O Programa de Drones da República Islâmica do Irã
Rodolfo Queiroz Laterza[1]
Ricardo Cabral[2]
1 – INTRODUÇÃO
Recentemente, a mídia mundial divulgou a notícia de que o Irã supostamente fornecerá alguns de seus modelos de Unmanned Aerial Vehicle (UAV) à Rússia. Algum tempo depois, o Ministério das Relações Exteriores do Irã negou essa afirmação, porém emergiu amplo debate e até surpresa de certos segmentos políticos e militares sobre a República Islâmica do Irã ter condições tecnológicas de desenvolver um programa de drones requisitado por uma potência militar mundial normalmente associada à exportação e não importação de tecnologias militares.
A versão sobre a compra ou transferência de drones de combate iranianos para as necessidades das Forças Armadas Russas foi anunciada por Jake Sullivan, Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA às vésperas da visita de seu chefe ao Oriente Médio e instantaneamente causou um rebuliço sem precedentes em várias publicações militares tanto no Ocidente quanto no Oriente. O próprio fato de que a Rússia, que muito raramente compra armas no exterior, trouxe um forte impacto de avaliação política e estratégica não restrito aos desdobramentos na Guerra da Ucrânia.
O Irã é uma potência militar regional, muito focada no desenvolvimento de capacidades assimétricas perante países adversários, superada militarmente pelos EUA. e seus parceiros regionais em termos de gastos militares e pessoal. Os armamentos convencionais do Irã são qualitativamente inferiores e desatualizados, com sanções e um embargo internacional limitando o acesso do Irã a tecnologias críticas e à utilização de todo potencial de capacidade para adquirir sistemas atualizados ou acompanhar as mais recentes inovações tecnológicas nos campos como defesa aérea e antimísseis.
A elite política e militar iraniana reconhece que seria um desperdício de seus recursos buscar a paridade militar com seus inimigos apoiados pelos EUA e, assim, adotando para isso medidas de baixo risco e custo-benefício para maximizar suas vantagens quando se trata de estruturar sua defesa nacional e difundir os interesses geopolíticos da República Islâmica. Uma arena assimétrica onde o Irã gastou investimentos consideráveis é na área UAVs, popularmente denominados como drones, dando ao Irã um meio adicional de projeção de poder letal a baixo custo.
O Irã também está fornecendo sistemas UAV para seus representantes que atuam em nome de Teerã, aprimorando ainda mais sua capacidade de ameaçar os EUA e seus aliados. De acordo com uma avaliação da CIA, de novembro de 2019 sobre a força militar do Irã, “os UAVs são a capacidade aérea de avanço mais rápido do Irã.” Os UAVs servem para duas funções militares primárias – vigilância e ataque.
As capacidades do Irã em ambos continuam a crescer, estimuladas pelo aumento do investimento em fabricação de drones domésticos e avanços tecnológicos, e por inovações acessíveis no mercado de drones comerciais. Os iranianos tem a expectativa que os drones ajudarão o Irã a compensar falhas no reconhecimento aéreo e são usados pelas forças armadas do Irã e pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) para aplicações de inteligência, vigilância e reconhecimento (Intelligence, Surveillance and Reconnaissance, ISR).
Na última década, o Irã também acelerou seus esforços para desenvolver sistemas UAV armados e também para transformar seus drones ISR em plataformas versáteis com capacidades integradas ou de ataque suicida (drones kamikaze). Em conjunto com seu arsenal de mísseis, os drones compensam a falta de capacidades convencionais de ataque aéreo de longo alcance e o Irã usou UAVs em ataques à distância da área de lançamento tanto ofensivos quanto defensivos.
Os UAVs iranianos foram usados ativamente apenas pelo IRGC, formações pró-iranianas na Síria, a organização xiita libanesa Hezbollah e militantes do grupo iemenita Ansar Allah (Houthis). Estes últimos, aliás, são extremamente eficazes no uso de drones iranianos contra a Arábia Saudita. Em 2019, os Houthis usaram drones para atingir uma das maiores refinarias de petróleo primárias do mundo, de propriedade da Saudi Aramco. Embora os sauditas tenham conseguido reparar rapidamente os danos, a produção de petróleo foi reduzida pela metade e o mercado sofreu a maior aumento do preço do petróleo brent, desde 1991. No momento, os UAVs iranianos são comprados pela Etiópia e Venezuela e, provavelmente agora pela Rússia.
Recentemente, os drones na Rússia aumentaram significativamente de preço, devido ao aumentos dos custos que variam de 30% a 200%, dependendo do componente. O motivo foi a empresa chinesa DJI, que ocupa 90% do mercado de “drones de consumo”, ter interrompido as entregas para a Rússia. Outro motivo foi o fato de que uma parte significativa dos UAVs é comprada por particulares para ajudar as forças das Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk.
Deve-se notar que recentemente na Ucrânia, começaram a usar UAVs comerciais adaptados para necessidades militares, comprados na China, no site Alibaba. Os países da OTAN estão retendo as entregas dos drones prometidas devido ao fogo da defesa aérea russa.
Vários analistas militares consideram os drones iranianos melhores que os russos em versatilidade e eficácia em combate. Ao contrário da Rússia, os UAVs são produzidos em massa no Irã e existem muitos tipos diferentes de dispositivos. Além disso, eles foram testados em batalhas no Iêmen e na Síria com bastante eficiência.
