F-86 e MiG-15

F-86 e MiG-15

Assim como o Spitfire e o Me 109 na Batalha da Grã-Bretanha, os F-86 Sabre e os MiG-15 na Guerra da Coreia marcaram para sempre as mentes dos entusiastas da aviação militar.

O North American F-86 Sabre começou como um projeto de caça a jato de asas retas para a Marinha, o FJ-1 Fury.

Mas os dados aerodinâmicos capturados dos alemães, somadas às ideias da NACA, convenceram os engenheiros da North American a projetarem asas e cauda enflechadas para o avião. O resultado disso foi o F-86.

North American Sabre

F-86A-5

  • Caça diurno de um tripulante
  • Alcance de translado: 1.032 milhas
  • Velocidade máxima a 35.000 pés: 601 mph
  • Razão de subida: 7.470 pés/min
  • Teto de serviço: 48.000 pés
  • Armamento: 6 metralhadoras .50″ (12,7mm), foquetes de 5″, bombas de Napalm até 2.000lb sob as asas.

Já o MiG-15, foi desenvolvido por Artem Mikoyan e Mikhail Gurevich e voou pela primeira vez em 30 de dezembro de 1947.

Com asa e cauda enflechadas baseadas nos mesmos dados aerodinâmicos alemães, o MiG-15 era impulsionado por um clone da turbina inglesa Rolls-Royce Nene.

Os soviéticos tinham comprado o motor dos britânicos e compiaram-no com o mesma atenção aos detalhes que o Tu-4.

Mikoyan-Gurevich MiG-15

  • Caça diurno de um tripulante
  • Alcance de translado: 1.250 milhas
  • Velocidade máxima a 40.000 pés: 655 mph
  • Razão de subida: 9.055 pés/min
  • Teto de serviço: 51.000 pés
  • Armamento: 2 canhões de 23mm, 1 canhão de 37mm,  foquetes e bombas até 1.100lb sob as asas.

 

Em combate

Quando operando a Noroeste da Coreia, no “MiG Alley”, os Sabres estavam a cerca de 20 minutos do rio Yalu, enquanto os MiG-15 estavam a poucos minutos de suas bases na Manchuria. Além do problema de alcance, o Sabre também era inferior ao MiG-15 em vários aspectos de performance.

O MiG podia subir mais rápido que o Sabre em todas as altitudes, embora o último fosse ligeiramente mais rápido em voo nivelado. O teto operacional superior do MiG dava-lhe uma vantagem inicial, por causa da maior aceleração num mergulho, mas o Sabre era mais pesado e por isso tinha um mergulho sustentado melhor.

As subidas do MiG e as curvas apertadas (exceto em altas velocidades) lhe davam vantagem, mas esses pontos positivos eram contrabalançados pelo pobre controle em altas velocidades, a baixa taxa de rolagem e a instabilidade direcional em grandes altitudes.

Seu armamento (dois canhões de 23mm e um de 37mm) era melhor para interceptação de bombardeiros do que para “dogfight”. As seis metralhadoras “ponto 50” do Sabre tinham maior cadência de tiro, mas não tinham tanto alcance e poder de parada.

O Sabre, entretanto, tinha uma alça de mira melhor, a K14, que dava grande vantagem ao piloto, particularmente o movimento derivativo do inimigo, que era de grande valor no “dogfight”.

F-86
MiG-15

Sabres operando no “MiG Alley” encontraram grandes formações de caças inimigos voando a 50.000 pés ou mais, que não podiam enfrentar. Os pilotos americanos tiveram que desenvolver táticas para lidar com os MiGs que mergulhavam sobre eles.

A solução encontrada foi o “jet stream” de 16 Sabres, divididos em 4 esquadrilhas ou flights, cada uma entrando no “MiG Alley” com intervalo de 5 minutos, em diferentes altitudes entre 27 e 33 mil pés.

Os Sabres voavam em altas velocidades (tipicamente Mach 0.87, assim quando uma esquadrilha encontrava MiGs, as outras podiam convergir em pouco tempo para o combate. Cada esquadrilha adotava a formação tática “fluid four”, compreendendo dois líderes cobertos por dois alas. Mesmo operando sob desvantagem de altitude contra os MiGs, as formações de Sabres davam apoio mútuo contra os MiGs que mergulhavam sobre os F-86.

O recorde inicial de combate dos Sabres na Coreia foi impressionante. Das 900 vitórias aéreas requeridas pela USAF, 792 dos MiG-15 foram abatidos pelos Sabres. Os MiG, por sua vez, derrubaram 78 Sabres, o que significava uma “kill rate” de 10:1.

