O revolucionário Mikoyan Gurevich MiG-31 ‘Foxhound’
Por Sérgio Santana*
Com o avanço da tecnologia soviética de mísseis superfície-ar durante a década de 1960 (demonstrada principalmente com o abate do Lockheed U-2 pilotado por Francis Gary Powers no início daqueles anos), as forças aéreas da OTAN concentraram-se cada vez mais em táticas e sistemas de armas para ataque de baixo nível que prometiam ser altamente eficazes para penetrar nas defesas aéreas adversárias, a exemplo do Rockwell B-1 e dos mísseis de cruzeiro Tomahawk. Em resposta, os soviéticos investiram muito esforço na construção dessas defesas, principalmente onde não havia possibilidade de instalar radares terrestres. Depois de considerar várias opções diferentes, em 1968 o trabalho foi autorizado em uma continuação da série de interceptadores Mikoyan Gurevich MiG-25.
A aeronave aprimorada deveria fornecer um aumento geral na capacidade e eficácia sobre o “Foxbat”. O Mikoyan OKB considerou projetos mais radicais para atender aos requisitos desde o início, incluindo configurações de asa de geometria variável e asas delta, mas decidiu que seria mais eficaz manter o arranjo básico do MiG-25 e dar-lhe uma revisão completa.
A investigação do OKB levou a um pedido de desenvolvimento completo e dois protótipos, com o esforço de design conduzido por uma equipe sob o projetista Gleb Lozino-Lozinsky. O primeiro protótipo “Ye-155MP” realizou seu voo inicial em 16 de setembro de 1975, com Aleksandr Fedotov nos controles, e o segundo em maio de 1976.
Viktor Belenko (no texto publicado recentemente no Poder Aéreo) mencionou o novo interceptador durante seu interrogatório pela inteligência ocidental, descrevendo um “Super Foxbat”, com dois assentos, uma fuselagem reforçada para voo de baixa altitude e um poderoso radar look-down/shoot-down. Detalhes exagerados vazados na imprensa ocidental levaram a um romance technothriller best-seller, “FIREFOX”, de Craig Thomas, envolvendo um supercaça soviético com desempenho de Mach 6 e controle mental direto sobre os seus sistemas, publicado em 1977; que por sua vez, originou o filme homôninmo estrelado por Clint Eastwood cinco anos depois.
O trabalho no que se materializaria num total de oito máquinas de pré-produção começou na fábrica em Gorky em 1977. Em fevereiro do ano seguinte, um satélite espião norte-americano confirmou a confissão de Belenko sobre as capacidades do novo MiG: dez alvos voando a altitudes entre 1.400m e 9.600m foram detectados por um MiG-31 voando a 5.000 metros
Os testes continuaram até a autorização formal em 1981 para a produção total do que originalmente seria designado como “MiG-25MP”, mas emergiu como “MiG-31”. O tipo entrou na linha de frente do serviço PVO em 1982, substituindo o Tupolev Tu-128 Fiddler.
A OTAN atribuiu ao MiG-31 o nome de “Foxhound”, designação de uma raça canina de olfato extremamente apurado. O Ocidente finalmente conseguiu boas fotos do MiG-31 em 1985, quando um piloto de F-16 norueguês interceptou um sobre o Mar de Barents e tirou algumas fotos dele.
Detalhes Técnicos
O MiG-31 era claramente um derivado do MiG-25; eles eram semelhantes o suficiente para os dois serem confundidos em um olhar casual. Ambos eram aeronaves bimotoras com entradas de ar de configuração igual, asas enflechadas montadas no alto, caudas duplas e barbatanas ventrais.
A primeira diferença visível foi que o MiG-31 foi construído desde o início como uma aeronave de dois lugares. Os soviéticos finalmente decidiram que uma abordagem totalmente controlada pelo solo para a defesa aérea era muito inflexível e, portanto, o MiG-31 foi projetado para ser capaz de caçar e lutar da forma mais independente possível, com um tripulante no assento traseiro direcionando o piloto para alvos usando um conjunto de sensores muito melhorado e controle dos sistemas de armas.