À medida que suas forças de drones cresceram em sofisticação, eles fornecem ao Irã a capacidade de realizar ataques com precisão. Ainda assim, os drones são considerados uma extremidade inferior no conjunto amplo de ameaças enfrentadas pelos EUA e seus parceiros, especialmente devido aos recentes avanços na defesa aérea e antimísseis. A ameaça aumenta, no entanto, à medida que os drones do Irã se tornam cada vez mais sofisticados e continuam a desenvolver enxames de drones e ataques combinados de drones e mísseis de cruzeiro ou balísticos em um esforço para sobrecarregar os sistemas de defesa aérea.
O desenvolvimento e produção de UAVs tornou-se um foco importante da estratégia de defesa assimétrica do Irã. O país fez progressos notáveis na criação de veículos aéreos não tripulados e sua exportação fortaleceu a posição da República Islâmica no confronto regional com os Estados Unidos e aliados americanos.
Os UAVs iranianos, portanto, buscam compensar, parcialmente, as fragilidades e limitações das suas forças armadas, tendo em vista que seu poder aéreo é baseado em sistemas envelhecidos. Os UAVs não substituem as aeronaves tripuladas, mas dão ao Irã alguma capacidade de combate. Em termos de influência regional mais ampla, os UAVs permitem que o Irã forneça recursos para seus parceiros regionais e amplifique as ameaças.
Os drones têm inúmeras vantagens sobre as plataformas de ataque tripulado. A partir dos anos 2010 os iranianos passaram a conjugar missões ISR com ataques furtivos. Os Unmanned Combat Aereal Vehicle (UCAV) e UAV são menos dispendiosos de construir e manter do que aeronaves de combate tripuladas e têm menos custos associados ao treinamento.
O Irã tem lutado para obter peças para manter sua força aérea envelhecida devido a sanções internacionais. Apesar dessa dificuldade conseguiu desenvolver capacidades no desenvolvimento e construção de drones como muitos dos sistemas, peças e equipamentos para UAVs, que estão disponíveis comercialmente e incluem inúmeras tecnologias com duplo uso civil-militar. Os drones podem ter maior autonomia de voo e manobrabilidade, além de serem mais furtivos do que as aeronaves de combate.
O analista militar Samuel Bendett, do think tank Center Naval Analyses, explicou que a Rússia está fazendo a coisa certa ao escolher o Irã como um fornecedor urgente de drones. Ele disse: “Nos últimos 20 anos, o Irã vem aprimorando seus drones de combate, o que não pode ser dito sobre os russos. Os persas são os pioneiros das chamadas “munições soltas”, drones kamikaze como o Switchblade que os EUA forneceram à Ucrânia”.
Com relação aos drones iranianos, há uma variedade de avaliações. Os especialistas americanos Thomas Newdyk e Tyler Rogoway sugerem que os drones russos recém-desenvolvidos, incluindo drones de ataque, são muito melhores que os iranianos. O problema é que a indústria de defesa russa enfrenta a escassez de peças ocidentais que antes eram comprados no exterior. E a substituição de importações leva tempo, enquanto os UAVs são necessários “agora”.
“Dado que o Irã vem criando sua própria indústria aeroespacial há muitos anos sob as condições de sanções e severas restrições às importações, a produção em massa de seus drones não depende de suprimentos estrangeiros, ao contrário do complexo militar-industrial russo. De fato, o Irã pode se tornar uma fonte importante de vários tipos de drones para a Rússia, já que Moscou continua sofrendo o duplo impacto de duras sanções e problemas globais na cadeia de suprimentos”, dizem esses analistas.
2 – HISTÓRICO DO IRÃ NA TECNOLOGIA DE DRONES
O fato de o Irã ter sido um dos primeiros a adotar drones não é surpreendente. Os xiitas, de modo geral, em comparação com os sunitas, são mais receptivos em relação às inovações e foram rápidos em aplicá-las em casa. Por exemplo, o Irã foi um dos primeiros países muçulmanos a desenvolver a transmissão de rádio e televisão, enquanto seus vizinhos emitiram uma fatwa após a outra sobre a incompatibilidade de novas tecnologias com o Islã.
Os drones iranianos chamaram a atenção de analistas militares na guerra na Síria, mas, na verdade, o programa de drones tem uma longa história e é um dos mais antigos do mundo. Após a Revolução Islâmica (1979), quando extremistas islâmicos iranianos fizeram os funcionários da embaixada americana reféns, encerrou qualquer possibilidade de importações de armas dos Estados Unidos. Outro fato foi a inconclusiva Guerra Irã-Iraque (1980-1988), na qual nenhum dos lados conseguiu a vitória. Estes eventos levaram os iranianos a priorizar as necessidades da defesa e o contexto regional.
Durante a guerra com o Iraque, os primeiros UAVs iranianos foram produzidos, como por exemplo, veículos de reconhecimento Mohajer-1, os quais receberam seu batismo de fogo. Segundo fontes iranianas, durante essa guerra, o primeiro drone kamikaze iraniano, o Ababil-1 foi desenvolvido e colocado em produção.
Após a “guerra imposta” (como é chamada no Irã), na qual o Iraque teve apoio de países como a China, Arábia Saudita, Estados Unidos e União Soviética, os iranianos consolidaram a ideia de que o mundo seria refratário a qualquer cooperação maior com a república islâmica, principalmente, na área de tecnologia militar. Este contexto exigia que Teerã desenvolvesse suas próprias tecnologias e concentrasse seus recursos em sistemas que gerassem vantagens comparativas no campo de batalha, como os drones.
