F-AIR 2019 – Rionegro, Colômbia
Por Wilson Rocha Junior (reportagem e fotos)
Em dezembro de 2018 soubemos que os Thunderbirds seriam a atração principal da F-Air 2019, na cidade de Rionegro, Colômbia, nas datas de 13 e 14 de julho.
Compramos as passagens para mim e para meu filho, marcamos o período de férias e passamos a torcer para não estourar nenhum conflito bélico com a Venezuela. De quebra, em abril, soubemos dos planos de sobrevoo de um B-52 àquela feira.
Chegamos a Rionegro na tarde do dia 12 de julho em um EMB-190, da Copa Airlines, proveniente da Cidade do Panamá. Ao sairmos do avião, meu filho apontou para uma linha de F-16 coloridos, afastados da praça central de exposição. Confesso que fiquei arrepiado e a ansiedade se fez presente. Daquele plano elevado, pude identificar outros F-16 pertencentes ao Esquadrão Swamp Fox, da Carolina do Sul.
Dia 13, chegamos ao local pouco depois das 7h, tomamos um café no aeroporto e saímos para comprar os ingressos e aguardar a abertura dos portões, prevista para as 10h. Na fila, o tempo fechou e começou a chover. A temperatura caiu absurdamente e ficamos preocupados se haveria alguma apresentação aérea.
Os portões foram abertos no horário previsto e entramos batendo os dentes. Um dos primeiros estandes era de uma empresa de rum, e tomamos algumas doses para tentar estancar o frio dominante.
A chuva começou a diminuir perto das 11h e o momento para verificar as aeronaves expostas era mais do que adequado, pois a maior parte do público estava preocupada em ficar abrigada.
A primeira coisa que chamou a atenção foi de que não havia qualquer tipo de isolamento nas aeronaves. O acesso era totalmente livre, inclusive nas cinco aeronaves do Swamp Fox e cuja asa de um dos F-16 serviu como abrigo da chuva que ainda teimava em cair. Muito diferente dos “Portões Abertos” no Brasil. Todo e qualquer armamento exposto também era acessível ao público.
Enquanto isso, oito aeronaves Blackhawk davam o ar da graça nos arredores.
Aviões F-16, KFIR, Super Tucano, Tucano, C-47, A-37, Blackhawk, Panther, C-295, UH-1 eram algumas das aeronaves militares presentes na exposição estática. Todas com acesso livre, inclusive para os painéis.
A sensação era a de uma criança que recebeu presentes novos e não sabia com qual deles brincar primeiro.
A chuva parou completamente após o meio-dia e as operações no aeroporto foram reabertas. Agora era aguardar os shows da tarde, mas eis que, de surpresa, surge em passagem baixa o KC-767 da FAC escoltado por seis KFIR. Incrível!! Infelizmente, perdemos o momento para fotos, pois estava mal localizado.
Às 14h30, os alto-falantes anunciavam a presença do B-52 na área. Ao sul, pudemos ver sua silhueta característica manobrando para a sua primeira passagem baixa.
Aquilo foi impressionante e emocionante. Ele estava acompanhado de quatro KFIRs e quase não tiramos fotos a fim de curtir ao máximo aquele momento soberbo. Que visão fantástica!
Houve mais uma passagem e então o bombardeiro retornaria para sua base de origem, com o locutor anunciando que os caças seguiriam junto até o velho pássaro deixar o espaço aéreo colombiano. Que imagem! Que show!
Passados alguns minutos daquele momento mágico e o locutor anuncia outra surpresa para a comemoração aos 100 anos da Força Aérea Colombiana. Da direção norte, aproximou-se uma grande formação de 23 aeronaves, sendo 17 Super Tucanos e 6 Tucanos, formando o número 100 nos céus. Eu sempre disse que a Colômbia promove mais a nossa aeronave do que a própria FAB, já que, com exceção da FIDAE 1998 (Protótipo do A-29), jamais vi uma apresentação solo por estas bandas.
A partir dali, restou esperar a grande atração: os Thunderbirds.
