Caças russos de 2ª (ou 3ª) mão para a Bolívia?
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Aéreo
A Cámara de Senadores da Bolívia sancionou, quarta-feira da semana passada (04.04), a lei que ratifica o “Acordo entre o Governo da República da Bielorrússia e do Governo do Estado Plurinacional da Bolívia, sobre a Cooperação Técnico – Militar”, firmado a 13 de julho de 2016 na cidade de La Paz.
Fortemente apoiado pelos partidos Movimiento al Socialismo (MAS) – do presidente Evo Morales – e Democrata Cristiano (PDC), o tratado prevê, de forma geral, cooperação mútua no âmbito da Segurança e Defesa: “transferência de direitos exclusivos de produção de armamentos e material, assegurando aconselhamento e formação técnica no processo de produção de tais produtos”.
Tecnicismo que implica dizer: a cooperação deve acontecer, de forma particular, ou específica, nos segmentos de produção, modernização, reparos e fornecimento de tecnologia e armamento de aviação, defesa antiaérea e intercâmbio de especialistas.
Além disso, os bolivianos deverão absorver técnicas de comunicação via rádio e de tecnologia eletrônica, incluindo sistemas automatizados, de transmissão de dados, inteligência e guerra eletrônica.
O documento não estabelece valores ou se refere, particularmente, à compra ou venda de armas, mas estabelece a base legal para que isso ocorra.
Pleito – De acordo com a imprensa de Santiago, o instrumento firmado pelos governos de La Paz e Minsk despertou desconfianças no Ministério das Relações Exteriores chileno.
Bolívia e Chile mantém diferenças políticas importantes, advindas do litígio criado pela reclamação de Morales à Corte de Justiça de Haia – vinculada à Organização das Nações Unidas –, acerca de uma saída de seu país para o mar.
Os bolivianos defendem que esse acesso se dê pela incorporação de uma franja territorial hoje pertencente ao Chile. Santiago já disse que não cederá um milímetro do seu território – nem mesmo em atenção a um despacho do tribunal internacional sediado na Holanda.
O que La Paz espera para ainda este ano é uma determinação da Corte de Haia para que representantes do governo chileno se sentem à mesa da negociação com os bolivianos.
A senadora do MAS, Adriana Salvatierra Arriaza declarou que, em nenhum momento, estabelecer um acordo de cooperação entre Estados degrada a qualidade pacífica que tem o Estado boliviano. “Este acordo [com a Bielorússia] é importante porque nos permite integrar as relações entre os povos, mesmo que sejam em termos de defesa”, disse ela.
Sua colega Patricia Gomez, do PDC, reforçou: uma cooperação técnica militar com outro país não contradiz as disposições da Constituição boliviana. “Não temos o direito, como Estado boliviano, de ter armas?” Perguntou ela por meio das páginas dos jornais.
Planta de Reparos – Chefes militares que, em qualquer parte do mundo, se interessam pela compra de interceptadores supersônicos Sukhoi Su-30 (básicos) usados, a preços módicos (custo unitário na faixa dos 35/40 milhões de dólares), sabem que o lugar certo a procurar é a 558ª Planta de Reparos de Aeronaves, na cidadezinha de Baranovichi – 147 km a sudoeste de Minsk, a capital bielorussa.
Vizinha da Ucrânia e dos Estados Bálticos (todos territórios cobiçados por Moscou), a Bielorússia é uma das ex-Repúblicas Soviéticas de melhores ligações com a Administração do presidente Vladimir Putin – que também tem o governo Morales entre os seus (mais inexpressivos) satélites.
Atualmente as oficinas da 558ª Planta de Reparos lidam com um estoque de aeronaves Su-30MK/K que pertenceu à Força Aérea da Índia. Aviões desprovidos de canards (aletas estabilizadoras na parte dianteira da aeronave), recebidos no período 1997/1999 e desativados em 2006.
Vinte e seis desses jatos foram remetidos em 2011 a Baranovichi para que a Aviação indiana pudesse receber outros, do mesmo modelo, mas em versão bem mais moderna. Parte deles já foi recuperada para ser usada pela Aviação de Caça de Angola.
Segundo a agência de notícias ITAR-TASS, os caças encomendados pelos angolanos foram revitalizados por meio de um upgrade no radar e no sistema de navegação; além da instalação de outros recursos, como um gravador de imagens que poderão ser acessadas na cabine do piloto.
E apesar de se tratar de aviões usados, nada, nesse serviço, é barato.
Ano passado, durante o show aéreo MAKS 2017, um artigo no jornal russo Komersant (“Homem de Negócios”) informou, com base em dados atribuídos a Pavel Pinigin, diretor da recuperadora de aeronaves de Baranovichi, que o governo de Luanda precisou investir quase 1 bilhão dos seus petrodólares para modernizar e receber em condições de voo um lote de 12 interceptadores Su-30 – acompanhados de simulador, suprimentos, documentação técnica e treinamento para pessoal (de voo e de manutenção em terra).
Entretanto, Baranovichi não recupera apenas jatos desse modelo.
Ela também repara e moderniza aeronaves de combate mais antigas (obsoletas) e baratas, como as dos tipos Su-22 Fitter-D, de ataque ao solo, e o caça-bombardeiro Su-24 Fencer – este, um famoso bimotor dotado de asas de geometria variável projetado durante a década de 1970.
Nota do Editor: os grifos em negrito no texto são de responsabilidade do articulista.