Os eventos de 1980-1988, marcam o renascimento da indústria militar iraniana, baseada na auto suficiência quase completa. Por causa das pesadas sanções, o Irã percebeu que não seria capaz de competir com os projetos militares multibilionários dos países ocidentais ou mesmo com seus vizinhos árabes, muitos dos quais já haviam combinado suas capacidades fundando alianças como a GCC (Conselho de Cooperação para os Estados Árabes do Golfo Pérsico).
Portanto, em vez de equipamentos militares importados caros, o Irã se concentrou no desenvolvimento de seus próprios equipamentos, por exemplo: em vez de grandes navios de guerra, os iranianos desenvolveram barcos militares de alta velocidade, que, embora bastante primitivos, levaram a Marinha dos EUA a desenvolver táticas contra os “gafanhotos do mar”. Ao mesmo tempo, os iranianos decidiram que os drones deveriam se tornar a principal força de ataque e, ao mesmo tempo, a substituir as aeronaves militares tripuladas.
A produção de drones no Irã é realizada principalmente pela Organização das Indústrias de Aviação Iraniana e pela Quds State Aerospace Company. Ambas as empresas estão intimamente associadas ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (Islamic Revolutionary Guard Corps, IRGC), uma força de elite iraniana cujas atividades são mantidas em sigilo. No entanto, sabe-se que os especialistas iranianos não conseguiram eliminar completamente a dependência de suprimentos do exterior. Por causa das sanções, eles não recebem os equipamentos necessários diretamente, mas por meio de empresas de fachada ou pessoas com dupla cidadania. Em 2014, as autoridades alemãs prenderam Ali Rizu, de 63 anos, com cidadania iraniana-alemã, que no total conseguiu revender equipamentos técnicos para o Irã no valor de US$ 584 mil, e isso está longe de ser o único caso.
O Irã tem uma abordagem de duas vias. Dentro das forças armadas convencionais, os UAVs cumprem funções operacionais tradicionais – como inteligência, vigilância e reconhecimento – em uma variedade de alcances, dependendo do veículo e dos sensores a bordo. Alguns dos UAVs também carregam armas. Muitos dos UAVs iranianos parecem ser operados pela Guarda Revolucionária, embora o Exército e a Marinha também tenham implantado drones a partir de 2021. O IRGC também fornece esses sistemas, juntamente com as habilidades de design e fabricação, para seus proxies regionais, o que oferece ao Irã uma negação plausível ou não sobre ligação com ataques de seu parceiros. Os Houthis no Iêmen, o Hamas em Gaza e as Forças de Mobilização Popular no Iraque usam UAVs ou munições de ataque direto (também conhecidas como drones suicidas ou kamikaze) de fabricação iraniana.
3 – EXEMPLOS DE RECENTES DE DESENVOLVIMENTOS DE DRONES
Refletindo a crescente centralidade dos UCAVs na doutrina militar iraniana, o IRGC criou uma divisão dentro de suas forças terrestres dedicadas a drones. Em abril de 2020, o comandante da divisão de drones do IRGC, Akbar Karimloo, deu uma entrevista detalhada ao Tasnim News sobre as capacidades do UCAV do Irã. Na entrevista, Karimloo afirmou sua crença de que “espera-se que os UAVs sejam a melhor arma e sistema no futuro e a serviço das forças armadas do mundo também como as forças armadas do nosso amado país. Com o menor custo e perda, informações valiosas podem ser obtidos das áreas operacionais no menor tempo possível.” Karimloo observou que o avanço do Irã capacidades de vigilância de drones melhoraram muito sua coleta de inteligência, fornecendo imagens de topografia e posições inimigas para satélites tradicionais.
A partir da análise de sua entrevista, chegamos há algumas conclusões: o Irã usa drones para vigilância ao longo de suas próprias fronteiras para monitorar grupos insurgentes e mais longe na “frente de resistência”, conflito zonas como o Iraque e a Síria, onde o Irã tem procurado se entrincheirar militarmente; Teerã busca cada vez mais empregar ataques integrados de drones e mísseis, com os drones desempenhando um papel tanto na vigilância, quanto na seleção de alvos e ataque. Outra conclusão da entrevista foi que o Irã continua investindo em treinamento e tecnologia de comunicação para continuar avançando em seu programa UCAV buscando melhorar o alcance e a letalidade de seus drones. Não é surpresa, portanto, que o Irã, desde 2019, tenha continuado a apresentar um fluxo de novos sistemas, embora seus sistemas de drones, recentemente anunciados, ainda não terem sido detectados em combate e, portanto, as alegações iranianas sobre suas capacidades ainda não foram verificadas por analistas independentes.
Apesar das dificuldades inerentes a toda uma rede poderosa de sanções econômicas e tecnológicas, os iranianos conseguiram desenvolver um arsenal bastante sério de veículos aéreos não tripulados. O primeiro protótipo, como mencionado, foi o drone Ababil, batizado em homenagem a um bando de pássaros que, segundo o Alcorão, derrubou uma pilha de barro queimado sobre as tropas do comandante etíope Abrahi, que tentava destruir o principal santuário islâmico da Caaba.
Na versão original, este drone atingia alvos a uma distância de 10 km, por isso foi lançado das lanchas discutidas acima. Especialistas iranianos acreditavam que os pequenos barcos seriam difíceis de serem percebidos pelos radares inimigos e seriam capazes de navegar livremente até os alvos para “desencadear exércitos de pássaros sobre eles”. Em março de 2022, o Irã apresentou uma versão atualizada, o Ababil-5, que tem alcance de 480 km e pode transportar simultaneamente até seis bombas e mísseis.
