Piloto indiano critica compra de caça sino-paquistanês JF-17 pela Nigéria
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Aéreo
Semana passada, em um longo artigo para o Instituto de Estudos e Análises de Defesa de Nova Déli – intitulado “A Força Aérea da Nigéria e as operações COIN” –, o Capitão de Grupo Aéreo Kishore Kumar Khera, piloto de caça-bombardeiro Jaguar e pesquisador da entidade, a pretexto de discorrer sobre o poderio aéreo da maior potência militar da costa ocidental africana, exercitou a forte rivalidade hoje existente entre Índia e Paquistão, e desfechou crítica contundente à decisão dos nigerianos de comprar três caças sino-paquistaneses JF-17 Thunder.
“Com praticamente nenhuma ameaça convencional em suas fronteiras, a NAF [Nigerian Air Force] deve se equipar com o JF-17, de alto custo nesta conjuntura?” Pergunta o oficial indiano. E ele próprio responde:
“A sua [dos nigerianos] frota existente de F-7 [versão chinesa do MiG-21] tem apenas uma década de idade e é adequada, juntamente com os radares terrestres, para garantir a superioridade aérea em sua região contra ameaças que são conhecidas (…)”.
As Forças Armadas da Nigéria estão, nesse momento, empenhadas em combater a guerrilha do grupo Boko Haram, que atua no Nordeste do território nigeriano.
De acordo com o articulista – oficial da Força Aérea desde 1986, e que em 2003 passou a comandar esquadrões de combate –, incursões da Aviação Militar Nigeriana entre os dias 20 e 22 de dezembro de 2017 neutralizaram redutos terroristas do Boko Haram em Tumbun Rago – assentamento no Norte do estado de Borno, às margens do grande e importante Lago Chade.
As operações começaram com uma missão de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR), à qual se seguiu a interdição do espaço aéreo que seria utilizado para o bombardeio dos alvos previamente identificados.
Então vieram as missões de Avaliação de Dano de Batalha, que buscaram identificar com precisão a extensão dos prejuízos causados aos alvos e, finalmente, as operações de “limpeza” realizadas por helicópteros em vários locais – o que contribuiu para aumentar o grau de certeza acerca da destruição dos targets.
Operação semelhante foi realizada no período de 3 a 4 de janeiro deste ano, por aeronaves anti-guerrilha em conjunto com tropas especiais do Exército da Nigéria, nas localidades de Sambisa, Njimia e Camp Zairo.
“Os recursos financeiros destinados aos três JF-17 poderiam ser utilizados, de forma otimizada, para atualizar a rede de vigilância e comunicação e reduzir o tempo de preparação para a deflagração das operações COIN”, escreveu o capitão Kumar Khera; que, logo, sentenciou:
“Construir a capacidade de eliminar a insurgência atual deve, idealmente, prevalecer sobre a necessidade de recursos para enfrentar uma hipotética ameaça convencional. Além disso, a aquisição de apenas três JF-17s não representará uma comprovação profissional das exigências da sua [do jato sino-paquistanês] manutenção”.
Sri Lanka – O Poder Aéreo lembra que não é a primeira vez que os indianos tentam interceptar e anular uma manobra dos paquistaneses de exportação dos jatos JF-17.
No início do ano passado, o governo do Primeiro-Ministro Narendra Modi pressionou a Administração do Sri Lanka (antigo Ceilão) no sentido de que ela desistisse de importar um lote de caças sino-paquistaneses – negociação que já se encontrava em seus trâmites finais.
Por meio dos canais diplomáticos, Déli comunicou que a eventual aquisição das aeronaves, além de esfriar o relacionamento dos dois países (o Sri Lanka se encontra na órbita de influência político-econômica da Índia), resultaria no cancelamento de um empréstimo já aprovado em Déli da ordem de 400 milhões de dólares.
Núcleo – Em seu artigo, o capitão aviador Kumar Khera lembra que a Nigéria compartilha fronteiras terrestres com Níger, Benin, Chade e Camarões, e que seu poderio militar é maior que o desses quatro países juntos.
“Suas três bases aéreas estão estrategicamente localizadas”, diz o articulista, “e mais de 30 pistas de pouso uniformemente espalhadas por todo o país permitem uma aplicação eficiente do poderio pelo ar”.
O autor do texto passa, então, a descrever as principais ações da Aviação Nigeriana nos últimos anos:
- Manutenção, como caças de 1ª linha, de 14 jatos chineses tipo F7, adquiridos entre 2005 e 2008;
- Desativação progressiva de aviões de combate MiG-21 e Jaguar;
- Formação de um núcleo de aeronaves de ataque ao solo para missões de contra-insurreição (COIN na sigla em inglês): 13 Alpha Jets, 23 L-39 e 12 MB-339, além de 11 helicópteros de ataque russos dos modelos Mi 24 / Mi 35.
Lastreados nas receitas advindas da exploração do petróleo, os recursos do Ministério da Defesa nigeriano servirão, em 2018, ao pagamento de três helicópteros utilitários leves do Exército, de dois helicópteros incorporados pela Aviação Militar, de um UAV comprado pela Marinha e à manutenção de dois Alpha Jets e de um cargueiro tipo C-130.
Mas a operação comercial prevista para o ano em curso que mais chama a atenção é a de 593 milhões de dólares, que envolve:
- a aquisição de uma dúzia de aeronaves A-29 Super Tucano (com treinamento, peças sobressalentes, suprimentos, itens de apoio em terra, hangares e instalações de infra-estrutura;
- 200 bombas GBU-12/58;
- 400 foguetes guiados a laser;
- 2.000 bombas MK-81 (250lb);
- 6.000 foguetes não guiados;
- 20.000 cartuchos de munição de metralhadora calibre .50;
- 7 sensores eletro-ópticos / infravermelhos (EO/IR) tipo AN/AAQ-22F; e – designadores de laser.