Os dois tripulantes em tandem (embora a equipe de design também tenha considerado um arranjo lado a lado, como no contemporâneo Sukhoi Su-24 “Fencer”) acomodados em canopis individuais, sentavam-se nos assentos ejetáveis Zvezda K-36DM “zero-zero” (velocidade zero, altitude zero), que tinham almofadas de massagem embutidas para manter a tripulação mais confortável em longas missões de patrulha. O cockpit traseiro, apresentava um conjunto simples de controles de voo e um periscópio retrátil, para permitir que o seu ocupante conduzisse a aeronave em caso de emergência, bem como para fornecer treinamento de voo sem uma variante de treinamento especializada.
As asas do MiG-31 também eram visivelmente diferentes das do MiG-25, com extensões de raiz do bordo de ataque (as “LERX”, do inglês Leading Edge Root eXtension, instaladas para favorecer a sustentação em curvas fechadas e altos ângulos de ataque) e seção transversal mais fina. Cada asa apresentava slats de bordo de ataque de quatro seções; slats de bordo de fuga traseira de duas seções; e flaperons externos. Os flaps de ponta se desdobravam automaticamente em baixas velocidades e eram usados para manobras de combate.
A fuselagem e as entradas do motor foram projetadas para contribuir para a sustentação, com estas apresentando uma rampa de entrada móvel superior e outra de entrada móvel inferior, além de existirem portas auxiliares de admissão de ar no topo das entradas. A fuselagem redesenhada, apresentando mais titânio e liga de alumínio do que no MiG-25, também apresentava maior capacidade de combustível, indo para 18.500 litros em 13 tanques distribuidos também nas asas e mesmo nas derivas. Os freios aerodinâmicos foram instalados sob as entradas do motor e à frente das portas do trem principal.
O trem de pouso também era totalmente novo. A unidade de rodas duplas do nariz foi movida mais para frente em relação ao MiG-25, retraindo-se para trás, e o trem principal apresentava duas rodas, dispostas em tandem, mas deslocadas, assim evitando que a roda traseira seguisse o sulco criado pela roda dianteira ao rolar sobre neve ou lama. O MiG-31 usa paraquedas de freio duplos cruciformes, guardados em uma carenagem entre e acima dos escapamentos do motor.
Para cumprir o requisito de patrulhas de longo alcance, a motorização da nova aeronave fica a cargo de motores turbofans de consumo reconhecidamente mais econômico que os turbojatos, os Soloviev/Aviadvigatel D-30F6 (que impulsiona aeronaves comerciais soviéticas, como o Ilyushin Il-62 “Classic”) cada um fornecendo empuxo seco máximo 9.270kg aumentando para 15.510kg em regime de pós-combustão.
A principal arma do Foxhound é o grande míssil Bisnovat “R-33” (NATO “AA-9 Amos”) de guiagem por radar ativo, da mesma classe e muito parecido visualmente com o Hughes AIM-54 Phoenix usado no Grumman F-14 Tomcat, o que levou algumas fontes a sugerirem que o R-33 é na verdade, em menor ou maior grau, uma cópia do Phoenix, com os detalhes do projeto obtidos de amostras do Phoenix repassadas ao Irã após a Revolução Islâmica naquele país. O MiG-31 poderia transportar quatro R-33s em recessos sob a fuselagem, em um arranjo semelhante ao usado pelo Tomcat para transportar seus AIM-54. Para o lançamento, um R-33 é baixado em dispositivo acionado hidraulicamente. Todos os quatro mísseis podem ser lançados em salva, cada um buscando um alvo individual.
O Foxhound tem quatro pilones sob as asas, embora aparentemente os primeiros exemplares tivessem apenas dois, que poderiam ser usados para transportar os R-40TM/AA-6 Acrid de médio alcance ou os R-60M/AA-8 Aphid de curto alcance. Uma das configurações típicas era de quatro R-33s sob a fuselagem e dois ou quatro R-60s sob as asas, ou três R-33s sob a fuselagem, a quarta posição sendo ocupada por um pod controlador para dois R-40s sob as asas.