Nos primórdios da indústria iraniana, foi desenvolvido o Mohajer, um drone de vigilância cujo nome também se refere ao Islã e está associado aos Mohajirs, muçulmanos que, no tempo de Maomé, se mudaram de Meca para Medina com o profeta. Novas modificações do Mohajer estão sendo introduzidas, eles podem voar a uma altura de 5,4 km e tem autonomia de 12 horas, e também são capazes não apenas de observar, mas também de atacar. Em 2014, o Irã afirmou que o Mohajer poderia derrubar helicópteros, caças e mísseis de cruzeiro. Os iranianos estão tão orgulhosos deste drone que em 1990 fizeram o filme “Mohajer“, que contava a história da criação do UAV na República Islâmica.
Os primeiros veículos aéreos não tripulados iranianos eram modelos relativamente simples, controlados por rádio, de curto alcance, mas a liderança política e militar iraniana percebeu a tempo o potencial de dissuasão dos UAVs. Portanto, após o fim da guerra em 1988, o financiamento para o desenvolvimento de UAVs e UCAVs continuou. Já na primeira metade dos anos 2000, o Irã teve uma produção desenvolvida de vários UAVs, como os veículos de reconhecimento tático produzidos em série Mohajer-2 e Mohajer-4. Já as aeronaves Ababil-2 foram produzidas principalmente como drones alvo e kamikaze, embora também pudessem ser usados como UAVs de reconhecimento baratos.
Foi no início dos anos 2000 que datam os primeiros casos documentados do uso de UAVs por um dos aliados iranianos. Estamos falando do braço armado do movimento xiita palestino-libanês Hezbollah, que usou drones durante o confronto com Israel. Segundo alguns relatos, os UAVs iranianos foram usados na década de 1990, no território do Líbano, quando a parte sul do país foi ocupada por tropas israelenses. Mas os primeiros casos confirmados de uso de UAVs para reconhecimento fora das áreas fronteiriças de Israel datam de 2004-2005.
Durante a guerra entre Israel e Líbano no verão de 2006, de acordo com dados israelenses, três drones kamikaze foram derrubados, pelo menos um dos quais acabou sendo uma variante do Ababil-2 iraniano, também conhecido como Ababil-T.
Os aliados libaneses do Irã receberam veículos de reconhecimento Mohajer-2 e, posteriormente, outros tipos de UAVs de reconhecimento iraniano e drones kamikaze começaram a aparecer no Líbano. Os libaneses até organizaram sua própria montagem de componentes fornecidos pelo Irã.
Na segunda metade da década de 2000, um novo veículo aéreo não tripulado de reconhecimento tático, Ababil-3, foi colocado em produção no Irã. Em breve se tornou um dos drones iranianos mais conhecidos, sendo entregue ao Sudão a partir de 2008, quando começou a ser usado durante conflitos internos sudaneses e foi chamado localmente como “Zagil“.
O UAV de reconhecimento Ababil-3, acima mencionado, tem sido usado pelas forças do governo sírio desde 2012, o mais tardar. Um ano depois, outro UAV de reconhecimento tático iraniano, Yassir, foi ativado, seguido por outros veículos de reconhecimento.
Em setembro de 2012, dois anos após a introdução do Karrar, o Irã apresentou o Shahed-129 (“Testemunha” em tradução do persa), um avanço substantivo em termos do esforço do Irã para desenvolver um UAV de combate capaz de atacar. Até aquele momento, a frota de drones do Irã consistia exclusivamente em aeronaves menores com curto alcance e voo resistência. Isso se deveu em grande parte a sanções e regimes de controle de exportação que impediam o Irã de adquirir componentes de uso duplo tecnologicamente sofisticados para drones maiores e mais letais, como esses componentes dispararia os sinos de alarme. O Irã procurou fabricar tantos de seus drones quanto pudesse no mercado interno e conseguiu os componentes de que precisava, como motores Limbach alemães, de corretores de armas por um markup, ou através de esquemas como o estabelecimento de empresas de fachada que enviariam componentes para a IAIO com etiquetas de envio fraudulentas.
Em 2014, após o agravamento da situação no Iraque, como parte da ajuda ao governo iraquiano na luta contra os terroristas do Estado Islâmico, o Irã forneceu UAVs de reconhecimento para lá. Alguns deles foram posteriormente transferidos para os destacamentos das Forças de Milícia Popular do Iraque (“al-Hashd al-Shaabi”) formadas e treinadas com a ajuda iraniana. Entre esses UAVs estão os iranianos Mohajer-4, Ababil-3, Yassir e outros.
Em 2013, começou a produção em série do primeiro grande UAV de reconhecimento e ataque iraniano – Shahed-129 para o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC). O dispositivo pode transportar até quatro bombas guiadas Sadid pesando 34 kg cada. Em 2014-2015, os Shahed-129 foram enviados à Síria para ajudar as forças do governo, onde foram usados ativamente para reconhecimento e ataques contra terroristas. Os UAVs foram baseados em aeródromos sírios, mas o controle foi exercido pelos oficiais do IRGC, os veículos não foram entregues ao lado sírio.
