Frederik Gustafson em palestra para jornalistas brasileiros e colombianos no escritório da Saab em Estocolmo.

Por Guilherme Poggio

Em matéria recente mencionamos palestra realizada por Fredrik Gustafson, atual presidente da Saab na América Latina, no escritório da empresa em Estocolmo, capital da Suécia. Agora é hora de falar sobre os detalhes desta palestra e da importância, segundo o executivo, da parceria da Saab com o Brasil.

Gustafson trabalhou na Força Aérea Sueca durante muitos anos dando suporte ao Programa 37 (Viggen). Desde que deixou a Força Aérea ele se juntou à Saab e já está próximo de completar duas décadas na empresa. O executivo sueco começou a trabalhar com o programa Gripen para o Brasil cerca de dez anos atrás. Depois de viver cinco anos e meio em Santiago do Chile, Gustafson mudou-se para a capital paulista em janeiro desde ano e, de São Paulo, comanda a Saab em toda a América Latina.

Longo prazo – O executivo começou sua palestra explicando como a Saab, uma companhia de capital aberto (cujas ações são negociadas na bolsa de Estocolmo), possui visão de retorno de longo prazo, algo que acompanha a empresa desde a sua criação. Na verdade esta visão de longo prazo é uma característica das empresas suecas em geral (Electrolux, SKF, Ericsson só para citar alguns exemplos). E esta visão é compartilhada por industriais, investidores e, principalmente, por políticos do país. Independentemente da orientação ideológica do governo sueco (cujo regime é parlamentarista) existem acordos entre os políticos sobre quais tecnologias e tipos de indústria que o país precisa desenvolver.

Atualmente a Saab é uma empresa que emprega cerca de 20.000 pessoas ao redor do mundo. Seu faturamento, no ano passado, foi de aproximadamente 3,4 bilhões de dólares. Em relação ao backlog (encomendas e/ou aquisições relativas a produtos ainda não produzidos) a região da América Latina, em que se destaca a encomenda brasileira de caças Gripen, tornou-se um importante espaço geográfico para a empresa. Aproximadamente 34% do backlog da Saab estão na América Latina. É importante destacar que esta porcentagem é superior às próprias encomendas domésticas (33% para a Suécia). Ou seja, a parceira da Saab com o Brasil é estratégica para a empresa.

Além de ser estratégica para a Saab ela também é estratégica para a balança comercial sueca. As informações fornecidas por Gustafson estão em linha com os dados divulgados pela Inspetoria de Produtos Estratégicos (cuja sigla em sueco é ISP), agência governamental sueca subordinada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros. No relatório referente ao ano de 2017 (o mais recente) é possível ver a importância que o Brasil ganhou a partir do ano de 2016 (lembrar que o contrato para a compra dos caças Gripen foi firmado no final do ano de 2014). Em 2015 o país não estava listado nem mesmo entre os dez maiores destinos das exportações de material de defesa que tinham como origem a Suécia (ver tabela abaixo).

Tabela fornecida pelo ISP. MEC – military equipment for combat, OME – other military equipment

Brasil, Colômbia e Chile – Na América Latina a Saab possui atualmente mais de 100 funcionários e este número está crescendo. Obviamente a maioria desse pessoal está no Brasil. A empresa também possui escritórios em Bogotá (Colômbia) e Santigado do Chile “Cone Sul”. O primeiro atende não só a Colômbia, mas também a América Central toda (falaremos mais sobre a presença da Saab na Colômbia e sobre as chances do Gripen na concorrência da Força Aérea Colombiana em futura matéria). Já o escritório de Santiago atende os países latinos ao sul da Colômbia (com exceção do Equador).

A América Latina, dominada pelas vendas para o Brasil, representa aproximadamente 34% do portifólio da Saab.

No Brasil, além do escritório central de São Paulo, a Saab conta com escritórios no Rio de Janeiro e em Brasília.

Grande presença em São Paulo – A empresa possui operações em São José dos Campos, detendo 40% da Akaer, além de São Bernardo do Campo , com a SAM – Saab Aeronáutica Montagens, em implantação. Por fim, há em Gavião Peixoto uma parceria com a Embraer no Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen (GDDC) e no futuro Centro de Ensaios em Voo do Gripen (GFTC).

Quanto à SAM, atualmente a empresa possui aproximadamente 30 funcionários (todos brasileiros) em Linköping recebendo treinamento na fábrica da Saab. Esses funcionários deverão iniciar a fabricação de componentes das asas e fuselagens do Gripen, no Brasil, a partir de 2020 (ano que vem).

Peças que serão produzidas pela SAM no Brasil.

O GDDC (anteriormente conhecido como GDDN) já foi objeto de várias matérias aqui no Poder Aéreo – textos que podem ser encontrados ativando-se o campo “busca” aqui do site. Sua meta fundamental é desenvolver o Gripen biposto (Gripen F). Em relação ao futuro GFTC, ele deverá iniciar suas operações no ano que vem. Nos próximos textos falarei mais sobre o treinamento dos brasileiros da SAM em Linköping e sobre os ensaios em voo do Gripen E, tanto na Suécia quanto, futuramente, no Brasil.

O editor Guilherme Poggio viajou à Suécia a convite da Saab.

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