Um tanque externo de 2.500 litros pode ser transportado por cada pilone externo. Apesar de ser um sistema de armas notavelmente para combates BVR, o MiG-31 aproveita-se das já mencionadas LERX para combater a curtas distâncias, o que é demonstrado pelo fato de a aeronave ser armada com um canhão Gryazev Shipunov GSh-6-23 de seis canos e 23 milímetros montado em uma carenagem logo atrás da porta do seu trem de pouso principal direito. O canhão tem cadência de 8.000 tiros por minuto, estando carregado com 260 projéteis.
Os aviônicos foram significativamente melhorados. O sensor principal era o SBI-16 (S-800) “Zaslon” (NATO “Flash Dance”) de varredura eletrônica, o primeiro sistema deste tipo a equipar uma aeronave de combate, com cobertura de 120 graus; alcance máximo de detecção de 210 quilômetros e alcance máximo de rastreamento de 120 quilômetros. O radar podia rastrear dez alvos e engajar quatro deles ao mesmo tempo, com os alvos priorizados pelo computador de missão do interceptador. Um IRST TP-8 semi-retrátil também foi instalado como sensor passivo, com alcance de 40km. Ambos foram conectados a um computador digital de controle de fogo Argon-15.
Embora o MiG-31 fosse projetado para operação autônoma, também poderia ser direcionado semi-automaticamente pela rede de orientação automática baseada em solo AK-RLDN, usando o da aeronave e o link de comando Raduga-Bort MB. O datalink digital APD-518 lhe daria conexão com uma aeronave AWACS Ilyushin A-50 “Mainstay” ou com outras aeronaves (incluindo MiG-23/25/29 Su-27/30), bem como permitiria que esquadrilhas de quatro MiG-31s cooperem sob o controle de um líder, cobrindo uma faixa de espaço aéreo de 900 quilômetros de largura. O líder de vôo poderia direcionar seus três companheiros para alvos específicos sob silêncio eletrônico.
O MiG-31 apresentava outros aviônicos aprimorados, incluindo rádios atualizados; RHAWS SPO-15; e particularmente um sistema de navegação NK-25, com receptores para o sistema de rádio navegação de médio alcance Tropik, similar ao LORAN norte-americano, e o sistema de rádio navegação de longo alcance Marshrut , similar ao Omega dos EUA. Uma das motivações para tal extenso equipamento de navegação era permitir que o Foxhound patrulhasse profundamente o espaço aéreo do Ártico em busca de aeronaves lançadoras de mísseis de cruzeiro. Voos de teste incluíram surtidas nas profundezas do Ártico, incluindo uma que sobrevoou o Pólo Norte em 1987.
As versões do Foxhound
Em 1985, a segurança soviética prendeu Adolf Tolkachev, chefe do escritório de design de radar Phazotron, por repassar segredos para o Ocidente. Descobriu-se que desde o fim dos anos 1970 Tolkachev havia comprometido os sistemas de radar da maioria das aeronaves de combate de primeira linha da URSS. No ano seguinte Tolkachev foi executado, mas o estrago já estava feito: o radar do MiG-31 havia sido comprometido, permitindo que fosse neutralizado por meio de contramedidas.
Apesar disso, o MiG OKB já vinha trabalhando em melhorias para o Foxhound e surgiu com uma nova variante da aeronave, o “MiG-31B”, que apresentava um novo radar Zaslon com alcance aprimorado e contra-contramedidas, bem como outros aviônicos atualizados, incluindo processadores digitais modernizados; além de suporte aprimorado para os mísseis R-33S de ogiva nuclear e a instalação do receptáculo de reabastecimento em voo como equipamente padrão.
O MiG-31B entrou em produção em 1990. A fábrica de Gorkiy atualizou muitos MiG-31 de produção inicial para o mesmo padrão, com essas máquinas recebendo a designação “MiG-31BS”.
Houve várias modificações e variantes menores e propostas do Foxhound. Um dos primeiros MiG-31 foi usado para tarefas de teste no centro de voo de Zhukovsky e recebeu a designação de “MiG-31LL”, o “LL” significa “letuchaya laboritoriya (laboratório voador)” – um sufixo comum para aeronaves de teste soviéticas.
