Os suecos possuíam a resposta

por Guilherme Poggio

A vida da Força Aérea da Suécia não era fácil nos anos “mais quentes” da Guerra Fria. Ser um país não alinhado bem no meio das forças da OTAN e do Pacto de Varsóvia exigia muito dos seus caças e dos seus pilotos de combate. Missões reais de interceptação ocorriam numa média de 400 a 500 por ano! Eram “intrusos” de todos os lados.

Boa parte dessas missões ocorria na região meridional do país e para que os esquadrões baseados nessa região não ficassem sobrecarregados um esquema de rodízio de alerta de base (QRA – Quick Reaction Alert) foi introduzido.

Porém, a mais desafiadora de todas as missões era a interceptação dos jatos de reconhecimento SR-71 dos Estados Unidos. Capazes de voar a grandes altitudes e a velocidades acima de Mach 3, interceptar tal aeronave era um tarefa próxima do impossível. Mas os suecos descobriram um jeito.

No início da década de 1980 dois SR-71 da USAF ficavam permanentemente baseados em Mildenhall, uma instalação militar britânica distante cerca de 90 km de Cambridge (ver marco vermelho no mapa abaixo). Dentre as missões a eles designada estava a “Baltic Express”.

O perfil voo da missão “Baltic Express” era sempre muito semelhante. Um SR-71 se aproximava do Mar Báltico cruzando o espaço aéreo dinamarquês de oeste para leste. Seguindo este rumo, a aeronave voava paralelamente à costa da Alemanha Oriental e da Polônia (naquela época dois países membros do Pacto de Varsóvia). Próximo ao enclave de Kalingrado, o “pássaro negro” guinava para norte, acompanhando os estados soviéticos de Estônia, Letônia e Lituânia até a ilha de Saarema.

Cerca de 37 milhas (60 km) da ilha de Saarema o jato começava uma longa curva de quase 180 graus até encontrar a costa sueca do lado oposto do Báltico. Para realizar essa curva a velocidade do SR-71 era reduzida para Mach 2.3. Este era o momento ideal para os caças suecos.

Orientados pelos controladores de terra, os caças Saab JA37 Viggen permaneciam no ar orbitando a 26 mil pés (8.000m) no caminho previsto para o SR-71. Assim que recebiam a instrução, os caças aceleravam para Mach 1.35 e começavam uma leve subida de cinco graus para encontrar o jato da USAF pela frente.

Ainda durante a leve ascensão os caças então aceleravam para Mach 2. Assim que cruzavam 59 mil pés (18.000m) o encontro era esperado e a decisão para travar o míssil no alvo teria que ser tomada dentro de dez segundos!

Os pilotos podiam optar pelos mísseis Rb71 Skyflash ou Rb74 Sidewinder (ambos aparecem na imagem acima). Naquela altitude o desempenho do Skyflash não era nada satisfatório, mas para o sensor infravermelho do Sidewinder o SR-71 ficava parecendo uma tocha olímpica em noite de inverno! O atrito com o ar causado pela alta velocidade aumentava tanto a temperatura (podendo chegar aos 500 graus centígrados) da superfície do avião que o revestimento corrugado das asas chegava a ficar liso.

FONTE:

CRICKMORE, P. F. – 2009 – Lockheed SR-71 operations in Europe and the Middle East. Osprey Combat Aircraft 80.

JORGENSEN, J. – 2008 – Swedish Viggens, the Saab AJ/JA/SF/SH and SK37 Viggen in Flygvapnet Service. AirDOC ADP 015.

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