HISTÓRIA: Outro ataque de Gloster Meteor da FAB à ‘Ilha da Viúva Negra’
O relato a seguir é de autoria do Ten Cel Av Ref Luiz Fernando Cabral, trecho do livro “No Céu, na Terra e no Mar” – Memórias de um piloto de provas.
Missão (quase) impossível
Em dado momento, chegou ao Grupo de Caça a ordem para que fosse bombardeado um banco de areia na Ilha do Fundão, próximo à ponte do Galeão, que estava infestado de mortíferas aranhas viúvas-negras.
Um F8 foi preparado, armado com duas bombas M38-A2 carregadas com napalm, mistura de gasolina com um agente químico.
Era uma missão que exigia perícia e determinação para ser cumprida, em função dos riscos, uma vez que o referido banco de areia estava localizado nas vizinhanças da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A possibilidade de uma falha material, causando um lançamento inopinado, ou uma falha do piloto, errando grosseiramente o ponto de impacto, poderiam ter consequências catastróficas.
Não aparecendo nenhum voluntário, apresentei-me para cumprir a missão e pensei: Vai dar tudo certo, vou, mato e volto. Acreditem ou não, a missão foi executada sem maiores percalços, duas passagens sobre o alvo, a primeira para conferir as condições de segurança na área e a segunda para efetuar o lançamento.
A única repercussão daquele feito foi uma nota na imprensa, de autoria de um cronista social, no dia seguinte, recomendando jocosamente que o piloto passasse pelo Parque Xangai (parque de diversões localizado no bairro da Penha), para treinar melhor a pontaria.
Para falar a verdade, na ocasião não compreendi por que não optaram por uma solução por via terrestre ou marítima e, ainda, por que eu mesmo aceitei aquele absurdo desafio.
Só muito recentemente fiquei sabendo que a missão quase impossível fora solicitada pelo Comando da Base Aérea do Galeão, após a ocorrência de duas fatalidades que envolveram um pescador e um soldado bombeiro, ambos picados pelo peçonhento aracnídeo, e que o bombardeio rasante havia sido bem-sucedido.