LAAD 2023: Palestra do Comandante do 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA) sobre a implantação dos novos caças Gripen

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Por Alexandre Galante

O Tenente Coronel Aviador Gustavo Pascotto, comandante do 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA) – primeiro esquadrão a receber o caça Gripen E – falou sobre a implantação dos novos caças na Base Aérea de Anápolis (BAAN) durante a feira LAAD 2023.

O comandante iniciou sua palestra assinalando seus 10 anos no 1º GDA e sua experiência operacional nas aeronaves A-29, Mirage 2000 e F-5M. Fez também o curso do Gripen C/D e na Força Aérea Sueca.

Ele lembrou a tradição do esquadrão na introdução de aeronaves complexas como o Mirage III nos anos 1970, o Mirage 2000 nos anos 2000 e agora o Gripen E.

Segundo o comandante, em dezembro de 2022 teve início a operação do Gripen E na BAAN em Anápolis (GO), com voos locais de treinamento e manutenção operacional, que permitiram observar muitas características interessantes da aeronave, principalmente quanto ao desempenho e a interface homem-máquina, por meio do WAD (Wide Area Display). A autonomia da aeronave também é uma característica importante, devido ao tamanho do país, ela atende muito bem às necessidades operacionais da FAB.

O Ten Cel Gustavo elogiou o traje de voo que permite aos pilotos suportarem altas cargas G de forma confortável. Ele ressaltou que isso influencia diretamente o desempenho operacional do piloto em voo.

Em março de 2023, iniciou-se a primeira fase da conversão operacional dos pilotos que fizeram o curso do Gripen C/D na Suécia. Dois simuladores instalados na BAAN de alta capacidade e resolução, permitem a simulação das características de voo do Gripen E com grande precisão, sendo ferramentas ideais de instrução e treinamento.

O simulador permite ao piloto fazer no solo aquilo que ele vai fazer em voo, com mais eficiência. Outro aspecto importantíssimo, é que é possível praticar no simulador cenários complexos que em voo real, por questões de segurança, tráfego aéreo etc., seriam muito difíceis de realizar.

Foi constatado no emprego diário do WAD (Wide Area Display) um ganho operacional muito grande, em comparação com aeronaves anteriores operadas pela Aviação de Caça. A capacidade que o piloto tem de utilizar várias janelas ao mesmo tempo ou somente uma para obter o máximo de resolução ou o máximo de detalhamento possível, tem sido muito significativa.

Simulador do Gripen E instalado na Base Aérea de Anápolis

O 1º GDA tem atualmente seis pilotos em treinamento, que devem iniciar os voos no Gripen nas próximas semanas na Base Aérea de Anápolis. O foco do esquadrão em 2023 é formar os pilotos na aeronave para que ela possa ser operada na plena capacidade. No meio do ano serão recebidos mais pilotos e, no final do ano, todos os pilotos brasileiros de Gripen estarão formados.

O esquadrão também conta com dois pilotos suecos que dão apoio e são instrutores dos cursos teóricos e de simulador. As missões de simulador servem para familiarizar os pilotos no uso do WAD, de outros displays e uso do motor, como também para missões realizadas em Anápolis.

Uma das estações instaladas no 1º GDA permitirá no futuro criar cenários operacionais para que os pilotos possam treinar antes da operação real.

Os voos reais

As missões atuais realizadas no Gripen são voos de adaptação à aeronave, isolados ou em formação, para ambientação dos pilotos. Embora o Gripen tenha uma capacidade operacional muito grande, a implantação requer que o treinamento seja feito de forma sistemática e metódica, para garantir que todos conheçam muito bem a aeronave.

É preciso muito tempo e estudo para que o piloto tenha o conhecimento adequado sobre a aeronave, tanto na parte de performance como de sistemas, ele precisa conhecer todos os recursos disponíveis. O Gripen apresenta muitas informações e o piloto precisa saber fazer a coleta dessas informações.

Já foi iniciado o desenvolvimento doutrinário de operação da aeronave, com a produção de manuais para operação do Gripen. Esse material, diferentemente do manual do fabricante, destina-se ao emprego operacional do avião. Com o passar dos anos, os manuais doutrinários vão agregar mais conhecimento obtido com a operação do avião e novos recursos incorporados.

Outro aspecto importante destacado pelo comandante do 1º GDA é o da segurança, por causa dos armamentos de última geração do Gripen. O Brasil é signatário de vários acordos e teve que adotar muitos procedimentos de segurança em conjunto com a Saab para salvaguardar as informações do Gripen.

As novas instalações da sede do 1º GDA, que abriga os simuladores e a área secreta chamada de “black box” (com todas os equipamentos de planejamento e análise de briefing do Gripen), estão protegidas por porta-cofre, sistema de alarme e gravação conectados com o sistema de reação da base. As pessoas que entram no prédio não podem portar celulares nem smart watch, do mais antigo ao mais moderno.

Sede do 1º GDA

Desafios

O Ten Cel Gustavo encerrou sua apresentação falando dos desafios da implantação do Gripen. Segundo ele, como o Gripen é uma aeronave altamente dependente de dados, a confecção de dados digitais e de guerra eletrônica para abastecer todos os sensores da aeronave, requer um volume muito grande informações. E essas informações são normalmente negadas pelos emissores (potenciais inimigos). Será necessário um trabalho muito intenso para abastecer as bibliotecas do Gripen, para que sejam muito bem montadas e operadas no futuro.

