Eram 18h40 do dia 5 de julho de 2016 quando os pilotos do JAMBOCK 06 (um F-5FM matrícula FAB 4806) acusaram emergência pelo rádio. A aeronave estava na reta final para pouso na Base Aérea de Santa Cruz (RJ). Por uma pane hidráulica no trem de pouso o caça biposto não teria condições de pousar em segurança. Ambos os pilotos fizeram aquilo que teria que ser feito. Acionaram o assento ejetável e abandonaram a aeronave. O F-5FM planou até atingir o solo de forma bastante suave. Não muito distante do caça, os dois pilotos desceram em segurança e foram resgatados. O principal estava salvo. Bastava saber se o equipamento poderia ser recuperado.

Fazendo uma pequena pausa nessa história, é interessante olhar para outro caso semelhante, ocorrida em outro país e em outra época. Corria o ano de 1963 e um dos novíssimos Mirage IIIC da Força Aérea Israelense apresentou falha de motor na reta final para pouso na Base Aérea de Hatzor. Sem outra opção, o piloto do caça ejetou-se em segurança. Por obra do acaso o Mirage pousou suavemente (ver foto abaixo) e foi recolhido para avaliações. Toda essa história, em detalhes, foi narrada pelo próprio piloto – Han “Pecker” Ronen – em seu livro de memórias. Os israelenses não só acabaram identificando o motivo da falha no motor (que nem mesmo o fabricante conhecia) como recuperaram a aeronave para lutar em futuras guerras. Ao final de sua história, o “Shahak 53” ainda abateu cinco caças inimigos!

Voltando ao caso do nosso F-5FM FAB 4806, fotos divulgadas pouco depois do acidente mostraram a aeronave resgatada e dentro de um hangar (ver imagem abaixo). Visualmente o avião  parece ter sofrido poucos danos externos, o que gerou expectativas de que pudesse ser recuperado e voar depois dos reparos.

Encontramos o FAB 4806 no hangar de manutenção dos F-5 do PAMA-SP neste domingo (16/10). Tal como o caso do Mirage IIIC israelense, o 4806 até poderia ter sido recuperado – aparentemente. Mas aqui cabe algumas diferenças entre os dois casos. Os Mirages israelenses eram aeronaves novas. Não só eram apenas as mais avançadas da FAI, como também eram mais avançadas de toda a região, na época. Aliás, naqueles anos a região estava à beira de mais uma grande guerra (havia conflitos de fronteira por disputa das águas do Rio Jordão, mas isso é uma outra história), que viria a ocorrer quatro anos depois, a Guerra dos Seis Dias, e o Mirage seria a estrela dela. Cada avião contava e, por esse motivo, os israelenses gastaram o equivalente a meio milhão de dólares para recuperar o Shahak 53. Cabe destacar que um Mirage novo na época custava algo próximo de um milhão e meio de dólares. Ou seja, foi preciso investir 1/3 do preço de um caça novo para recuperar o acidentado.

O F-5EM é o principal caça da FAB, equipando esquadrões em Santa Cruz, Canoas e Anápolis, havendo quantidade razoável em operação para três esquadrões, mas o número de aviões do modelo biposto, F-5FM, necessário para cumprir parte da transição operacional, é reduzido. O fato é que a FAB resolveu não recuperar o F-5FM e estampou na sua fuselagem frontal um aviso em letras garrafais: “EM PROCESSO DE ALIENAÇÃO” (ver imagem abaixo).

Não foram dados mais detalhes, mas não é preciso fazer grandes esforços para entender que o F-5EM/FM é uma aeronave próxima do fim do seu ciclo operacional. A frota está com os anos contados, em plena diagonal de desativação, pois já existe um substituto a caminho, o Gripen, com alguns caças já no Brasil e prestes a iniciar a operação em esquadrão, além de mais entregas (ainda que lentas) pelos próximos anos.

E você? Na sua opinião, se você tivesse condições de decidir sobre o assunto, investiria na recuperação de um caça biposto de mais de 30 anos? Seria oportuno recuperar o FAB 4806?

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