Portugal admite abandonar projeto dos KC-390 caso Embraer não baixe o preço
O general do Estado-Maior da Força Aérea Portuguesa admite que a negociação ‘não está fácil’ e que a empresa ‘está a pedir muito mais do que razoavelmente se esperaria’
O chefe do Estado-Maior da Força Aérea Portuguesa (CEMFA), general Manuel Rolo, revelou esta quarta-feira que o Estado português admite abandonar o projeto de aquisição de aviões KC-390 caso a Embraer não baixe os valores pedidos.
“O Estado não quer ver ultrapassado para além deste montante [cerca de 830 milhões de euros], estamos numa negociação férrea e começa a prevalecer a opinião de que, se a Embraer não vier para este valor, o Estado português terá de ir para outras opções”, afirmou o general Manuel Rolo no parlamento.
O CEMFA está a ser ouvido na comissão parlamentar de Defesa Nacional sobre a proposta de Lei de Programação Militar, que prevê investimentos de 4,74 mil milhões de euros, até 2030. O valor previsto para o projeto de aquisição de cinco aviões de transporte estratégico e de um simulador na proposta de Lei de Programação Militar (LPM) é de 827 milhões de euros no espaço de 12 anos.
O general adiantou que a negociação “não está fácil” e que a Embraer “está a pedir muito mais do que razoavelmente se esperaria”.
Segundo o general, está em cima da mesa e “esse é também o sentimento do ministro da Defesa Nacional [João Gomes Cravinho]”, fazer “sentir à Embraer que podem ser pensadas outras opções se eles não quiserem entrar neste nível de negociação para este patamar financeiro”.
A equipa de negociação integra, do lado do Estado português, a FAP e a Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional, que está a “fazer um esforço muito grande” junto da empresa brasileira para que possa aproximar-se ao valor que está alocado na LPM.
“Quando a negociação a Embraer estava pedir mais 120 milhões de euros, neste momento o valor situa-se nos 97 milhões de euros”, disse.
Manuel Rolo acrescentou que a FAP tem procurado outras soluções visando que o preço possa baixar, como por exemplo contratualizar a aquisição e manutenção dos motores, poupando dessa forma nas comissões adicionais cobradas pela Embraer.
Há outras componentes que podem “ser desagregadas” do pacote a negociar com a Embraer, como o material de guerra eletrónica acoplada ao avião, que também poderão ser comprados diretamente às empresas fabricantes.
Ainda assim, “o máximo que conseguimos é trazer o défice para 50 milhões de euros”, que “ficam por resolver”, adiantou.
Pelo PSD, o deputado Matos Correia manifestou surpresa por estar em cima da mesa a possibilidade de “rompimento negocial” com a Embraer, frisando que até ao momento o que o Governo tem mostrado é o seu envolvimento no projeto.
Para o CDS-PP, o valor pedido pela Embraer é muito caro e que a empresa brasileira devia perceber que, a concretizar-se o projeto, Portugal será o primeiro país NATO a adquirir KC-390, constituindo-se como possível porta de entrada para mais compradores na Aliança Atlântica.
Sobre a aeronave, o general Manuel Rolo disse que a FAP já voou no KC-390 e comprovou que “é muito fácil de voar e tem capacidades acrescidas”, sendo mais rápido, “até cinco horas a menos na longa distância” face ao C-130.
A concretizar-se a compra, “o processo de formação será muito rápido e dinâmico”, disse o general, em resposta a uma pergunta do PS.
Questionado pelo deputado do PCP António Filipe sobre se tem “um plano B” caso as negociações falhem, o general Manuel Rolo disse que o “plano B que pode haver é olhar para outras aeronaves que existem no mercado”.
“Assim de repente, é o C-130 J e o A400M”, disse, ressalvando que o A400M “é uma aeronave excelente, de maior dimensão mas também têm tido imensos problemas para se consolidarem”.
Manuel Rolo manifestou contudo “esperança” de que o projeto dos KC-390 “seja uma realidade” e disse acreditar que “o processo de negociação terá de tender para uma situação de acordo”.
António Filipe referiu-se ao processo em curso para a norte-americana Boeing comprar 80% da Embraer, considerando que aquela aquisição “é preocupante no que pode traduzir da orientação estratégica da Embraer”.
Sobre este ponto, o CEMFA disse que “o que de início tem disso dito é que a joint venture não tocaria no setor militar da Embraer”. “É uma negociação difícil. Não sei se existe aqui alguma influência da nova joint venture que está a ser criada com a Boeing que possa estar a perturbar o bom clima da negociação inicial, espero que isso não seja fator”, respondeu Manuel Rolo.
FONTE: Agência Lusa