Em 2012, o Irã alegou ter feito avanços em sua capacidade de produção de motores autóctones, e o lançamento do Shahed-129 em setembro parecia confirmar isso, embora as autoridades iranianas quase certamente exagerou as capacidades do novo drone. O Shahed-129 é um avião de longa altitude de média altitude, sendo considerado tecnicamente como um veículo aéreo de combate não tripulado (UCAV) de resistência (MALE) com combate, inteligência, vigilância e funcionalidade de reconhecimento (CISR). Acredita-se que seja modelado após o Hermes-450 israelense, um drone que o Irã havia afirmado anteriormente ter capturado e feito engenharia reversa.
Oficiais do IRGC gabavam-se que o Shahed-129 tinha um alcance de 1700 km, uma autonomia de voo de 24 horas e era capaz de transportar até oito mísseis ar-terra guiados Sadid. Autoridades do IRGC anunciaram o Shahed-129 como um símbolo dos avanços tecnológicos do Irã na tecnologia UCAV. O drone, projetado pelo Shahed Aviation Industries do IRGC e fabricado pela HESA, entrou em produção em massa um ano depois, e o então então comandante-em-chefe da IRGC, major general Mohammad-Ali Jafari, marcou a ocasião reivindicando que o Shahed-129 demonstrou que o Irã alcançou a autossuficiência em seu UAV setor industrial. “Esta aeronave é uma obra de arte, apenas os EUA tem a capacidade de construir armas de tal tecnologia avaliar. Todas as potências mundiais ficarão impressionadas”, disse Jafari.
O Irã observa que o Shahed-129 é usado adicionalmente para reconhecimento e patrulhamento de seu território e fronteiras marítimas. É conhecido por usar o Shahed-129 para patrulhar ao longo de sua fronteira com o Paquistão, em Sistan e na província de Baluchistão, uma área conhecida pelo tráfico de drogas e lar de um movimento separatista armado. Em 2015, um Shahed-129 caiu no lado iraniano da fronteira com o Paquistão e, em 2017, o Paquistão abateu um Shahed-129 que supostamente cruzou 3-4 km em seu espaço aéreo. O Shahed-129 é hoje a plataforma UCAV mais testada em combate do Irã e um dos únicos sistemas iranianos que tem suas capacidades comprovadas de realizar ataques de mísseis ar-terra. Em dezembro de 2019, a marinha do Irã apresentou o Simorgh, a versão naval do Shahed-129.
Pela primeira vez na região, o Irã também testou drones criados após estudar o RQ-170 americano capturado no final de 2011, de acordo com o esquema de “asa voadora”. Os UAVs de ataque a jato Shahed-191 do Irã receberam seu batismo de fogo, atacando terroristas do Estado Islâmico no leste da Síria no outono de 2018. Em fevereiro do mesmo ano, Israel derrubou uma hélice Shahed-141, que, segundo a versão israelense, tentava contrabandear cargas da Síria para os palestinos na Cisjordânia. O S-191 é alimentado por um motor de micro turbojato que a mídia iraniana afirma ser capaz do UAV atingir até 300 km/h em altitude de 25000 pés, com uma duração de 4,5 horas e um raio de combate de 450 km
O Mohajer é um dos modelos de drones iranianos mais famosos, mas também existem muitos outros construídos com base nos desenvolvimentos ocidentais. Em 2011, um drone furtivo americano RQ-170 caiu sobre o Irã. Acredita-se que os iranianos conseguiram restaurá-lo de alguma forma e, em seguida, desenvolveram vários de seus próprios “drones invisíveis”, incluindo “Shahid-191″ (“shahid” significa “herói”). Esses drones invisíveis ainda foram abatidos várias vezes, por exemplo, na Síria, mas, no entanto, o comandante da Força Aérea de Israel, Tomer Bar, observou que eles são bastante avançados e próximos aos modelos ocidentais.
Em 2019, os UAVs de reconhecimento e ataque iranianos Mohajer-6 foram implantados na Síria, cuja produção em massa no Irã começou em 2018. O Mohajer-6 pode transportar até quatro pequenas bombas guiadas da família Ghaem ou dois mísseis guiados Almar. Muito provavelmente, os operadores iranianos também controlam esses UAVs, mas os drones podem ser transferidos para os sírios, pois, ao contrário do Shahed-129, já são exportados oficialmente pelo Irã para terceiros países.
Por exemplo, em junho de 2021, o Mohajer-6 comprado do Irã apareceu no desfile das Forças da Milícia Popular do Iraque, e os UAVs da família KAS-04 também foram mostrados lá. Esses dispositivos, na versão de um drone kamikaze, em 2021-2022 começaram a ser cada vez mais usados por grupos xiitas pró-iranianos para atacar bases americanas no Iraque e no leste da Síria. Outro tipo de drone kamikaze, aparentemente de design iraniano, está sendo usado contra os Estados Unidos. O nome iraniano original é desconhecido, mas no Iraque é chamado de Murad-5. O corpo deste pequeno UAV é quase inteiramente feito de fibra de carbono para reduzir o peso e reduzir a visibilidade do radar.
Um exemplo ilustrativo é um ataque no final de outubro de 2021, quando cinco drones kamikaze atingiram com precisão vários edifícios na base americana de Al-Tanf, na Síria, perto da fronteira com a Jordânia. O ataque veio em resposta ao fato de que os Estados Unidos permitiram que Israel usasse seu espaço aéreo sobre o sudeste da Síria para atacar alvos na parte central do país. Os Estados Unidos conseguiram evitar baixas entre seus militares apenas porque o ataque era esperado – o lado atacante anunciou planos publicamente, então a maioria do pessoal conseguiu deixar a base.
