Saab: 64 anos de ‘deltas’
por Guilherme Poggio
Delta é a quarta letra do alfabeto grego, cujo símbolo é grafado por um triângulo. Por este motivo, a superfície aerodinâmica de forma triangular (com um vértice voltado para frente) passou a ser chamada de “asa em delta”.
As vantagens das asas em delta para voos de alta performance são conhecidas desde o final da década de 1950. Além de possuírem baixa razão de aspecto (isto é, a envergadura – distância de uma ponta de asa até a outra – dividida pela corda média – distância entre o bordo de ataque e o bordo de fuga da asa) elas também possuem um coeficiente de arrasto (resistência ao ar) muito menor em voos supersônicos.
Os projetistas da empresa sueca Saab entenderam muito bem os benefícios deste perfil de asa e após o desenvolvimento dos caças Tunnan e Lansen partiram para o desenvolvimento de uma aeronave totalmente revolucionária no seu desenho.
Em outubro de 1955 voava pela primeira vez o protótipo do Saab 35 Draken, um projeto com configuração de asa em duplo delta (enflexamento de 80º na parte anterior e de 57º na parte posterior). Passado pouco mais de uma década voaria pela primeira vez o Saab 37 Viggen, outro delta que revolucionou a indústria aeronáutica, sendo o primeiro caça dotado de superfícies aerodinâmicas conhecidas como “canards” a ser produzido em larga escala.
Já na década de 1980, com o advento da tecnologia de comandos fly-by-wire, muitas das deficiências dos projetos com asa em delta foram superadas sem a degradação das qualidades desta configuração. Sendo assim, a Saab definiu um novo “delta-canard” para ser o sucessor do Viggen.
Inicialmente conhecido como “Type 2110”, o programa se transformou no JAS 39 e no ano de 1982 o ocorreu a decisão para se projetar e construir a aeronave, que ganhou o nome “Gripen”.
O tempo passou e o Gripen evoluiu. Externamente ele pouco mudou, mas a geração C/D recebeu um recheio eletrônico mais avançado, maior compatibilidade com sistemas da OTAN e outras melhorias.
Na primeira década do século XXI a Saab promoveu uma mudança radical no projeto do Gripen. Seu motor original foi substituído por um mais moderno, o trem de pouso principal foi reconfigurado, mudanças significativas foram feitas nas asas e na fuselagem e mais uma vez a eletrônica embarcada foi atualizada.
Com o Gripen E, e a sua versão biposta, a Saab dará sequência à produção de mais uma família de “deltas”. Um arranjo aerodinâmico que vem se mostrando vencedor desde a década de 1950. Vida longa aos deltas!