Por Alexandre Galante

Numa época em que não havia Internet e livros e revistas importados eram caros, entusiastas de Aviação no Brasil dependiam das revistas nacionais.

Duas revistas se destacavam: a Flap Internacional, do Carlos André Spagat e a AERO, do José Ribeiro de Mendonça.

A Flap Internacional era mais dedicada à Aviação Comercial e Civil, mas também trazia noticiário sobre indústria aeronáutica e aviação militar. Ela começou a partir de um jornal feito por estudantes adolescentes no início da década de 60.

Depois de quatro edições do jornal, na quinta publicação teve-se a ideia de fazer a capa em cores, com um Avro 748 da Força Aérea Brasileira. Surgiu então a revista Flap e pouco tempo depois a Editora Flap. Para ver como era a revista no início, clique aqui.

A Flap Internacional esteve sempre presente nas principais feiras aéreas e eventos aeronáuticos no mundo – Oshkosh, Farnborough e Le Bourget, entre outros.

Quanto às reportagens, a revista investiu na preservação da memória da aviação comercial brasileira, realizando uma série de matérias sobre aeronaves antigas que cruzaram durante muito tempo os céus do Brasil.

Em 1972, a revista já podia ser encontrada em todo o país com uma nova identidade – Flap Internacional, que na década de 80 já alcançava alguns países da América Latina.

A revista AERO, por sua vez, tinha mais matérias sobre Aviação Militar e históricas. Era mais artesanal e quase sempre atrasava. Não era muito fácil de ser encontrada nas bancas, pois tinha uma tiragem menor. Mas era muito gostosa de ler.

Tínhamos acesso às revistas de dois em dois meses, às vezes mais de três, então a sensação de passagem do tempo era muito lenta. Bem diferente de hoje, onde temos várias notícias de aviação quase em tempo real na Internet.

Existia outra revista muito interessante naquela época que se chamava MANCHE. Ela trazia novidades das frotas comerciais, fotos, curiosidades, históricos de companhias aéreas e matérias sobre modelismo. Não tinha a qualidade gráfica de revistas como a Flap, o formato era menor que uma revista padrão, mas tinha muito conteúdo. Um dos seus editores era o jornalista Mário B. Vinagre, que mais tarde tornou-se assessor de imprensa da Embraer.

No início dos anos 80 surgiu outra revista especializada em aviação no Brasil, a Voar, fundada pelo jornalista Paulo Laux, que já tinha sido colaborador da Flap e Manche.

A Voar era uma revista com uma abordagem mais dinâmica e mais leve que a Flap e também trazia boas reportagens.

Lembro do tempo em que ficou apertado dividir a mesada para comprar a Flap, a AERO e a Voar.

No final dos anos 70 e início dos 80 começaram a surgir as revistas brasileiras de Defesa e Tecnologia Militar, como a Defesa Latina e a Tecnologia & Defesa, que também cobria Aviação Militar.

A Defesa Latina trazia artigos assinados por militares da reserva e da ativa, além das matérias feitas por jornalistas. Ela também publicava cartas de leitores e algumas vezes suas páginas se transformaram em um fórum de debates como hoje fazemos nos comentários dos blogs.

A Defesa Latina não durou muito tempo e acabou superada pela Tecnologia & Defesa, que tinha melhor periodicidade e equipe editorial. Naquela época do auge da indústria de Defesa no Brasil, as revistas eram recheadas de publicidade da Engesa, Avibras e Embraer, além de anunciantes estrangeiros.

Pouco depois da Tecnologia & Defesa, surgiu a revista Segurança & Defesa, de Mário Roberto Vaz Carneiro, que tinha feito parte da equipe de colaboradores da revista AERO.

A revista era diagramada pelo jornalista Alexandre Fontoura, que também diagramava a revista AERO. Fontoura, que de vez em quando comenta aqui no Poder Aéreo, continua diagramando a revista Segurança & Defesa atualmente.

A mesma editora que publicava a revista Segurança & Defesa também publicou durante algum tempo uma revista dedicada somente à Aviação Civil & Militar, chamada Aviação em Foco.

De leitor a colaborador, depois militar e, finalmente, jornalista

Em meados dos anos 80, comecei a colaborar com desenhos para a revista Segurança & Defesa, após comprar os dois primeiros exemplares na livraria do Museu da Aeronáutica que ficava no Parque  do Ibirapuera. Escrevi para o editor oferecendo meus desenhos, que começaram a ser publicados na edição número 6. A passagem de leitor para colaborador de revista foi muito emocionante.

Meu desenho das fragatas classe Niterói foi publicado em forma de poster na revista Segurança & Defesa em 1987. Eu tinha 16 anos de idade e no mesmo ano ingressei na Marinha e coincidentemente me tornei tripulante da fragata Niterói!

No navio trabalhei com a equipe de manobra do helicóptero embarcado Westland Lynx.

Meu poster das Fragatas classe Niterói (clique na imagem para ampliar)
Galante a bordo da fragata Niterói, ao lado do helicóptero Lynx

Após a Marinha, onde trabalhei de 1986 a 1990, passei a trabalhar para as revistas Segurança & Defesa e Aviação em Foco, como diagramador através de empresa própria e também como colaborador. Por intermédio do editor das revistas, conheci o jornalista Alexandre Fontoura. Nos tornamos sócios e trabalhamos juntos em uma empresa de produção gráfica e continuamos amigos até hoje.

Cheguei também a colaborar com a revista Tecnologia e Defesa nos anos 90 quando esta passou a ser propriedade de Francisco Ferro, seu atual editor.

Depois de trabalhar e colaborar com as revistas, tive uma empresa de informática até ingressar no jornal O Globo, onde trabalhei de 1996 a 2008.

No jornal, atuei como diagramador e jornalista de assuntos aeronáuticos e de Defesa, tendo escrito dezenas de matérias e participado de coberturas jornalísticas importantes na Aviação, como a queda do Fokker-100 da TAM em 1997, em São Paulo, o ataque às Torres Gêmeas em 2001, a Guerra do Golfo em 2003 e os dois últimos grandes acidentes aéreos no Brasil.

O site Poder Naval que criei como hobby em 1997, virou um blog em 2007 e depois gerou mais dois sites em 2008, o Poder Aéreo e o Forças Terrestres, que formam a conhecida Trilogia Forças de Defesa.

Da trilogia de sites lancei a revista impressa Forças de Defesa em 2011, que materializou um antigo um sonho de ter uma revista própria.

Hoje, olhando para trás, constatamos que o trabalho no Globo, no site Poder Aéreo e na Trilogia Forças de Defesa (que completa 10 anos no dia 21 de agosto) só se tornou possível por causa daquelas revistas de aviação dos anos 1970/80.

Abaixo, algumas matérias minhas publicadas no jornal O Globo (clicar nas imagens para ampliar).

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