A-29 Super Tucano em operação na Força Aérea dos EUA
No 81º Esquadrão de Caça da Força Aérea dos EUA, em Moody, Georgia, pilotos americanos e afegãos voam a avançada aeronave de contrainsurgência A-29 Super Tucano
Por Kaiser Konrad/Diálogo
A Base Aérea de Moody está localizada no estado da Geórgia, nos Estados Unidos. Desde 2006, é a casa da 23ª Ala Aérea do Comando de Combate da Força Aérea dos EUA (USAF, por sua sigla em inglês). Ali estão baseadas suas três principais unidades: o 23º Grupo de Caça, que reúne dois esquadrões e a maior frota de A-10C Thunderbolt II da USAF, com mais de 90 pilotos, sendo esta uma unidade de pronto emprego capaz de ser desdobrada para qualquer lugar do mundo em pouco tempo; o 347º Grupo de Resgate, composto por três esquadrões, um equipado com aeronaves HC-130P Combat King, outro com helicópteros HH-60G Pave Hawk e um terceiro formado por Anjos da Guarda, sendo a mais antiga unidade da USAF, exclusivamente dedicada a missões de Busca e Resgate em Combate (C-SAR, por sua sigla em inglês). Esta base aérea foi escolhida em 2014 para receber o 81º Esquadrão de Caça (81st FS, por sua sigla em inglês), sendo sede do programa Light Aircraft Support (Apoio de Aeronaves Leves, ou LAS, por sua sigla em inglês) e das novas A-29 Super Tucano, aeronaves turboélice de ataque leve e treinamento.
81st Fighter Squadron
As atividades começam cedo na Base Aérea de Moody. Reunidos no auditório do 81st FS, os pilotos da Força Aérea do Afeganistão são sabatinados por experientes pilotos de combate da USAF. Naquela manhã, eles deveriam saber identificar nas imagens aéreas a localização exata de um alvo passado pela tropa em solo, mas que não era designado por laser. Não seria uma tarefa fácil, pois ele estava numa zona urbana e, vistas de cima, as construções são muito parecidas umas às outras. Era como encontrar uma agulha no palheiro, mas os pilotos que cumprem missões de ataque ao solo devem conseguir identificar isso, pois deles dependem as vidas dos colegas lá embaixo, que sob fogo inimigo, requisitam imediato apoio aéreo aproximado. Esses pilotos também precisam evitar os danos colaterais e saber escolher o armamento correto e utilizá-lo da forma mais precisa possível, pois as tropas que requisitam o apoio aéreo, assim como os civis que vivem ao redor, são seus compatriotas ou de forças aliadas, cuja proteção precisa ser assegurada.
O 81st FS foi criado em 15 de janeiro de 1942, participando ativamente da Segunda Guerra Mundial. Em 1988, ao receber os aviões F-16 Fighting Falcon, se tornou a primeira unidade da USAF a utilizar duas diferentes aeronaves no mesmo elemento de combate. Os “Panteras”, como é conhecido o 81st FS, foi a primeira unidade de combate da USAF a receber para um programa de treinamento a versátil e poderosa aeronave de contrainsurgência A-29 Super Tucano, que havia sido selecionada pelos americanos para o programa LAS. O objetivo era o fornecimento inicial de 20 aeronaves para a Força Aérea do Afeganistão.
O programa LAS tinha como requerimento uma aeronave leve e de alta resistência e confiabilidade, uma plataforma madura genuinamente de combate, mas que tivesse um custo operacional significativamente inferior aos caças em operação. Essa aeronave deveria ser capaz de executar missões de inteligência, vigilância e reconhecimento, realizar ataques empregando uma grande variedade de armamentos convencionais e inteligentes, operar em terrenos acidentados e em condições extremas, sendo capaz de lutar e vencer em cenários de conflitos de baixa intensidade e de contrainsurgência.
Formação de pilotos afegãos
A rotina diária em Moody é composta por aulas teóricas, atividades no simulador de voo e a realização de pelo menos 10 surtidas por dia entre os pilotos. Cada piloto faz uma no período da manhã e outra à tarde. Geralmente são necessários seis meses para um piloto realizar a conversão de uma aeronave a outra, mas com o Super Tucano isso é bem suave e somente 19 surtidas são suficientes. A aviônica do A-29 é muito parecida com a do F-16. O painel tem três grandes telas multifuncionais coloridas e um sistema é muito amigável, permitindo ao piloto e copiloto acessar informações de vários sensores. A USAF está aprendendo muito com a aeronave e todas as suas capacidades.
O “treinamento pressupõe a realização repetitiva de tarefas de modo a alcançar o padrão de desempenho esperado”, disse o Coronel João Alexandro Vilela, piloto de caça da reserva da Força Aérea Brasileira. “Assim, como aeronave de treinamento, o turboélice Super Tucano permite operacionalizar as tarefas de treinamento de caça com menor custo. Adicionalmente, sua sofisticada cabine cria um ambiente tecnológico de modo a aprimorar a capacidade de julgamento e processo decisório do piloto, em tempo real, juntamente com as habilidades de coordenação motora exigida por caças com cabines de 4ª geração. Como aeronave de ataque leve, respeitando as condições do cenário operacional, ele permite empregar seu sistema de armas com eficácia e alta precisão”.
