O bombardeiro Boeing B-52 na Guerra do Vietnã
Por Luiz Reis*, especial para o Poder Aéreo
O Boeing B-52 Stratofortress é um bombardeiro estratégico a jato de longo alcance, subsônico, tendo sido projetado e construído pela Boeing Company, que continua a fornecer suporte e atualizações até os dias de hoje. Operado pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) desde a década de 1950, o pesado bombardeiro é capaz de transportar até 32 toneladas de bombas, mísseis, minas, entre várias configurações de sistemas de armas, tendo um alcance de combate típico de mais de quase 15 mil quilômetros sem reabastecimento em voo (REVO).
Veterano de várias guerras, o B-52 lançou apenas munições convencionais em combate, apesar de sempre ter sido capaz de lançar armas nucleares. Um dos primeiros e mais importantes conflitos no qual ele participou foi o brutal envolvimento norte-americano na Guerra do Vietnã, entre 1964 e 1973, onde a aeronave participou de forma intensa e decisiva em alguns momentos da guerra, lançando milhares de toneladas de bombas em mais de 126 mil surtidas, tanto em proveito da “Operação Arc Light” quanto em outras missões.
Adequações e modificações nas aeronaves
Com a escalada da situação no sudeste da Ásia, 28 bombardeiros B-52F foram equipados com suportes externos com capacidade para 24 bombas de 500 lb (227 kg) ou 750 lb (340 kg) sob o “Projeto South Bay”, em junho de 1964; 46 aeronaves adicionais receberam modificações semelhantes no “Projeto Sun Bath”. A partir do final de 1965, vários B-52D sofreram modificações no chamado “Projeto Big Belly”, que os preparou para permitir o transporte de mais seis toneladas de bombas convencionais. A modificação criou capacidade suficiente para um total de quase 60.000 lb (27.215 kg) usando até 108 bombas de 500 lb.
Assim modificados, os B-52D substituíram os B-52F, entrando em combate em abril de 1966, voando inicialmente da Base da Força Aérea de Andersen, Guam. Cada missão de bombardeio durava de 10 a 12 horas e incluiu um reabastecimento em voo dos Boeing KC-135 Stratotankers. Na primavera de 1967, os B-52 começaram a voar da Base da Marinha Real Tailandesa de U Tapao, para que o reabastecimento em voo não fosse necessário, diminuindo também o tempo de duração das missões, entre sete e nove horas. No final do conflito, o mais moderno B-52G também foi usado em combate juntamente com o B-52D.
Primeiras missões
Em março de 1965, os Estados Unidos iniciaram a “Operação Rolling Thunder”, uma campanha sistemática de bombardeio de alvos no Vietnã do Norte, para tentar estrangular a sua economia e infraestrutura. Durante a “Operação Arc Light” que durou entre 1965 a 1973, os Estados Unidos usaram a versão B-52F a partir de bases nos EUA em Guam e posteriormente na Tailândia para fornecer apoio aéreo próximo às operações de combate no Vietnã. As operações da “Arc Light” geralmente visavam campos de base inimigos, concentração de tropas e linhas de suprimento. Os B-52 foram empregados durante a Batalha de Ia Drang, em novembro de 1965, sendo tal ação notabilizada como o primeiro uso da aeronave em um papel de suporte tático e interdição no campo de batalha.
Investigações do Congresso dos EUA sobre atividades secretas da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) no Sudeste Asiático após a guerra revelaram que os B-52 eram usados para bombardear sistematicamente alvos no Laos e no Camboja, sob a chamada “Operação Barrel Roll”, com o fracassado objetivo de bloquear a Trilha Ho Chi Minh.
Após um período de suspensão, a “Arc Light” foi reativada no dia 8 de fevereiro de 1972, quando o presidente Richard Nixon retomou o bombardeio do Vietnã do Norte, em um esforço para avançar as negociações de paz. Mais de 15.000 homens foram enviados para a Base de Andersen em serviço temporário nos 90 dias seguintes. Com quartéis e outras instalações limitadas, foram montadas tendas para serem usadas por homens que trabalhavam 80 horas por semana!
No dia 22 de novembro de 1972, um B-52D (55-0110) proveniente de U-Tapao foi atingido por um míssil terra-ar (SAM) durante um ataque a Vinh. A tripulação foi forçada a abandonar a aeronave danificada sobre a Tailândia. Este foi o primeiro B-52 abatido por fogo hostil.
A operação Linebacker II
O auge dos ataques com B-52 no Vietnã foi a “Operação Linebacker II” (às vezes chamada de “Bombardeio de Natal”), realizada de 18 a 29 de dezembro de 1972, que consistia em grandes ondas de B-52 (principalmente modelos D, mas alguns G com uma carga menor de bombas). Durante 12 dias, os B-52 efetuaram 729 missões e lançaram 15.237 toneladas de bombas em Hanói, Haiphong e outros alvos. Originalmente 42 B-52 foram usados na operação; com a intensidade das surtidas, mais aeronaves (e reabastecedores KC-135) foram trazidas dos EUA, praticamente dobrando o número de bombardeiros operacionais. Eram tantas aeronaves que nem todas comportavam na base aérea, tendo algumas que ficar sempre no ar!
