LIFTs chineses encontram mercado na África
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Aéreo
Uma cerimônia nesta quarta-feira (16.05) serviu para a Força Aérea do Sudão apresentar seis unidades do treinador e caça leve chinês FTC-2000 (JL-9), fabricado pela Guizhou Aircraft Industries Corporation (GAIC) e comercializado pela Corporação das Indústrias de Aviação da China (AVIC).
A solenidade contou com as presenças do Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas Sudanesas, tenente-general Kamal Abdul-Marouf Al-Mahi, do subchefe do Estado Maior Geral, major-general Awad Khalafallah Marawi, e do adido militar chinês.
As aeronaves sudanesas foram produzidas na fábrica da GAIC em Anshun, na Província de Guizhou, 2.239 km a sudoeste de Pequim (perto da fronteira com Myanmar). A primeira foi fotografada a 5 de junho de 2017, com pintura de camuflagem para o deserto, tanques externos de combustível, mísseis ar-ar e foguetes.
O curioso é que o FTC-2000 – versão de exportação do treinador JL-9, empregado pela Força Aérea e pela Marinha chinesa – compete, na África Negra, com outro modelo de LIFT (Lead-in Fighter Trainer) chinês, mais moderno e movido a muito marketing: o Hongdu L-15, vendido à Aviação Militar da Zâmbia (6 exemplares).
Em termos puramente comerciais, o L-15 parece ser mais negócio: mais leve, de manutenção mais simples e valor unitário na faixa dos 18-20 milhões de dólares. Analistas ocidentais estimam que o preço de um FTC-2000 esteja no patamar dos 25 milhões de dólares, mas as diferenças de manobrabilidade de um e de outro avião são desconhecidas.
Brasil – Em 2016 o L-15 interessou vivamente aos oficiais da Força Aérea do Uruguai, que só possui uns poucos aviões de combate subsônicos.
Os pilotos sul-americanos chegaram a voar o aparelho na China, e, convencido de que exportaria o L-15 para o Uruguai, o governo de Pequim chegou a pagar uma viagem do comandante da Força Aérea Uruguaia (e comitiva) à China, para que ele conhecesse a aeronave. Mas a negociação não prosperou.
Entre os anos de 1990 e a metade inicial da década de 2010, a Força Aérea Brasileira (FAB) debateu se lhe convinha, ou não, comprar um LIFT, para ajudar na formação dos seus pilotos de caça.
Fornecedores da Itália, da Rússia e do Leste Europeu ofereceram diferentes modelos, mas, sem dinheiro, os brigadeiros da FAB optaram por manter a qualificação desses aviadores no A-29 Super Tucano e, depois, transferí-los diretamente à nacele dos caças F-5M.
Atualmente a FAB adotou, como política para o futuro, o plano de usar os oito Gripen bipostos encomendados à SAAB como aeronaves de formação dos pilotos que voarão os monopostos suecos – um procedimento contestado pelos fabricantes de LIFTs (que consideram indispensável o estágio nesse tipo de jato), mas adotado pela própria Aviação Militar da Suécia.
FTC-2000 – O projeto do FTC-2000 Shanying (Águia da Montanha) é baseado no desenho do jato (desativado) Guizhou JJ-7/FT-7, a versão de treinamento desenvolvida pelos chineses, em Shenyang, do famoso caça russo MiG-21.
De acordo com o material de propaganda produzido pelo Ministério da Defesa da China, o Shanyng é capaz de qualificar pilotos para aeronaves de combate como o J-7, o Shenyang J-8, o Chengdu/PAC JF-17 e, até mesmo, o Sukhoi Su-27.
O Sudão já opera o F-7, o que torna a aquisição do FTC-2000 perfeitamente coerente, especialmente em termos de logística e de peças sobressalentes.
A Força Aérea do Sudão alinha uma dúzia de F-7 e uma dúzia de treinadores básicos K-8 – modelo que mobilia a única unidade de combate (a jato) da Aviação Militar Boliviana.
O FTC-2000 realizou seu vôo inaugural em 13 de dezembro de 2003 e, aparentemente, a indústria aeronáutica da China não tinha muitas esperanças de vendê-lo ao exterior.
Foi só no final do primeiro semestre de 2015, durante a mostra internacional Paris Air Show, que funcionários da AVIC deixaram escapar para a reportagem da IHS Jane’s que um país africano havia encomendado o aparelho.
Então, a 3 de novembro de 2016, durante uma entrevista para a China Aviation News, o diretor-executivo da GAIC, Wang Wenfei, revelou que o cliente africano era o Sudão. Na cerimônia desta semana, no Sudão, Wenfei declarou que outros países africanos mostraram interesse na aeronave – um deles, a Nigéria, que, em 2016, comprou três exemplares do JF-17 para testes.
A aeronave é equipada com um radar Doppler de pulso, INS/GPS (sistema de navegação inercial com a ajuda de GPS) e suíte computadorizada de armamento.
O FTC-2000 é impulsionado por um turbojato Guizhou Liyang WP-13 dotado de pós-combustão. Sua velocidade máxima é calculada em Mach 1.5.
A aeronave possui um canhão de 23 mm e cinco pontos duros, dos quais três podem transportar tanques de combustível.