O RQ-170 Sentinel não é o único drone dos EUA que o Irã afirma ter capturado e posteriormente engenharia reversa. Em dezembro de 2012, o IRGC alegou que capturou um Boeing ScanEagle UAV conduzindo uma missão ISR em seu espaço aéreo sobre a Ilha Kharg, na costa sul do Irã no Golfo Pérsico.
O ScanEagle é um UAV ISR pequeno e de baixo custo com uma envergadura de 10 pés, uma autonomia de voo de 20 horas, e um alcance de mais de 100 km. O IRGC divulgou imagens do drone capturado, que parecia ter sofreu apenas danos mínimos. Por sua vez, a Marinha dos EUA negou ter perdido drones nas últimas missões na região, mas deu a entender que havia perdido algumas nas águas do Golfo no passado. Isso é também possível que o drone capturado pertencesse a um aliado dos EUA, já que os Emirados Árabes Unidos, Canadá e Austrália também usam o ScanEagle e estão ativos no Golfo.
No final do mês, o IRGC alegou que já havia capturou dois ScanEagles adicionais, embora não oferecesse detalhes para apoiar essa afirmação. O IRGC moveu-se rapidamente para engenharia reversa do ScanEagle e afirmou já ter lançou uma linha de produção para fabricar de forma autóctone cópias do ScanEagle.
Menos de um ano depois, em setembro 2013, a Força Terrestre do Exército Iraniano revelou o Yasir, a versão doméstica do ScanEagle no Irã. Um oficial de alto escalão da delegação militar russa participou da inauguração, indicando que o Irã se referiu ao Yasir como um combate drone, e o comandante da Força Terrestre do Exército observou que “um dos recursos do Yasir é a detecção e o direcionamento de alvos remotos.”
O Irã alegou que o Yasir tinha uma autonomia de voo de 8 horas e um alcance de 200 km. Alguns meses depois de sua apresentação, o Yasir foi supostamente visto em uso na guerra civil síria. Acredita-se que o Irã tenha fornecido o Yasir a várias de suas milícias por procuração ativas na Síria e no Iraque, incluindo as formações armadas Katai’b Hezbollah, Harakat Hezbollah al-Nujaba e Katai’b Jund al-Imam.
Falando sobre a disseminação dos UAVs iranianos e suas tecnologias de produção, uma menção especial deve ser feita ao Iêmen. Quando, no início de 2015, o movimento xiita Ansar Allah (Houthis), amigo do Irã, assumiu o poder na capital, a cidade de Sanaa e nas regiões mais densamente povoadas do noroeste do Iêmen, as unidades mais prontas para o combate das forças armadas iemenitas foram para o lado dos rebeldes. No entanto, o Iêmen não tinha aeronaves não tripuladas. Em 2015, com o início da intervenção no Iêmen pelas forças da coalizão liderada pela Arábia Saudita, os houthis tiveram que usar modelos civis simples de drones para reconhecimento.
O Qasef-1, um dos primeiros UAVs Houthi que entraram em serviço no início de 2017, era uma variante do conhecido Ababil-2 iraniano. Mais tarde, uma nova versão apareceu – Qasef-2K. Além disso, de acordo com a Conflict Armament Research, se os primeiros Qasefs foram feitos a partir de kits fornecidos para montagem, a produção adicional já estava parcialmente localizada no Iêmen. Componentes de fibra de vidro foram fundidos no país.
Até onde se pode julgar, a produção de UAVs da família KAS-04, chamada Samad no Iêmen, foi estabelecida de acordo com o mesmo esquema. Peças simples e grandes foram produzidas localmente, componentes eletrônicos foram fornecidos do exterior. Como resultado, os Houthis têm uma família de UAVs com alcance máximo de até 1.500 km para a variante Samad-3 e até 2.000 km para o Samad-4.
Os drones kamikaze Houthi mais poderosos e precisos são os iranianos Shahed-131 e Shahed-136. Esses modelos são relativamente raros nas forças iemenitas, mas de acordo com fontes inúmeras, foi o Shahed-131 que desativou uma das principais instalações da indústria petrolífera saudita em Abqaiq em setembro de 2019. O drone Shahed-136 é considerado uma versão mais avançada, seu alcance chega a 2200 km.
Os drones iranianos estão em demanda não apenas no Oriente Médio. A Venezuela, sob o presidente Hugo Chávez, comprou o UAV Mohajer-2. O dispositivo recebeu o nome espanhol SANT Arpia (UAV “Harpy“) e foi montado no referido país a partir de componentes fornecidos pelo Irã.
Agora a Venezuela está modernizando o Mohajer-2. Parece que o país latino-americano vai comprar os UAVs de reconhecimento e ataque Mohajer-6, possivelmente com a organização de sua produção de montagem na própria Venezuela. Uma das aparições na televisão do presidente Nicolás Maduro foi acompanhada por uma demonstração de um modelo em escala reduzida do Mohajer-6 e, no final de 2021, os venezuelanos mostraram as bombas guiadas iranianas usadas por esses UAVs.
A Etiópia, país que até recentemente não fazia parte do círculo de aliados e parceiros mais próximos do Irã, também se tornou comprador do Mohajer-6 em 2021. Contra o pano de fundo de uma difícil guerra civil com rebeldes da Frente de Libertação Popular Tigray e outros grupos separatistas, o governo etíope começou a reaproximação com Teerã e comprou UAVs de ataque e reconhecimento iranianos e agora está usando-os ativamente em batalhas junto com os UAVs Wing Loong I recentemente adquiridos da China.
