O principal concorrente do KC-390 (PARTE 2)
Conheça a história do desenvolvimento do C-130J Super Hercules e as dificuldades enfrentadas pelo projeto
Por Guilherme Poggio
(clique aqui para ler a PARTE 1)
CERTIFICAÇÃO CIVIL
Em tese esta não era uma novidade para a empresa, que no passado havia certificado uma versão do Hercules (L-100) para o mercado civil. Só que desta vez não haveria uma versão do Hercules civil, apenas um Hercules de uso militar com certificação civil. (recentemente a Lockheed decidiu produzir uma versão exclusiva da aeronave para o mercado civil denominada LM-100J).
Aparentemente não há dificuldades numa certificação civil para uma aeronave que será usada por forças militares, certo? Errado. A primeira delas, no caso do C-130, estava relacionada ao painel tipo glass cockpit.
A maioria das aeronaves civis com glass cockpit daquela época possuía seis telas, sendo duas para cada piloto e outras duas mostrando dados dos motores e sistemas localizadas ao centro do painel. Este era o padrão aceito para a FAA.
O painel que a Lockheed projetou para o Hercules II (nome original da aeronave, posteriormente trocado para “Super Hercules”) possuía quatro telas (sendo apenas uma para cada piloto), além de dois HUD. A grande dificuldade foi provar para a FAA que o HUD seria uma das telas primárias de dados de voo, pois até então não existiam aeronaves civis certificadas desta configuração.
Uma das exigências da FAA era a duplicidade dos dados mostrados em cada um dos dois HUD. Ambos os HUD estão vinculados ao mesmo barramento 1553B (barramento padrão militar) e, portanto, podem atuar independentemente. A Lockheed simplesmente introduziu um switch que permite ao segundo piloto ver o que o primeiro piloto está monitorando caso ele deseje. Desta maneira o C-130J tornou-se o primeiro avião certificado pela FAA a usar o HUD como tela primária de dados de voo.
Mas o processo de adaptação para obter o certificado civil ia muito além da questão do HUD. Possivelmente o maior desafio da empresa nesse campo foi adaptar as 600.000 linhas de códigos do software de aviônicos para atender ao padrão civil (DO 178) e ao padrão militar (DOD-STD-2167A) simultaneamente. Isto acabou gerando uma duplicidade de testes de software, alongando o tempo de desenvolvimento.