A maior ameaça à Força Aérea da Ucrânia
No dia 16 do corrente mês o Ministério da Defesa da Federação Russa divulgou um vídeo alusivo a um exercício noturno de defesa aérea executado por quatro interceptadores de longo alcance Mikoyan Gurevich MiG-31BM (Foxhound-C para a OTAN), estacionados em uma base na região de Leningrado.
Os parâmetros do exercício incluíram manobras de voo a 400 metros de altitude, seguidas de subidas até 14.000 metros, quando a tripulação de um dos MiG-31 simulou um contato adversário deslocando-se a 2000km/h, tendo sido detectada pelo radar Zaslon AM de um dos “Foxhound-C” da formação.
Esta notícia vem na esteira de exercícios de larga escala montados pela Força Aérea da Ucrânia e mencionados pelo Poder Aéreo neste link.
Representando de longe a maior ameaça ao poderio aéreo ucraniano, o MiG-31BM foi revelado em janeiro de 1999 como uma versão atualizada do MiG-31B, que só entraria oficialmente em serviço com a então Força Aérea da Federação Russa (hoje de Força Aeroespacial da Federação Russa) em outubro daquele ano, embora tenha começado a ser fabricado em 1990, com as modificações necessárias para compensar os incalculáveis prejuízos causados pelas ações de espionagem de Adolf Georgievich Tolkachev (1936-1985), um dos engenheiros-chefe da empresa Fazotron, onde quase todos os sistemas do MiG-31 haviam sido projetados.
O MiG-31B “58” foi o primeiro MiG-31BM, iniciais em russo para “Grande Modernização”. Mudanças na direção do projeto determinaram que o mesmo reaparecesse dois anos depois, embora a aeronave só voasse pela primeira vez em 2005, seguido por mais dois exemplares (“59” e “60”), que completaram o conjunto de alterações do modelo BM, que deviam ser aplicadas a 125 exemplares do MiG-31B entre 2007 e 2018.
Os dois primeiros MiG-31BM concluídos foram entregues em 2008 para a conversão inicial de tripulantes.
O seu sistema de controle de fogo, “Zaslon-AM”, é composto pelo radar aperfeiçoado 8BM de varredura eletrônica passiva, computador Baget 55-06-08 e rastreador de infravermelho 8TK, também presente no MiG-31B, este sendo o dispositivo primário de detecção de alvos, permitindo que a tripulação do “Foxhound” somente acione o seu radar quando julgar necessário.
O radar 8BM, do tipo Doppler e alta frequência de repetição de pulso, com ângulo de varredura em azimute de ± 60 graus e elevação de ± 35 graus, possui alcance máximo de 320 km e capacidade de rastrear, detectar, identificar e acompanhar exclusivamente alvos aéreos distantes 280km (no total de 24 e a seguir atacar oito deles ao mesmo tempo).
Seus modos operacionais incluem capacidade de neutralização de alvos nos hemisférios dianteiro, traseiro, acima (look up) e abaixo (look down) da altitude de voo da aeronave; iluminação e transmissão de rádio-correção da trajetória dos alvos aéreos com comandos para controlar mísseis semi-ativos; identificação amigo/inimigo; operação sob contra-contramedidas eletrônicas e ataque por medição das coordenadas de um interferidor (jammer).
O MiG-31BM também recebeu uma nova suite de guerra eletrônica, a Kret L370K1 “Vitebsk”, um equipamento já instalado ou em previsão de equipar uma variada gama de aeronaves como os helicópteros Mil Mi-8 “Hip”, Mi-26 “Halo”, Mi-28 “Havoc”, Kamov Ka-52 “Hokum-B” e os transportes Antonov An-72 “Coaler”, An-124 “Condor”, Ilyushin Il-76/476 “Candid”, Il-78 “Midas” e Il-112V.
O equipamento permite o rastreio, a identificação e acompanhamento de ameaças que resultem em misseis disparados dentro de um raio de centenas de quilômetros, sejam guiados por calor ou laser, o que em seguida vai determinar a contramedida ativa a ser acionada. Seu principal subsistema é o interferidor digital L-370-3S, projetado para destruir misseis guiados a laser e por infravermelho.