Um ponto diferencial na cooperação técnica firmada em outros países ocorreu neste ano, quando o Irã abriu no Tadjiquistao uma empresa para montagem de seus drones. Isso ficou conhecido durante uma visita oficial a Dushanbe do chefe do Estado-Maior do Exército iraniano Mohammed Bagheri. De acordo com a agência oficial iraniana IRNA, a empresa estará envolvida na produção de drones Ababil 2.
“No futuro, testemunharemos um desenvolvimento ainda mais dinâmico da cooperação e laços estreitos em todos os níveis de defesa e forças armadas dos dois países – Irã e Tadjiquistão”, disse Mohammed Bagheri.
Teerã já chamou o início da produção de seus drones em território tadjique de “momento histórico” na cooperação militar entre os dois países. E há alguns fundamentos para esta afirmação. É extremamente importante para o Irã fornecer seus produtos militares para a Ásia Central no contexto de como a região é gradualmente inundada com produtos da indústria militar turca. O interesse em drones turcos é demonstrado pelo Cazaquistão, Uzbequistão e outros países da região.
Ao mesmo tempo, há sérias razões para acreditar que os produtos iranianos, ainda que por pura especulação, sejam tecnologicamente inferiores aos turcos (devido às sanções impostas ao Irã), porém são muito mais baratos e testados em vários teatros de operações.
Os drones da classe Ababil 2 podem ser usados para fins de reconhecimento, bem como drones kamikases. Drones desse modelo têm sido usados em vários conflitos no Oriente Médio e estão sendo produzidos por aliados regionais do Irã no Líbano, Síria e Iêmen.
A velocidade de cruzeiro dos drones Ababil 2 é de 220 km por hora e o alcance prático de voo é de 200 km. A altura do drone é de 1 metro, o peso é de 125 kg, os drones estão equipados com um sistema de navegação GPS.
Para o Tajiquistão, a produção de drones também é um ponto de virada. Isto deve-se em parte à situação extremamente instável na fronteira com o Quirguistão e em parte à situação no Afeganistão. O uso de drones iranianos, embora não sejam os mais avançados tecnologicamente, permitirá que os militares tadjiques monitorem constantemente suas fronteiras e ataquem militantes que tentam entrar no território do Tadjiquistão.
Um segundo UAV de combate letal no arsenal iraniano é o Shahed 129, um drone de média altitude e longa duração (Medium-Altitude Long-Endurance, MALE) comparável ao Hermes 450 UCAV israelense. Ele usa o mesmo motor de pistão Rotax 914 de fabricação austríaca para alimentar sua hélice, tal como usada pelos drones americanos MQ-1 Predator.
O UCAV Shahed participou de muitos combates e sendo usado para reconhecimento das instalações das forças especiais norte-americanas em al-Tanf e outras bases aéreas sírias desde 2014 para monitorar e eventualmente atacar rebeldes anti-Assad.
Depois de comprar os drone-alvo de teste MQM-107A Streaker dos Estados Unidos na década de 1970, o Irã começou a engenharia reversa deles em 2002. O drone Karrar resultante se assemelha a um míssil de cruzeiro com asas maiores e tem uma velocidade máxima de 560 milhas por hora, graças a tecnologia do drone-alvo sul-africano Denel Skua.
O Karrar, que pode ser empregado como drone kamikaze e ainda é usado principalmente como um drone alvo, sendo modificado para transportar uma bomba não guiada do tipo Mark 82 de 500 libras, duas bombas do tipo Mark 81 de 250 libras ou duas Kowsar ou ainda mísseis antinavio Nars-1.
O UCAV de longo alcance Fotros, provavelmente o maior drone do Irã, foi exibido notavelmente antes das negociações de controle de armas nucleares em 2013. Diz-se que ele tem um alcance de 1.200 milhas, um alcance de resistência de 30 horas, uma altitude máxima de 25.000 pés e uma capacidade de carga útil de seis bombas planadoras (loitering munitions) de precisão Qaem-1.
Em fevereiro de 2021, a Força Aérea Iraniana apresentou um novo drone de longo alcance, até as barbatanas de cauda tripla, é notavelmente semelhante ao MQ-9 Reaper UCAV americano. Segundo relatos, o Kaman-22 pode transportar até seis armas em hardpoints sob as asas pesando 661 libras.
Dentro desta família de drones, o Irã afirmou que o UCAV Kaman -12 tem autonomia de voo de dez horas, alcance operacional de 1000 km, e capacidade de transportar 100 kg de carga útil. Acredita-se o Kaman-12 se assemelha ao UAV Heron de Israel e será usado principalmente para missões de vigilância de longo alcance. O Kaman-12 provavelmente não têm capacidades de ataque ar-solo, e acredita-se que sua carga útil se restrinja a aviônicos e a uma câmera EO, não possuindo hardpoints em suas asas.
Em janeiro de 2019, o Irã também apresentou o Khodkar (Automático em tradução do idioma persa), um drone baseado em um design ultrapassado que foi ridicularizado e apresentado como evidência das frequentes alegações duvidosas do Irã sobre sua tecnologia militar. O Irã afirmou que o Khodkar é seu primeiro UAV de fuselagem larga, capaz de vigilância de longo alcance e missões de combate. De acordo com o Irã, o Khodkar está equipado com duas câmeras e antenas adaptadas para os sistemas de navegação por satélite GPS e GLONASS. O design do Khodkar é efetivamente uma modificação não tripulada de um treinador a jato Lockheed Martin T-33 Shooting Star da década de 1940.
