Erdogan e o Sukhoi Su-57 Frazor
Por Sérgio Santana*
Erdogan – “Ele já voa?”
Putin – “Voa, vão mostrar hoje”
Erdogan – “E posso comprá-lo?”
Putin – “Pode comprar”
Foram essas as palavras do breve e animado diálogo entre o presidente da Turquia, Recep Tayip Erdogan, e seu colega russo, Vladimir Putin, durante os momentos iniciais da 14ª edição do Moscow International Aviation and Space Salon (mais conhecido como MAKS, que vai de hoje até domingo na cidade de Zhukovsky) em que o mandatário turco foi apresentado ao modelo do caça de quinta geração Sukhoi Su-57 “Frazor”, apropriadamente registrado com o número “057” em exibição estática no evento.
Sabe-se que a Turquia está formalmente interessada em outro produto da Sukhoi, o Su-35 “Flanker-E”, como forma de amenizar a sua retirada do programa multinacional de outra aeronave da mesma geração conceitual do Su-57, o Lockheed Martin F-35 “Lightning II”, após ter encomendado mísseis superfície-ar Fakel S-400 “Triumf”/SA-21 “Growler”, de fabricação russa.
Entretanto, apenas o Su-57 seria um substituto do mesmo nível que o F-35. Deve ser lembrado que uma eventual aquisição do “Frazor” pela Turquia aumentaria a produção da aeronave, que por ora conta com apenas umas poucas dezenas a serem entregues para a Força Aeroespacial da Federação Russa nos próximos anos.
Outras consequências da possível operação do Su-57 pela Türk Hava Kuvvetleri (THK, a Força Aérea da Turquia) serão de natureza tática e estratégica. No primeiro caso, a nova aeronave seria certamente envolvida (para não dizer exibida) nas várias incursões diárias sobre o Mar Egeu como forma de provocar a Elliniki Polemiki Aeroporia (EPA, a Força Aérea da Grécia, a arqui-inimiga da Turquia) devido a controvérsias acerca da extensão da Região de Informação de Voo dos dois países. Atualmente, a Turquia utiliza aeronaves McDonnell-Douglas F-4 Phantom II e Lockheed Martin F-16 Fighting Falcon nestas missões (curiosamente, a Grécia também emprega o “Viper”, além do Dassault Mirage 2000, quando vão interceptar os invasores turcos).
A consequência estratégica, se a Turquia optar mesmo pelo Su-57, muito provavelmente será a remoção das bombas nucleares da OTAN atualmente estocadas no seu território. É muito improvável que a aliança ocidental permita que parte do seu armamento estratégico continue em solo turco, considerando que a operação do caça russo de quinta geração certamente implicará no aumento da movimentação de pessoal técnico russo por lá, visto que já estarão presentes de maneira periódica por conta do emprego dos mísseis S-400 (embora a própria Grécia opere artefatos similares, mas da geração anterior, os S-300, há um bom tempo).
Assim, é inegável que o interesse de Erdogan por armamento russo tende a aprofundar e ampliar as mudanças já em curso nas relações da Turquia com a OTAN.
*Bacharel em Ciências Aeronáuticas (Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL). Pesquisador do Núcleo de Estudos Sociedade, Segurança e Cidadania (NESC-UNISUL). Pós-graduando em Engenharia de Manutenção Aeronáutica (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG). Autor de livros sobre aeronaves de Inteligência/Vigilância/Reconhecimento. Único colaborador brasileiro regular das publicações Air Forces Monthly, Combat Aircraft, Aviation News e Jane’s.