Movimentação de sistemas de mísseis S-300 da Venezuela e a possível conexão com a chegada de assessores russos
Sérgio Santana*
Nas últimas horas foi amplamente noticiado por vários veículos especializados que o governo venezuelano deslocou elementos de uma das suas três baterias de mísseis antiaéreos de longo alcance S-300VM operadas pelo “293º Grupo de Mísseis de Defesa Antiárea Comandante Supremo Tenente-Coronel Hugo Chávez Frías” e normalmente baseadas na Região Estratégica de Defesa Integral de Los Llanos para a Base Aérea Capitán Manuel Rios, no Estado de Guarico.
Este deslocamento vem na esteira da chegada, no último sábado, de duas aeronaves russas, um quadrijato de passageiros Ilyushin Il-62M “Classic” (registro RA-86496) e outro de transporte Antonov Il-124 “Condor” (registro RA-82035), repetindo o tipo de “visita” que já ocorrera em dezembro de 2018 e foi mencionada aqui.
Entretanto, ao contrário daquele voo, marcado pelo mistério, em relação a este mais recente sabe-se que vieram a bordo do Ilyushin Il-62M pelo menos 99 passageiros (incluindo o General Vasily Tonkoshkurov, Chefe do Estado-Maior das Forças Terrestres da Federação Russa e Primeiro Vice-Comandante-em-Chefe das Forças Terrestres daquele país), bem como cerca 35 toneladas de equipamentos, transportadas pelo Antonov, que inclui suprimentos não apenas para os recém-chegados, mas também para outros da mesma natureza já presentes no país.
Rumores sobre a capacidade operacional das Forças Armadas venezuelanas são frequentes como publicamos aqui que o nível de treinamento das tropas é baixo, sem esquecer das muitas deserções ocorridas recentemente, quando da tentativa de passagem de caminhões com remédios e alimentos a partir das fronteiras brasileira e colombiana.
Assim, o governo venezuelano sabe que não conta com a lealdade absoluta por parte das suas tropas e dentre os passageiros recém-chegados é possível que haja operadores adicionais da companhia militar privada “Vagner”, administrada diretamente pelo Kremlin e destinada a missões especiais que exijam sigilo máximo e descartem qualquer vínculo com o governo russo e mesmo dos muitos sistemas de armas russos operados pelas Forças Armadas da Venezuela, dos já mencionados S-300VM a tripulantes dos Sukhoi Su-30MK2V “Flanker-G”.
Isso teria um efeito duplo: melhorar a operacionalidade de tais sistemas e também resultar que num hipotético ataque norte-americano houvesse cautela redobrada, pois haveria o risco de baixas russas, o que elevaria o conflito a outro patamar. A presença de um oficial da patente do General Tonkoshkurov é um indicador inequívoco desta intenção, além de demonstrar o nível de comprometimento do governo russo com a causa venezuelana.
O mesmo tipo de atitude já se fez presente no conflito em território sírio, com o qual a situação na Venezuela se assemelha a cada novo movimento das duas partes antagônicas.
*Bacharel em Ciências Aeronáuticas (Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL). Pesquisador do Núcleo de Estudos Sociedade, Segurança e Cidadania (NESC-UNISUL). Pós-graduando em Engenharia de Manutenção Aeronáutica (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG). Autor de livros sobre aeronaves de Inteligência/Vigilância/Reconhecimento. Único colaborador brasileiro regular da Shephard Media, referência em Inteligência de Defesa.
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