Com relação ao seu armamento, o MiG-31BM conservou o canhão de seis canos rotativos e 260 munições em calibre 23 mm Gryazev-Shipunov GSh-6-23 que sempre armou o “Foxhound”, cuja cadência é de 8.000 disparos/minuto.
Em adição ao seu canhão, o novo “Foxhound” pode ser armado com os seguintes mísseis:
- quatro Vympel K-37M/RVV-BD (AA-13 “Arrow”/”Axehead”/”Andi”), que possuem sistema de guiagem por comandos de rádio/inercial e depois por radar ativo, alcance de até 398 km contra alvos voando entre 15 e 25.000 metros de altitude e manobrando a 8G’s, a serem destruídos por sua ogiva de 60kg detonada por proximidade ou por contato direto;
- quatro (ou dois) Vympel K-77-1/R-77-1 (AA-12 “Adder”), com o mesmo sistema de guiagem do K-37M, mas alcance entre 300 metros e 110 km, contra alvos voando em todas as direções, entre 20 e 25.000 metros de altitude e manobrando a até 12G’s, a serem destruídos por sua ogiva de 22.5kg detonada também por proximidade a laser e contato direto;
- e, finalmente, quatro (ou dois) Vympel R-73 (AA-11 “Archer”), guiados por radiação infravermelha emitida pelo alvo, com alcance entre 300 metros (contra alvos no hemisfério traseiro) e 30.000 metros (alvos no hemisfério dianteiro), contra alvos voando entre 20 metros e 20.000 metros de altitude, manobrando a até 12G’s, a serem neutralizados por sua ogiva de 8 kg, detonada por proximidade a laser ou radar.
Embora cada MiG-31 possa servir, através de enlace de dados, como um centro de comando e controle para até três “Foxhound” e mesmo para outras aeronaves, como os Su-27/30 “Flanker” (esta sendo uma das funcionalidades que nortearam o seu desenvolvimento, pois devia ser um interceptador apto a operar em zonas desprovidas de cobertura radar), a aeronave também costuma atuar sob as ordens de um centro de controle de interceptação baseado em terra ou mesmo de um vetor de alerta antecipado e controle aerotransportado Beriev A-50 “Mainstay”, do qual pode operar distante centenas de quilômetros.
Em comparação ao MiG-31B, o modelo BM tem comprimento maior (22.67m contra 21.62m), altura menor (6.10m contra 6.50m) e peso máximo de decolagem mais elevado (48.200kg contra 46.750kg). Mas ambos mantêm os mesmos dados de desempenho: velocidade máxima de 3.000km/h (Mach 2.83) em grande altitude e 1.500km/h (Mach 1.22) ao nível do mar. As duas aeronaves podem atingir e sustentar velocidade supersônica de cruzeiro de 2.500km/h (Mach 2.35) voando a 18.000m e cobrindo uma distância de 720km ou 900km/h (Mach 0.73) deslocando-se a 10.000m por uma distância de 1.450km. Com dois tanques subalares o “Foxhound-C” tem alcance de 3.000km, que pode ser ampliado para 5.400km com um reabastecimento em voo. O teto operacional é superior a 25.000m.
Antes de ser declarado tripulante operacional no MiG-31, o cadete da Força Aérea da Federação Russa cursa cinco anos na Escola Superior de Aviação Militar para Pilotos, em Krasnodar.
A partir do terceiro ano inicia o treinamento básico de voo a bordo dos jato tcheco Aero Vodochody L-39C Albatross, que estão sendo gradualmente substituídos pelos treinadores Yakovlev Yak-130 “Mitten” espalhados nas bases de Akhtubinsk, Armavir e Borisoglebsk.
Os futuros navegadores/operadores de sistemas do Foxhound iniciam sua instrução básica a bordo do Tupolev Tu-134Sh em Chelyabinsk.
Já como tenentes, os futuros tripulantes de “Foxhound” são enviado ao 4º Centro de Conversão de Tripulações e Avaliação, em Savasleika, no qual será “apresentado” aos sistemas do interceptador, onde ao fim de cinco meses são declarados aptos para o combate em uma aeronave cujo armamento e desempenho a posicionam bem além de qualquer oponente na arena de combate além do alcance visual em nível global.