O urso mora ao lado
Aumento das tensões com a Rússia pode ser decisivo para a compra de mais caças Gripen E pela Suécia, mas até o momento não há novidades
Nas suas 20 páginas, o caderno explica de forma direta como a população deve agir em caso de guerra. Isso inclui ações como o armazenamento de itens básicos, instruções onde encontrar abrigos subterrâneos à prova de ataques aéreos, e de como se manter aquecida no inverno, entre outras.
Esta foi a primeira vez, em mais de cinco décadas, que a população recebeu este tipo de material. A última versão do caderno havia sido editada em 1961, em plena Guerra Fria, com o título “Se a guerra vier”.
Seria isto um exagero do governo sueco? Para responder a esta pergunta com embasamento é recomendável ir à Suécia e ter contato com os seus cidadãos e o seu modo de vida. O que se percebe é uma crescente preocupação dos suecos em relação às reais intenções russas no Báltico.
Se você perguntar para um sueco quando a guerra Fria começou é provável que a resposta seja “em 1951, quando os soviéticos derrubaram um Catalina e um DC-3 da Força Aérea Sueca”. E quando ela acabou? Para muitos isso nunca ocorreu. Apenas ficou adormecida por cerca de 20 anos (década de 1990 e início do Século XXI).
Essa fase dormente terminou por volta de 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia. Mesmo estando longe da Crimeia as Forças Armadas Suecas têm notado um crescente aumento da atividade militar russa no Báltico desde então. No ano anterior (2013), durante o feriado da Páscoa, dois bombardeiros Tu-22 escoltados por quatro caças Su-27 da Força Aérea Russa realizaram um exercício simulado de ataque à Suécia a menos de 40 km da fronteira. Até aí, nada fora do normal, pois o exercício ocorreu em águas internacionais.
Porém, em setembro de 2014, dois jatos de ataque Su-24 penetraram cerca de um quilômetro dentro do espaço aéreo sueco. O incidente levou o Governo Sueco a fazer um protesto formal junto à Rússia.
Mais recentemente, caças Gripen da Hungria que patrulham o espaço aéreo sobre os países bálticos, num revezamento de forças aéreas da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para a defesa aérea da região, presenciaram intensa atividade aérea russa sobre o Báltico: os caças húngaros foram acionados mais de 40 vezes (estes são conhecidos como “acionamento alfa”, quando há uma interceptação real) desde o início de sua missão em maio desde ano.
Diante desse quadro, o Ministério da Defesa e a Força Aérea da Suécia mudaram seus planejamentos de anos atrás. Inicialmente, a ideia era aposentar quase todos os caças Gripen C/D, que somam cerca de 100 aeronaves, conforme fossem substituídos pelos 60 novos Gripen E encomendados. Apenas uma parcela dos jatos C/D seria mantida, equipando unidade de conversão operacional dos pilotos.
Em entrevista aos jornalistas brasileiros em Linköping o ministro da Defesa sueco, Peter Hultqvist, confirmou os planos da Força Aérea Sueca de manter a maior quantidade possível de caças Griepen C/D em serviço, e as duas gerações vão conviver, em atividade, por muitos anos. Ou seja, os 60 exemplares Gripen E já contratados representarão um aumento da qualidade, sem redução significativa na quantidade total de caças em serviço.
Os planos para o futuro podem ir além, com a Suécia adquirindo um novo lote de caças Gripen E, conforme manifestado pelo comandante da Força Aérea, major-general Mats Helgesson no ano passado.
Porém, as autoridades não revelam de forma objetiva, ainda, esses planos. Hultqvist também explicou que não há decisão no momento para a aquisição de um segundo lote. Uma discussão sobre o próximo plano de gastos quinquenal (2021-2025) ocorrerá somente no ano que vem. A depender dos próximos movimentos da Rússia, esta discussão que ocorrerá no Parlamento sueco em 2020 pode tomar outro rumo. No momento as novidades não são tão novas assim.