O programa LAS vai treinar 30 pilotos de ataque afegãos e entregar 20 aeronaves A-29, sendo que a maior parte delas já foi entregue ao Afeganistão. “Os alunos vêm de diversas origens, mas eles são os melhores em seus locais de origem”, afirmou o Tenente-Coronel da USAF Ryan Hill, comandante do 81st FS. “Alguns receberam treinamento inicial no T-6 aqui nos EUA, enquanto outros treinaram no Afeganistão. Muitos dos nossos alunos têm experiência anterior no Cessna 208, voando CASEVAC (evacuação de acidentes, por sua sigla em inglês) e missões de transporte em todo o Afeganistão”.
Pelo menos 17 instrutores da USAF apoiam a formação dos pilotos afegãos, a maior parte deles capitães e majores com experiência em combate e provenientes de esquadrões de A-10, F-16 e F-15E. A fase de treinamento inclui voo em formação, navegação à baixa altura, manobras táticas, modalidades de ataque com diversos tipos de armamento, com foco em missões de apoio aéreo aproximado. Enquanto se preparam em Moody, os alunos usam munição de treinamento, incluindo as bombas BDU-33, foguetes com cabeça de guerra inerte e munição de metralhadora de 12.7 mm não-incendiária. Quando chegam ao Afeganistão, os pilotos vão para o estande de tiro nas cercanias de Cabul treinar com armamento real antes de empregá-los em combate.
O Super Tucano em combate
Os primeiros quatro Super Tucano chegaram ao Afeganistão em janeiro de 2016, tendo sua base de operações no Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em Cabul, a capital afegã. Sua primeira surtida de combate não demorou a acontecer. No dia 15 do mesmo mês, na província de Badakhsan, no nordeste do país, três ataques aéreos noturnos foram conduzidos no vale de Khostak. Desde então, começaram a executar de duas a quatro missões por semana. Durante todo o ano de 2016 as aeronaves realizaram 320 surtidas de combate e empregaram armamento em 138 delas. O Super Tucano tem fornecido poder aéreo estratégico ao governo afegão e à renascida Força Aérea do país. Essas aeronaves possuem maior alcance, capacidade de resposta e potência de fogo do que outros sistemas de armas.
Graças à sua flexibilidade, baixo custo e precisão, ao A-29 recai a responsabilidade de executar duas das principais modalidades de ataque no teatro afegão, o Close-Air Support (apoio aéreo aproximado), que é conduzido quando um controlador aéreo avançado de um comboio ou patrulha sob ataque direto ou emboscada, requisita e coordena fogo imediato sobre o inimigo localizado muito próximo da sua posição, sendo o controlador responsável pela ação; e o Close-Combat Attack (ataque de combate aproximado), similar ao anterior, no entanto, quando o piloto é requisitado para fornecer o apoio aéreo aproximado ele realiza um ataque deliberado contra o alvo em questão com o armamento e modo de livre escolha, sendo responsável pela ação e suas consequências. Os A-29 têm sido usados para atacar alvos pré-selecionados, veículos, bases de treinamento e para matar lideranças insurgentes e terroristas, tal qual foi feito com sucesso na Colômbia.
Outra tarefa importante é a escolta de comboios, e as aeronaves se mostraram mais eficientes do que os helicópteros armados ou genuinamente de ataque. Neste caso, os aviões fazem o reconhecimento da rota dentro de um raio de quatro a seis milhas para depois manter o comboio na condição visual entre 25 e 30 graus, na posição da metralhadora da asa esquerda. No caso de perder contato com os veículos o piloto deve fazer um rasante sobre eles para ser visto. O importante é sempre pensar como o inimigo. Se o comboio for atacado ou sofrer uma emboscada o A-29 deve escalar a força mostrando sua presença. O objetivo é fazer com que o inimigo abandone sua intenção hostil, por isso a aeronave precisa ser vista e ouvida.
“Os pilotos têm sido muito bem-sucedidos. Eles trabalham em coordenação direta com as forças terrestres e têm conseguido extrema precisão no seu emprego de armas contra as forças inimigas”, declarou o Ten Cel Hill.
O Afeganistão possui 407 distritos, 133 deles estão sendo contestados e 41 estão sob controle do Talibã, o que tem dado muito trabalho às forças de segurança do país. Para agravar ainda mais a situação, existe o avanço do Estado Islâmico naquela região, por isso os Super Tucano têm sido cada vez mais requisitados. Eles podem responder a um ataque a comboio a uma velocidade três vezes maior do que a de um helicóptero e carregam uma maior quantidade e variedade de armas de precisão e saturação, o que tem sido um fator decisivo.
“O Super Tucano foi a escolha certa para o Afeganistão”, disse o Ten Cel Hill. “Os pilotos que treinamos aqui no 81º FS alcançaram sucesso imediato no campo de batalha. A aeronave tem se comportado bem no ambiente hostil, fornecendo uma plataforma de armas confiável e eficaz para os militares afegãos. Foi uma oportunidade maravilhosa para nós treinar os afegãos nessa plataforma e ajudá-los a construir sua Força Aérea de combate. Também, como aprendemos mais sobre o emprego do Super Tucano, tivemos a oportunidade de trocar conhecimentos com os brasileiros e colombianos. Esses relacionamentos são importantes para nós e nos fornecem algumas ótimas ideias e técnicas. Planejamos continuar esses relacionamentos no futuro”, concluiu.
FONTE: dialogo-americas.com