Por Mario Cesar Carvalho
de São Paulo

Um ex-executivo da Embraer se declarou culpado na Justiça dos EUA e reconheceu que pagou US$ 1,5 milhão para um alto funcionário do governo da Arábia Saudita para fechar a venda de três aviões para a estatal de petróleo daquele país.

O ex-executivo da Embraer violou uma lei que proíbe empresas que têm negócios nos Estados Unidos de pagar propina no exterior.

A confissão é uma forma de a Embraer retirar entraves para fechar um eventual acordo com Boeing, segundo a Folha apurou com profissionais que atuaram no caso.

A confissão foi feita nesta quinta (21), mesmo dia em que o jornal americano “Wall Street Journal” revelou que a Boeing declarou tem interesse em fechar uma parceria com a empresa brasileira.

O governo do presidente Michel Temer diz ser contra a venda do controle da empresa.

A Embraer é a quarta maior fabricante de jatos do mundo, atrás de Boeing, Airbus e Bombardier, com um faturamento de US$ 7,1 bilhões em 2016, último dado disponível.

A proposta de acordo da norte-americana Boeing é uma tentativa de fazer frente ao avanço de concorrentes. A Airbus, um consórcio europeu, anunciou a compra da divisão de jatos regionais CSeries da canadense Bombardier por US$ 6 bilhões.

A CONFISSÃO
O ex-executivo da Embraer confessou ter violado uma lei dos EUA chamada FCPA (Foreign Corrupt Practices Act ou Lei de Práticas Corruptas no Exterior).

O britânico Colin Steven, 61, era acusado de uma série de crimes além da violação dessa lei, como lavagem de dinheiro, conspiração para lavar dinheiro, falso testemunho à Justiça e fraude envolvendo comunicação. Ele se declarou culpado de todas as acusações.

A sentença do caso deve ser anunciada nos próximos meses, como é praxe em casos similares nos EUA. Steven era vice-presidente de venda de jatos da Embraer.

Em seu relato aos procuradores da corte sul de Nova York, o executivo disse que estava negociando a venda de jatos executivos para a companhia estatal de petróleo da Arábia Saudita quando um alto funcionário dessa empresa afirmou que poderia garantir a compra se a Embraer pagasse um suborno de US$ 1,5 milhão.

No começo de 2010, a companhia brasileira concluiu a venda de três jatos por US$ 93 milhões
O ex-vice-presidente também confessou aos procuradores que uma parte da propina retornou para ele, o que havia negado anteriormente.

O suborno foi pago ao executivo da Arábia Saudita por meio de uma empresa da África do Sul, que pertence a amigos do ex-executivo da Embraer, ainda de acordo com o ex-vice-presidente.
A confissão ocorreu depois de a Embraer ter fechado um acordo com a Justiça dos Estados Unidos em outubro do ano passado.

Nesse acordo, a companhia se comprometeu a pagar uma multa total de US$ 205 milhões para órgãos como o Departamento de Justiça dos EUA, a SEC, entidade que vigia o mercado financeiro dos EUA, e autoridades brasileiras e sauditas.

No trato, a Embraer reconhece que havia pago US$ 5,97 milhões de propina para autoridades de Arábia Saudita, República Dominicana e Moçambique entre 2007 e 2010. De acordo como FBI, a polícia federal dos EUA, 11 executivos brasileiros participaram do suborno na República Dominicana.

Acordo similar foi fechado no Brasil em 2016.

FONTE: Folha de São Paulo

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