Sob o programa “Kontakt” (contato), dois MiG-31s especializados foram construídos em 1987 como portadores de um míssil antissatélite (ASAT) 79M6, imitando um programa ASAT contemporâneo dos EUA que usava um McDonnell Douglas F-15. Esses dois Foxhounds, designados MiG-31D, apresentavam pontas de asas verticais triangulares, como aquelas instaladas em alguns protótipos do MiG-25, neste caso destinadas a fornecer estabilidade de voo aprimorada na atmosfera rarefeita das grandes altitudes para lançamentos de mísseis. Um único grande míssil seria transportado sob a fuselagem, e um radar especial voltado para cima e um sistema de controle de fogo de interceptação associado seriam instalados nas máquinas de produção. O programa foi suspenso na década seguinte, para ser ressuscitado no final da mesma como a proposta “MiG-31A”, com a aeronave sendo usada para lançar um pequeno satélite com carga útil de até 100 quilos em órbita, em vez de um Interceptador ASAT.
Este programa também não avançou, mas em 2005 uma colaboração de organizações russas e cazaques anunciou que um programa para realizar lançamentos espaciais com o MiG-31 havia sido iniciado com o apoio dos governos de ambos os países. Um propulsor de combustível sólido denominado “Ishim”, em homenagem a um rio que atravessa a Rússia e o Cazaquistão, seria projetado e construído como parte do programa, com o Ishim capaz de colocar um satélite de 160 kg em órbita baixa da Terra.
O MiG OKB exibiu uma variante de caça multifuncional do MiG-31B no Paris Air Show em 1995. Esta máquina foi designada como “MiG-31F”, com “F” significando “frontovoy” (“tático”), sendo equipada para o lançamento de armas ar-superfície, particularmente para a função SEAD.
O MiG OKB propôs um interceptador “MiG-31E” para o mercado de exportação, que era essencialmente um MiG-31B com aviônicos rebaixados do padrão. Um ou dois protótipos foram construídos. A organização MiG apresentou propostas aprimoradas de exportação, mas assim como no caso do MiG-31F, o MiG-31E não atraiu compradores.
MiG-31BM e MiG-31K, as mais novas versões do Foxhound
Atualmente, as mais novas versões do Foxhound são a MiG-31BM e a MiG-31K. O MiG-31BM foi revelado em janeiro de 1999 como uma versão atualizada do já mencionado MiG-31B, que só entraria oficialmente em serviço com a então Força Aérea da Federação Russa (hoje redesignada Força Aeroespacial da Federação Russa) em outubro daquele ano.
O MiG-31B “58” foi o primeiro MiG-31BM, iniciais em russo para “Grande Modernização”. Mudanças na direção do projeto determinaram que ele reaparecesse dois anos depois, embora a aeronave só voasse pela primeira vez em 2005, seguido por mais dois exemplares (“59” e “60”), que completaram o conjunto de alterações do modelo BM, que deviam ser aplicadas a 125 exemplares do MiG-31B entre 2007 e 2018.
Os dois primeiros MiG-31BM concluídos foram entregues em 2008 para a conversão inicial de tripulantes.
O seu sistema de controle de fogo, “Zaslon-AM”, é composto pelo radar aperfeiçoado 8BM de varredura eletrônica passiva, computador Baget 55-06-08 e rastreador de infravermelho 8TK, também presente no MiG-31B, este sendo o dispositivo primário de detecção de alvos, permitindo que a tripulação do “Foxhound” somente acione o seu radar quando julgar necessário. Considerando o ambiente do Ártico, onde a emissão de radiação infravermelha destaca-se em meio às temperaturas extremamente baixas, o emprego do 8TK confere uma vantagem considerável ao MiG-31BM.