Saab Gripen ( F-39E) e Dassault Mirage IIIEBR (F-103E) na Base Aérea de Anápolis – Foto: Juliano Lisboa

Sessão de Perguntas e Respostas

Sobre o treinamento dos pilotos do Gripen na FAB, o comandante esclareceu que o treinamento tem quatro fases: as fases 1 e 2 são para o piloto conhecer a aeronave e seus sistemas e entender como realizar os procedimentos de emergência, tendo em vista o alto valor da aeronave. Essas fases destinam-se à operação básica.

As fases seguintes, 3 e 4, destinam-se ao voo operacional. Para o ano de 2023 serão realizadas as fases 1 e 2 e para os primeiros pilotos mais experientes, se houver tempo, será iniciada a fase 3.  As operações de treinamento de reabastecimento em voo (REVO) estão conectadas com as fases 3 e 4, pois exigem muita técnica do piloto, muitas horas de voo.

Com relação ao armamento para o Gripen, estão sendo feitas obras para expandir e acomodar o novo armamento que vai equipar os caças.

Sobre o IRST (Infrared Search and Track), o Ten Cel Gustavo disse que acompanhou as matérias que foram publicadas sobre o equipamento.  O IRST está instalado nas aeronaves e é um sistema tão componente quando o próprio radar. É uma ferramenta muito importante para combates de alto nível, onde o cenário eletromagnético é muito denso, com muita interferência.

O IRST permite designar e identificar um alvo por meio de emissão de calor, sem a necessidade de emissão de ondas eletromagnéticas que possam denunciar a posição do Gripen.

F-39 Gripen da FAB com IRST – Foto: Juliano Lisboa

Embora o radar AESA pelo seu alcance e cobertura angular continue sendo o sensor principal, o IRST é um complemento. Porém, em cenários avançados em que o caça não possa emitir, o IRST torna-se o principal sensor, que permite a identificação e o rastreamento do alvo, para lançamento do armamento. Resumindo, o IRST é como se fosse um radar passivo.

No simulador instalado na BAAN é possível manusear o IRST, abrindo muitas oportunidades operacionais inéditas na FAB, para o uso de armamento por meio desse sensor. Ele é tão revolucionário quanto o radar AESA do Gripen, que permite um grande ângulo de varredura, no combate BVR.

Sobre o lançamento de mísseis de teste pelo Gripen no Brasil, existe um projeto de transferência de tecnologia com a MBDA para o lançamento do Meteor no Brasil. O evento será muito grande e inédito na FAB, para verificação da precisão míssil BVR.

Sobre as capacidades operacionais do Gripen, o avião, por estar em desenvolvimento, atualmente possuiu a “Basic Capability” (BC), para emprego ar-ar. Futuramente será atingida a “Operational Capability” (OC), que vai incorporar funcionalidades ar-solo e no final, a “Full Capability” (FC), vai incorporar a capacidade de reconhecimento.

Sobre os simuladores, são dois “mission trainers” com domos de grande visibilidade (mais de 180 graus), que em breve terão a capacidade de operar em conjunto, “linkados”.

Simulador do Gripen do mesmo tipo instalado na sede do 1ºGDA

As estações de instrução também podem simular a aeronave, permitindo a realização de um voo em formação com um instrutor em uma aeronave na estação do instrutor e o aluno no domo.

Futuramente isso poderá ser ampliado para cenários complexos, com uma esquadrilha de Gripen ou mais aviões contra outras entidades geradas pelo sistema. O simulador também permite o uso do HMD pelos pilotos.

O simulador está sendo usado atualmente no Delta Conversion Training, que é o curso de conversão operacional, para os pilotos brasileiros formados no Gripen C. Futuramente, serão recebidos mais dois simuladores, que poderão ser “linkados” e simular o Gripen F biposto, para adaptar o piloto instrutor para o voo na nacele traseira, que tem visibilidade menor que a dianteira.

Sobre as diferenças de performance do Gripen C e Gripen E, o Ten Cel Gustavo disse que são aviões muito diferentes. O Gripen E mesmo mais pesado que o Gripen C, tem um motor mais potente e acaba compensando. Na parte de sistemas, o Gripen E também é muito superior, como o radar AESA, por exemplo. Externamente os aviões são parecidos, mas em termos de sistemas o Gripen E é outra realidade.

Com relação à formação dos pilotos de Gripen, que virão do A-29, caberá ao Estado-Maior da FAB a decisão sobre a adoção ou não de um LIFT (Lead-In Fighter Trainer), pois haverá um custo atrelado à sua aquisição.

O Ten Cel Gustavo disse que os pilotos de A-29 saem dos Terceiros com mais de 1.000 horas de voo no tipo. Ele mesmo foi piloto de A-29 e depois foi para o 1º GDA para voar Mirage 2000, onde realizou a conversão no biposto.

Por enquanto, os pilotos de A-29 que forem para o 1 º GDA treinarão no simulador e,  posteriormente, também no biposto Gripen F.

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