invasão da Ucrânia pelas Forças Armadas da Federação Russa, em fevereiro de 2022, tem frequentemente levado não apenas analistas de assuntos militares, mas também a opinião pública como um todo a acreditarem que este é o momento mais quente desde o fim da Guerra Fria, que ocorreu com o fim da União Soviética no fim de 1991.
Esta mesma crença, motivada por ameaças abertas do emprego de armas nucleares por parte da Federação Russa (e mesmo por exercícios da sua Força de Mísseis Estratégicos há alguns poucos meses, para não se falar dos recentes testes de mísseis nucleares norte-americanos e franceses) vez por outra suscita curiosidades acerca do tema, uma delas sendo a capacidade de defesa russa contra mísseis nucleares adversários.
O sistema A-135
Tendo sido aceito para serviço em 1995, o sistema de defesa A-135 é operado por uma divisão de defesa antimísseis, responsável por neutralizar ogivas nucleares apontadas para Moscou, a capital da Rússia.
Seu principal centro de comando bem como o radar de varredura digital para gerenciamento Don-2N estão localizados na cidade de Sofrino, no Distrito de Pushkinsky, que faz parte da região de Moscou.
Codificado pela OTAN como “Pill Box”, o Don-2N é uma estrutura quadrangular de 33 metros de altura com lados de 130 metros de comprimento na parte inferior e 90 metros de comprimento na parte superior. Cada uma de suas quatro faces possui um radar de banda de frequência super alta de 18 metros de diâmetro, oferecendo uma cobertura de 360 graus.
À direita de cada antena circular e conjunto de rastreamento, separados por uma estrutura vertical para blindagem, está um conjunto de antenas quadradas com comprimento de 10 metros) para guiar o míssil interceptador por link de dados. O Don-2N é executado por um supercomputador Elbrus-2 e foi projetado para ser o centro de controle do sistema pode operar de forma autônoma se a conexão com o seu centro de comando e controle for perdida. Possui alcance de 3.700 km para alvos do tamanho de uma ogiva ICBM típica, variando entre 1.500km a 2.000km para detectar um alvo de 5cm x 5cm.
A rede russa de radares de alerta antecipado consiste em:
- Radares de alerta antecipado Daryal biestáticos ativos phased array;
- Radares de alerta antecipado de vigilância espacial Dnepr/Dnestr;
- Radares de alerta antecipado Voronezh Phased Array;
- Satélites de alerta antecipado US-KMO, US-K e EKS;
- Serviços de comando, controle, comunicações e inteligência.
O Pill Box/Don-2N comanda 68 mísseis interceptores endoatmosféricos de curto alcance do tipo 53T6 (“ABM-3 Gazelle” no jargão da OTAN). Projetado pela empresa NPO Novator em 1978 e produzido a partir de 1988, o míssil é capaz de interceptar veículos de reentrada a uma distância de 80 km, sendo um foguete de propelente sólido de dois estágios armado com uma ogiva termonuclear de 10 quilotons. O míssil tem 10 metros de comprimento e 1,8 metros de diâmetro, pesando 10 toneladas no lançamento. É mantido em um contêiner de lançamento baseado em silo. Antes do lançamento, sua capa protetora é arrancada.
Estes são testados anualmente no local de teste de Sary Shagan. Além disso, 16 lançadores aposentados de mísseis armados nucleares interceptores exoatmosféricos 51T6 de longo alcance, 8 mísseis cada, estão localizados em duas bases de lançamento.
O míssil 53T6 atinge velocidades de aproximadamente Mach 17 (18.037km/h). A capacidade máxima de aceleração gravitacional varia entre 90 Gs e 210 Gs.
Os 68 mísseis de curto alcance são implantados em cinco locais — Lytkarino (16 interceptadores), Sofrino (12), Korolev (12), Skhodnya (16) e Vnukovo (12).
O sistema sucessor, apelidado de ‘Samolet-M’ (e mais recentemente A-235) empregará uma nova variante convencional do míssil 53T6 a ser implantado nos antigos silos 51T6.O novo PRS-1M é uma variante modernizada do PRS-1 (53T6) e pode usar ogivas nucleares ou convencionais. Ele pode atingir alvos em distâncias de 350 km e altitudes de 50 km.
[1] Sérgio Santana é Bacharel em Ciências Aeronáuticas (Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL), pós-graduado em Engenharia de Manutenção Aeronáutica (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG). Colaborador de Conteúdo da Shephard Media. Colaborador das publicações Air Forces Monthly, Combat Aircraft e Aviation News. Autor e co-autor de livros sobre aeronaves de Vigilância/Reconhecimento/Inteligência, navios militares, helicópteros de combate e operações aéreas.