Em setembro de 2019, a força de defesa aérea do exército iraniano apresentou um novo drone a jato chamado Kian, para missões de ISR, combate e defesa aérea. De acordo com o comando da defesa aérea iraniana, há uma variante de alta velocidade, sendo o Kian útil para missões de reconhecimento e interceptação aérea, além de ser uma variante com maior autonomia de voo “projetado para realizar bombardeios com precisão exata”.
O Irã afirmou ainda que o Kian tem um alcance operacional de 1000 km, e o comando da força de defesa aérea também observou que o Kian poderia atingir alvos longe das fronteiras do Irã – um aviso velado para Israel e outros adversários regionais.
Em 2022, os sistemas do Irã vão desde sistemas pequenos e leves de curto alcance até UAVs médios a pesados nas funções de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR). Não só o portfólio cresceu em termos de amplitude de capacidades, mas também o tamanho dos próprios veículos cresceu. Quanto maior o UAV, em termos relativos, maior a carga útil. Os sistemas iranianos podem ser equipados com uma variedade de sensores e armas eletro-ópticas. No total, a frota iraniana de drones conta atualmente com aproximadamente 16 modelos com diversos aperfeiçoamentos.
4 – CONCLUSÃO
Os UAVs tornaram-se uma ferramenta eficaz para o Irã apoiar forças amigas e dissuadir oponentes. A base industrial permite que o Irã, se necessário, organize rapidamente o fornecimento de UAVs de sua própria produção e organize a montagem dos dispositivos mais simples em outros países. As capacidades iranianas estão crescendo rapidamente e as melhorias estão sendo feitas em duas direções. As primeiras são as máquinas de alta tecnologia, cuja produção requer capacidades industriais no próprio Irã. Esses drones só podem ser fornecidos prontos ou na forma de kits de veículos para montagem SKD. Alguns desses UAVs não são exportados.
O segundo eixo de desenvolvimento corresponde a drones baratos e relativamente simples, cuja produção pode ser estabelecida mesmo em países com indústria subdesenvolvida. A montagem vem de peças compradas em países terceiros, no mercado civil para componentes comerciais e componentes-chave de características militares selecionados pelo Irã.
A experiência do Irã na produção de drones mostra que o desenvolvimento do complexo militar-industrial do país é possível mesmo sob severas sanções tecnológicas. Além disso, os produtos iranianos são de interesse dos clientes estrangeiros. Experiência semelhante deve ser usada por outros países como exemplo de que maneira transformar sua própria fraqueza (no caso do Irã, a fraqueza é a falta de capacidade para a produção de aeronaves militares) em vantagem.
O aparecimento de drones iranianos no campo de batalha ucraniano certamente será um problema crítico para as Forças Armadas da Ucrânia, especialmente para o sistema HIMARS e sistemas de defesa aérea cuidadosamente camuflados. Artilheiros antiaéreos independentes terão que se revelar quando o MLRS entrar na posição de ataque, especialmente, como escrevem Newdick e Rogovey, o Irã tem experiência na coordenação de enxames de drones para resolver problemas militares em teatros de operações complexos. Enquanto alguns atrairão o sistema de defesa aérea sobre si mesmos, outros lançarão um ataque.
O enfraquecimento das defesas aéreas da Ucrânia com a ajuda de drones iranianos equipados com buscadores antirradiação é percebido pelas Forças Armadas da Ucrânia como uma ameaça muito séria, ainda mais quando os recentes ataques do HIMARS aos armazéns russos têm dado resultados eficazes com a alegada destruição de dezenas de armazéns e depósitos de armas e munições. Washington também vê esse problema e está tentando não irritar o regime dos aiatolás, apesar dos pedidos de Israel.
A variedade de tipos de UAV e projetos concluídos do Irã permitem que ele responda com flexibilidade a solicitações de assistência ou aquisição. Ao mesmo tempo, muitos dispositivos iranianos permanecem pouco conhecidos ou desconhecidos, de modo que seu uso em um conflito armado é um fator de surpresa.
5 – FONTES CONSULTADAS
- https://www.overtdefense.com/
- https://iranprimer.usip.org/blog/2020/aug/20/irans-drone-fleet
- https://eurasiantimes.com/
- https://anna-news.info/iranskie-bespilotniki-pokoryayut-srednyuyu-aziyu/#:~:text=Drones%20iranianos%20conquistam,Artem%20Shamsky
- https://focus.ua/digital/522320-armiya-dronov-irana-kakie-bpla-u-islamskoy-respubliki-i-na-chto-oni-sposobny-video
- https://jamestown.org/
- https://www.militaryfactory.com/
- https://defence-blog.com/
- https://www.thinkdefence.co.uk/
- https://iranpress.com/
- https://www.thedrive.com
[1] Delegado de Polícia, historiador, pesquisador de temas ligados a conflitos armados e geopolítica, Mestre em Segurança Pública
[2] Mestre e Doutor em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada (PPGHC) da UFRJ, professor-colaborador e do Programa de Pós-Graduação em História Militar Brasileira (PPGHMB – lato sensu), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO e Editor-chefe do site História Militar em Debate e da Revista Brasileira de História Militar. Website: https://historiamilitaremdebate.com.br