A apresentação dá para resumir em uma palavra: MARAVILHOSA!! Um show com cerca de 45 minutos de duração e com emoção em tempo integral. A exemplo do B-52, pensei em não fotografar nada para não atrapalhar a curtição real que é testemunhar uma apresentação daquelas.
Fim do primeiro dia. UAU!! Sentamos à sombra de um A-320 da Viva Air para a ficha cair. Que dia.
No domingo, 14 de julho, mesmo esquema, mas a organização estava melhorada. Não teve chuva e nem frio e os portões foram abertos um pouco mais cedo. Já dava pra notar que o público seria bem superior ao do dia anterior. Quem castigava agora era o sol.
Combinamos de ir cedo para a grade divisória a fim de termos uma visão privilegiada quando do táxi das aeronaves e, por óbvio, sem aquela infinidade de mãos, braços e celulares estendidos à frente.
Naquela manhã estavam previstas três apresentações: paraquedistas da FAC, a “Equipo Acrobático Arpía 51”, com helicópteros Blackhawk e, por último, um elemento de caças KFIR simulando um dogfight.
O Arpía 51 é um show acrobático diferente e muito bom. São apenas duas aeronaves, mas a inovação da coisa toda é que torna aquele show único e extremamente interessante. Lendo sobre eles há poucos dias, fiquei espantado em saber que a tripulação completa também faz parte do show. Posso dizer que os Blackhawks são levados próximos ao seu limite, o que é mais uma prova da versatilidade daqueles helicópteros, e da perícia de seus comandantes.
A apresentação dos KFIR também não deixa nada a desejar. A habilidade dos pilotos colombianos somada à agilidade dos caças em baixa altitude é da cair o queixo. Como no show do Arpía, há emprego generoso no lançamento de flares, e isso dá um brilho todo especial ao evento. Quem dera a FAB fizesse algo semelhante com os nossos F-5, mas é uma enorme perda de tempo imaginar algo do tipo por aqui.
Aliás, não houve participação da FAB no evento, e perdeu-se uma bela oportunidade de promoção do KC-390. Ademais, penso que a Força Aérea Colombiana é, ou deveria ser, uma excelente parceria para a FAB. Foi uma pena a Fumaça não estar presente, e os colombianos comentavam isso. Cheguei a questionar um integrante da FAC e ele me falou que a presença não se concretizou por falta de espaço no pátio de exposição, o que não tem nada a ver, já que os Thunderbirds ficaram estacionados fora dali, onde havia uma grande área disponível. Especulações à parte, havia uma lacuna na agenda da Fumaça para a primeira metade de julho, muito provavelmente aguardando o encaixe na F-Air, o que não acabou ocorrendo.
Para não dizer que a FAB não estava presente, quando pousamos vimos um VC-99 estacionado junto à Base Aérea Arturo Lema Posada, que faz divisa com a Aeroporto José María Córdova, no lado oposto à pista principal. Muito provavelmente estava lá para as comemorações aos 100 anos da FAC. Mas isso é apenas teoria. Essa aeronave decolou no sábado e eu não deixamos de pensar em como eles podiam perder o espetáculo que estava por acontecer.
Finalizados os shows da manhã, e reaberto o tráfego aéreo civil, agora era esperar pela tarde. Nosso plano de ficar junto à grade não deu 100% certo pois centenas de outras pessoas tiveram a mesma ideia e, por óbvio, os melhores lugares já estavam ocupados. O jeito foi se contentar com a grade lateral, quase na divisa frontal, mas com visão quase nula da pista de táxi.
A apresentação de domingo foi ainda melhor, pois sabíamos de onde surgiriam os solos. E assim foram mais 45 minutos de puro êxtase.
Finalizado o show, encerrou-se a F-Air 2019 que, diga-se de passagem, mostrou uma Colômbia receptiva, aberta e no rumo correto.
Vimos um país seguro, com forte participação das forças armadas e policiais na comunidade, e com ampla aceitação popular. Assistimos ao desfile militar em Barranquilla, no dia 20 de julho – Dia da Independência. As crianças tinham verdadeira adoração quando os militares e policiais as cumprimentavam. Na mídia é igual, sendo normais e frequentes as notícias sobre operações militares naquele país.
Seguem algumas fotos para os leitores do Poder Aéreo.