O radar 8BM, do tipo Doppler e alta frequência de repetição de pulso, com ângulo de varredura em azimute de ± 60 graus e elevação de ± 35 graus, possui alcance máximo de 320 km e capacidade de rastrear, detectar, identificar e acompanhar exclusivamente alvos aéreos a 280km (no total de 24 e a seguir e atacar oito deles ao mesmo tempo). Seus modos operacionais incluem capacidade de neutralização de alvos nos hemisférios dianteiro, traseiro, acima (look up) e abaixo (look down) da altitude de voo da aeronave; iluminação e transmissão de rádio-correção da trajetória dos alvos aéreos com comandos para controlar mísseis semiativos; identificação amigo/inimigo; operação sob contra-contramedidas eletrônicas e ataque por medição das coordenadas de um interferidor (jammer).
O MiG-31BM também recebeu uma nova suite de guerra eletrônica, a Kret L370K1 “Vitebsk”, um equipamento já instalado ou em previsão de equipar uma variada gama de aeronaves como os helicópteros Mil Mi-8 “Hip”, Mi-26 “Halo”, Mi-28 “Havoc”, Kamov Ka-52 “Hokum-B” e os transportes Antonov An-72 “Coaler”, An-124 “Condor”, Ilyushin Il-76/476 “Candid”, Il-78 “Midas” e Il-112V.
O equipamento permite o rastreio, a identificação e acompanhamento de ameaças que resultem em misseis disparados dentro de um raio de centenas de quilômetros, sejam guiados por calor ou laser, o que em seguida vai determinar a contramedida ativa a ser acionada. Seu principal subsistema é o interferidor digital L-370-3S, projetado para destruir misseis guiados a laser e por infravermelho.
Com relação ao seu armamento, o MiG-31BM conservou o canhão GSh-6-23. Em adição ao seu canhão, o novo “Foxhound” pode ser armado com os seguintes mísseis: quatro Vympel K-37M/RVV-BD (AA-13 “Arrow”/”Axehead”/”Andi”), que possuem sistema de guiagem por comandos de rádio/inercial e depois por radar ativo, alcance de até 398 km contra alvos voando entre 15 e 25.000 metros de altitude e manobrando a 8G’s, a serem destruídos por sua ogiva de 60kg detonada por proximidade ou por contato direto; quatro (ou dois) Vympel K-77-1/R-77-1 (AA-12 “Adder”), com o mesmo sistema de guiagem do K-37M, mas alcance entre 300 metros e 110 km, contra alvos voando em todas as direções, entre 20 e 25.000 metros de altitude e manobrando a até 12G, a serem destruídos por sua ogiva de 22.5kg detonada também por proximidade a laser e contato direto; e, finalmente, quatro (ou dois) Vympel R-73 (AA-11 “Archer”), guiados por radiação infravermelha emitida pelo alvo, com alcance entre 300 metros (contra alvos no hemisfério traseiro) e 30.000 metros (alvos no hemisfério dianteiro), contra alvos voando entre 20 metros e 20.000 metros de altitude, manobrando a até 12G, a serem neutralizados por sua ogiva de 8 kg, detonada por proximidade a laser ou radar.
Em comparação ao MiG-31B do qual é derivado, o modelo BM tem comprimento maior (22.67m contra 21.62m), altura menor (6.10m contra 6.50m) e peso máximo de decolagem mais elevado (48.200kg contra 46.750kg). Mas ambos mantêm os dados de desempenho: velocidade máxima de 3.000km/h (Mach 2.83) em grande altitude e 1.500km/h (Mach 1.22) ao nível do mar. As duas aeronaves podem atingir e sustentar velocidade supersônica de cruzeiro de 2.500km/h (Mach 2.35) voando a 18.000m e cobrindo uma distância de 720km ou 900km/h (Mach 0.73) deslocando-se a 10.000m por uma distância de 1.450km. Com dois tanques subalares o “Foxhound-B” tem alcance de 3.000km, que pode ser ampliado para 5.400km com um reabastecimento em voo. O teto operacional é superior a 25.000m.