Durante a Operação Linebacker II, quinze B-52s foram abatidos, cinco foram pesadamente danificados (um caiu no Laos) e cinco sofreram danos menores. Um total de 25 tripulantes foram mortos nessas perdas, vários outros capturados e desaparecidos. O Vietnã do Norte afirmou que 34 B-52 foram abatidos.
Combate ar-ar
Durante a Guerra do Vietnã, os atiradores de cauda dos B-52D foram creditados por abater dois MiG-21 “Fishbeds” da Força Aérea do Vietnã do Norte (VPAF). No dia 18 de dezembro de 1972, o B-52D do atirador de cauda Sargento Samuel O. Turner havia acabado de executar um bombardeio para a Operação Linebacker II e estava se afastando, quando um MiG-21 da VPAF se aproximou rapidamente. Quando o caça ficou dentro do alcance, Turner disparou suas quatro metralhadoras de calibre .50. O MiG explodiu atrás do bombardeiro, com Turner recebendo uma Silver Star (Estrela de Prata) por suas ações. Seu B-52, número de cauda 56-0676, é preservado em exibição com as marcas do abate na Base da Força Aérea dos EUA Fairchild, em Spokane, Washington.
No dia 24 de dezembro de 1972, durante a mesma campanha de bombardeio, o B-52D “Diamond Lil” (55-0083) atacava a ferrovia Thái Nguyên quando o atirador de cauda Soldado de 1ª Classe Albert E. Moore avistou um MiG-21 da VPAF que se aproximava rapidamente. Moore abriu fogo com suas metralhadoras de calibre .50 a 4.000 m (3.700 m) e continuou atirando até o caça desaparecer de sua mira. Por suas ações, o “Diamond Lil”, desativado em 1983 com mais de 15 mil horas de voo e 200 missões de combate, foi preservado e está em exibição na Academia da Força Aérea dos Estados Unidos, no Colorado. Moore foi o último artilheiro de bombardeiro que se acredita ter abatido uma aeronave inimiga com metralhadoras em combate aéreo.
No entanto, os dois abates de atiradores de cauda B-52 não foram confirmados pela VPAF, mesmo com ambos os abates confirmados por outras aeronaves ao redor, e eles admitiram a perda de apenas três MiG, todos abatidos por caças de escolta McDonnell Douglas F-4 Phantom II. Fontes vietnamitas atribuíram uma terceira vitória aérea a um B-52, um MiG-21 abatido em 16 de abril de 1972. Essas vitórias tornam o B-52 a aeronave de maior porte creditada com abates ar-ar. A última missão “Arc Light” sem escolta de caça ocorreu no dia 15 de agosto de 1973, quando a ação militar dos EUA no sudeste da Ásia foi encerrada.
Entre junho de 1965 e agosto de 1973, 126.615 missões dos B-52 dos modelos D, F e G foram realizadas no Sudeste Asiático. Foi lançado um total de mais de seis milhões e trezentos milhões de toneladas de bombas sobre o território do Vietnã, ou seja, mais de três vezes a quantidade de bombas lançadas pelos Aliados durante a II Guerra Mundial na Alemanha! Durante essas operações, a Força Aérea dos EUA perdeu 31 bombardeiros, 18 por fogo hostil sobre o Vietnã do Norte e 13 por outras causas operacionais.
Após o Vietnã e além
Após a Guerra do Vietnã o B-52 foi usado em mais outros conflitos, como a Guerra do Golfo de 1991, a Guerra do Afeganistão, a Guerra do Iraque e mais recentemente contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Os modelos D, F e G foram desativados, respectivamente em 1983, 1973 e 1992, ocasionando uma grande diminuição da frota, e o único modelo que ainda está operacional é o H, que não participou do conflito no Sudeste Asiático, mesmo com a última unidade (61-0040) tendo sido entregue em 1962.
Em junho de 2019, 58 aeronaves B-52H estão em serviço ativo, 18 na reserva e cerca de 12 aeronaves estão em armazenamento de longo prazo no 309º Grupo de Manutenção e Regeneração Aeroespacial (AMARG) da USAF. Os bombardeiros voaram inicialmente sob o Comando Aéreo Estratégico (SAC) até que ele foi extinto em 1992 e suas aeronaves absorvidas pelo Comando de Combate Aéreo (ACC); em 2010, todos os bombardeiros foram transferidos do ACC para o recém-criado Comando de Ataque Global da Força Aérea (AFGSC).
Desempenho superior em altas velocidades subsônicas e custos operacionais relativamente baixos mantiveram o B-52 em serviço, apesar do advento de aeronaves mais avançadas, incluindo os supersônicos B-58 Hustler (já desativado), B-70 Valkyrie (cancelado) e o B-1 Lancer (de geometria variável) e o stealth B-2 Spirit. O B-52 irá completar 65 anos de serviço contínuo com sua operadora original em 2020. Após a atualização entre 2013 e 2015 e a provável atualização planejada para o início da próxima década, quando será elevado ao padrão B-52J, espera-se que continue voando até a década de 2050, quase cem anos depois do primeiro voo do seu protótipo.
FOTOS: U.S. Air Force
*Professor de História no Estado do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza, Historiador Militar, entusiasta da Aviação Civil e Militar, fotógrafo amador. Brasiliense de alma paulista, reside atualmente em Fortaleza-CE. Articulista com artigos publicados em vários sites sobre Defesa.