Míssil MTC-300 no F-5EM: breves considerações
Sérgio Santana*
Nas últimas horas a mídia nacional especializada em Defesa tem comentado acerca de uma imagem divulgada em um vídeo do Ministério da Defesa na qual aparece um exemplar da versão ar-superfície do Míssil Tático de Cruzeiro Avibras MTC-300 Matador sendo acoplado ao pilone central de um caça Northrop/Embraer F-5EM Tiger II, como parte da campanha de ensaios do armamento.
Após a divulgação da imagem, uma fonte militar se pronunciou, alegando que a mesma mostra que o “míssil utilizou o F-5EM apenas para a abertura do envelope em voo supersônico, nada mais além disto…O míssil está previsto para ser lançado de terra, embarcado ou de helicópteros. O resto é especulação”.
Pois bem.
É fato notório que esta arma possui natureza ofensiva e se seu envelope contempla velocidades supersônicas não poderia ser testada a bordo da aeronave de ataque Aeritalia/Aermacchi/Embraer A-1, que está limitada a velocidades subsônicas.
Assim, o Matador só poderia ser testado acoplado ao F-5EM, que em configuração típica de interceptação (dois misseis infravermelhos Rafael Python 4 nas pontas das asas e o “centerline”, tanque de combustível ventral, de 1.041 litros) atinge a velocidade máxima de Mach 1.4 (1.713km/h) a 9.144m de altitude. Obviamente que sem o peso e arrasto causados pelos mísseis este valor é um pouco maior.
Contudo, isto não significa que esta arma será integrada e certificada para emprego no F-5EM. Primeiro porque a aeronave está atravessando os seus últimos anos de vida operacional na FAB e é fato sabido que boa parte dos exemplares atualmente voados na Força estão com sérias limitações estruturais, inclusive na sua capacidade de aceleração gravitacional, item vital na manobrabilidade de qualquer aeronave de caça.
Além destes fatores, é amplamente conhecido que qualquer sistema de armas necessariamente percorre uma extensa campanha de ensaios até que se torne plenamente operacional, campanha esta que demanda tempo e investimento financeiro continuado em material e pessoal qualificados. Coisa que infelizmente não ocorre com a devida frequência em terras brasileiras.
As afirmações de que o míssil terá envelope supersônico e será lançado apenas a partir de helicópteros implicam que a arma necessariamente terá de ser equipada com um booster ou mostrará uma velocidade inicial extremamente alta capaz de ser sustentada por uma boa parte da sua trajetória, já que helicópteros não alcançam velocidades supersônicas. Curiosamente, na imagem do vídeo divulgado pelo MD, não há nada que indique a presença de um booster.
Caso as alegações de que a versão do “Matador” lançável por aeronaves será limitada a aeronaves de asas rotativas se concretizem, isto confirmará as informações de que a FAB encomendou para os seus Saab F-39 Gripen algumas dezenas de mísseis MBDA/Saab Bofors Dynamics Taurus KEPD 350, uma arma altamente sofisticada, com sistema quádruplo de guiagem, apresentando velocidade de Mach 1 (1.224km/h) a 40/50 metros de altitude, alcance máximo de 500km e pesando 1.500kg, dos quais 481 são representados pela ogiva denominada “Mephisto”.
*Bacharel em Ciências Aeronáuticas (Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL). Pesquisador do Núcleo de Estudos Sociedade, Segurança e Cidadania (UNISUL). Pós-graduando em Engenharia de Manutenção Aeronáutica (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG). Autor de livros sobre aeronaves de Inteligência/Vigilância/Reconhecimento. Único colaborador brasileiro regular das publicações Air Forces Monthly, Combat Aircraft e Aviation News.