Entretando, pesquisas feitas após a guerra indicam que as vitórias americanas alcançaram no máximo 379 MiGs. Os soviéticos requeriam 650 Sabres abatidos, mas os registros da USAF mostram 224 F-86 destruídos por todas as causas, incluindo acidentes.

Na verdade, a vitória americana foi por uma pequena margem.

MiG-15 sendo atingido pelas metralhadoras do F-86

Duelo de Titãs

Em 20 de maio de 1951, 28 jatos F-86 Sabre do 335º FIS engajaram 30 MiG-15 do 196º IAP sobre o “MiG Alley”.

Com 58 caças em combate esta era a maior batalha aérea até aquela data.

O capitão James J. Jabara era membro do 334º FIS, mas quando a unidade rotacionou, ele ficou no 335º para se tornar o primeiro Ás a jato da USAF, pois para ele só faltava uma vitória.

Apesar de não ter conseguido ejetar um dos seus tanques suplementares e estar voando com perigosa carga assimétrica, Jabara conseguiu abater o piloto soviético Kapetan Nazarkin, forçando-o a abandonar a aeronave.

Aquele foi seu quinto abate e tornou Jabara o primeiro Ás de jato-versus-jato da História. Jabara também atacou um outro MiG que diz ter abatido, mas foi logo atacado por dois MiG-15, um deles pilotado pelo futuro Ás russo Starshij Lejtenant V. N. Alfeyev, que alvejou seu Sabre com projéteis de 23mm.

Jabara foi salvo pela intervenção de outro F-86, pilotado por Eugene Holley, que forçou Alfeyev a desengajar, mesmo quando Holley estava ligeiramente avariado pelo ala de Alfeyev, Starshij Lejtenant Fiodor Shebanov.

Jabara conseguiu pousar, mas seu F-86 BuNo 49-1318 estava tão furado de balas que foi considerado “written off”. A despeito disso, Jabara estava muito feliz: ele era agora o primeiro Ás da era jato-versus-jato e sobreviveu para contar sua história. Jabara foi enviado imediatamente para os EUA. Mas de acordo com os registros russos, o “score” de Jabara era de 4 abates e ele só se tornaria Ás no seu segundo tour, em 1953.

Esse combate mostrou que os pilotos dos dois lados eram equivalentes. Nas fotos acima, os Ases russos de MiG-15, da esquerda para a direita: Aleksandr Smorchkov (12 vitórias), Nikolay Ivanov (6 kills), Semyon Fedorets (8), Yevgeny Pepelyayev (19) and Sergey Kramarenko (13).

Durante este combate, dois americanos foram creditados com três MiG “kills”, com Jabara requerendo dois e Milton E. Nelson o terceiro, mas realmente só o MiG de Nazarkin foi perdido. Quatro pilotos russos reclamaram o abate de um Sabre cada (Majores Kirizov, Alfeyev e Shebanov, e Coronel Yevgeni Pepelyayev), quando na verdade o abate de Alfeyev foi “write off”, o de Shebanov foi avariado e o “kill” de Pepelyayev foi o único confirmado. Aquele foi o primeiro de 19 “kills” que esse grande piloto russo iria fazer durante a guerra.

Neste primeiro duelo de titãs, os dois Ases Jabara e Alfeyev se enfrentaram. Ambos voltaram para suas bases com os aviões tão avariados que foram considerados “write offs”. A foto que foi tirada “logo após a missão”, mostrando Jabara na frente de um F-86, na verdade era outro avião, não o que ele voou.

39 ases americanos na Guerra da Coreia. O total de kills de cada um aparece abaixo das fotos

NOTA SOBRE JAMES JABARA: Nascido em 1923, James Jabara tinha apenas 1,65m de altura e usava óculos de correção; jamais poderia ter se tornado piloto de caça. Mas isto não o impediu de ingressar como cadete aviador em Fort Riley. Depois de frequentar quatro escolas de voo no Texas, ele recebeu suas asas e a comissão de segundo-tenente em 1943 em Moore Field, Texas.

Jabara era determinado a tornar-se piloto de caça e conseguiu. Também estava determinado a tornar-se um Ás em F-86 e também obteve êxito.

Jabara faleceu em 17 de novembro de 1966, num trágico acidente de carro, juntamente com sua filha de 16 anos, Carol Anne, na Flórida. Jabara estava se preparando para seu próximo tour na Guerra do Vietnã.

Os corpos dos dois foram sepultados juntos no Arlington National Cemetery. O neto de Jabara, Nicholas Jabara, graduou-se na United States Air Force Academy em 2001 e também morreu em treinamento num T-37, em 31 de janeiro de 2002.

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