Quanto ao MiG-31K, um protótipo para o projeto foi convertido de um MiG-31B ou MiG-31 (izdeliye 01DZ) codificado como “06 Red”, fazendo seu primeiro voo em 31 de maio de 2006 com uma tripulação RSK MiG (piloto Mikhail Belyayev e WSO Stanislav V. Gorbunov). A aeronave tinha um par de cabeças de pitot em forma de L sob o nariz logo atrás do radome e duas antenas dorsais circulares de tamanho desigual. A antena maior montada próxima da entrada de ar era para o receptor PPA-5/V-4 SATNAV/LORAN, enquanto a pequena antena à frente do para-brisa da cabine era para o A-737 SATNAV/GLONASS. Os pilones de canhão e asa foram excluídos, mas os racks ejetores AKU-410 foram mantidos.
O protótipo MiG-31B de propriedade da RSK MiG, “592 Blue” (c/n N38400160188, f/n 01-5902) também foi convertido sob o programa MiG-31K; foi esta aeronave que estrelou o vídeo acima mencionado. Mais tarde, dez MiG-31BMs em serviço codificados de “89 Red” a “93 Red” e “95 Red” a “99 Red” foram convertidos para o padrão MiG-31K, iniciando a avaliação operacional no 929º GLITs em 1º de dezembro de 2017. Aqui, o a situação foi invertida: os racks ejetores foram excluídos, tornando o MiG-31K incapaz de carregar AAMs, mas o canhão foi mantido.
Em 9 de maio de 2018, a nova versão fez sua estreia pública quando os MiG-31Ks “92 Red” e “93 Red” carregando mísseis Kinzhal participaram do desfile anual do V-Day. Em meados de julho de 2018, os dez MiG-31Ks haviam registrado mais de 350 voos e mais de 70 com reabastecimento em voo.
Em abril de 2018, os MiG-31Ks começaram a patrulhar rotineiramente o Mar Negro e o Mar Cáspio como parte dos testes de serviço do Kinzhal, derivado do sistema superfície-superfície Iskander.
Eles precisavam de novos equipamentos de bordo em conexão com o “retreinamento” de um interceptador para um vetor de ataque. O radar foi removido do avião. Seu suprimento de combustível aumentou, o que permitiu aumentar o tempo de patrulha. A cabine foi redesenhada – sistemas para controlar novas armas foram instalados lá. Além disso, novos equipamentos de comunicação foram necessários para receber sinais de designação de alvo.
As características gerais e de peso do míssil levaram ao fato de que o centro de massa da aeronave mudou, ou seja, o MiG-31K se comporta de maneira um pouco diferente em voo do que um interceptador convencional. Por conta disso, foi necessário mudar o método de uso em combate e principalmente treinar os pilotos para decolar e pousar com um “produto” suspenso sob a fuselagem.
A aeronave tem peso vazio de 21,545 kg, peso de decolagem de 41,947 kg com o míssil acoplado e um raio de combate de 600 km; o raio de combate geral do sistema de armas é de 2.000 km.
Emprego operacional do MiG-31 Foxhound
Sendo um sistema de armas altamente especializado que iniciou a sua vida operacional ainda durante a existência da União Soviética, boa parte dos detalhes operacionais do Foxhound permanece em segredo, embora saiba-se por exemplo que de acordo com documentação oriunda de ex-tripulantes e compartilhada com o autor desse texto e bem ao contrário da crença generalizada, não foram poucas as vezes em que tripulações de MiG-31 interceptaram com sucesso aeronaves Lockheed SR-71A “Blackbird”, que só não foram abatidas porque tais tripulações não foram autorizadas a fazê-lo.
Mais recentemente, há relatos de emprego real do MiG-31K no conflito com a Ucrânia, no qual mísseis Kinzhal atingiram alvos adversários importantes, bem como existem informações de que o tipo abateu aeronaves ucranianas em combate aéreo.
Um total de 505 MiG-31s foi construído pela fábrica em Gorkiy até 1994.
*Bacharel em Ciências Aeronáuticas (Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL), pós-graduado em Engenharia de Manutenção Aeronáutica (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG). Colaborador de Conteúdo da Shephard Media. Colaborador das publicações Air Forces Monthly, Combat Aircraft e Aviation News. Autor e co-autor de livros sobre aeronaves de Vigilância/Reconhecimento/Inteligência, navios militares, helicópteros de combate e operações aéreas