O demonstrador do Gripen NG serviu para reduzir o risco de desenvolvimento de uma nova versão do Gripen. É um JAS 39D modificado, com novo motor, trem de pouso reprojetado e reposicionado, novos sensores e aviônicos, que agora cumpre parte do programa de testes do Gripen E/F

A filosofia de melhoramentos nas aeronaves, no caso do Gripen, é introduzi-los gradativamente, sem os grandes saltos normalmente realizados nas modernizações de meia vida (MLU) de outros caças. Por isso, o Gripen tem sido uma aeronave em constante evolução ao longo de sua carreira. Porém, ao longo do tempo um conjunto maior de alterações deu origem a novas versões, como foi o caso dos modelos C/D em comparação aos A/B. Há cerca de uma década, começou o programa ‘Next Generation’ ou “Gripen NG”, que deverá levar às denominações operacionais E/F.

O programa Gripen NG possuía duas metas básicas: gerar uma nova versão e desenvolver novas tecnologias que também possam ser incorporadas à atual frota de caças Gripen. O contrato para o desenvolvimento foi assinado em 2007 e a aeronave de ensaios Gripen Demo (demonstrador), foi apresentada no dia 23 de abril de 2008.

Sob o comando dos pilotos de ensaio Mikael Seidl e Magnus Ljungdahl, o jato voou pela primeira vez em 27 de maio daquele ano. Trata-se de um JAS-39B biposto, que já havia sido convertido para 39D (matrícula original 39-803). A aeronave foi parcialmente reconstruída para testar novas melhorias estruturais, novas tecnologias e novos conceitos, recebendo também a designação 39-7, dentro da sequência geral de protótipos e aviões de testes do programa Gripen.

O programa Gripen NG formará a base para a futura família de caças JAS 39E/F que entrará em operação na Flygvapnet e na Força Aérea Brasileira no início da próxima década. O novo avião é mais pesado do que seu antecessor, com tomadas de ar maiores, um trem de pouso principal reprojetado e deslocado da fuselagem para as raízes das asas (recolhendo em novas carenagens), o que permitiu o aumento da capacidade de combustível interno em torno de 40%, juntamente com um motor com 35% a mais de empuxo: o F414G, o mesmo do Super Hornet. Além disso, uma nova suíte de sensores e aviônicos está em desenvolvimento para ampliar ainda mais a capacidade do caça.

Motor GE F414

A SELEX Galileo desenvolve um novo radar AESA para o caça, o ES 05 Raven com tecnologia “swashplate” (a antena do radar, inclinada, gira num eixo longitudinal) permitindo ampliar a área de varredura de um ângulo de 60 graus, dos radares AESA fixos, para 100 graus.

A Saab também escolheu o IRST de busca e rastreio por infravermelho Skyward-G, fabricado pela SELEX Galileo.  Como os sistemas similares, o Skyward-G fornecerá uma funcionalidade semelhante a um radar, sem emitir radiação eletromagnética e poderá, portanto, fornecer uma ampla funcionalidade de busca e rastreio, com alta discrição.

Radar AESA Selex Raven ES-05 e IRST Skyward-G

Outro sistema da SELEX será o identificação amigo ou inimigo (IFF) com três arranjos de antenas orientáveis eletronicamente, que coincide com o alcance do radar e campo de visão. Integrados, os três sistemas sinalizarão um ao outro automaticamente e, por fusão de dados com o novo sistema de guerra eletrônica, o piloto terá uma única imagem com as informações de que precisa, podendo compartilhar esses dados com outros Gripen, por data link.

O IRST já foi instalado no avião de testes 39-7 e, no início de abril de 2014, a Saab noticiou o primeiro voo com o sistema, comprovando a capacidade de detectar, acompanhar e identificar múltiplos alvos. Esses diversos sistemas, integrados, aumentarão a capacidade do Gripen detectar alvos com baixa seção reta-radar (RCS), ou seja, caças furtivos.

Gripen NG com IRST
Desenho em três vistas do Gripen E. Nota-se o trem de pouso frontal com apenas uma roda, a protuberância no nariz que abriga o IRST e uma pequena entrada de ar na base do estabilizador vertical, além da modificação do desenho dos trilhos das pontas das asas, que incorporam equipamentos do novo sistema de guerra eletrônica e de alerta radar

Melhores sistemas defensivos, alcance maior e ‘supercruise’

Entre outros destaques nos sistemas de combate, além do novo radar AESA e do IRST, o avião será dotado de um avançado sistema de visor montado no capacete (Helmet Mounted Display – HMD) e um sistema de alerta de aproximação de mísseis (Missile Approach Warning System – MAWS).

Este integra um novo sistema de guerra eletrônica desenvolvido pela Saab, cujas antenas têm tecnologia de nitreto de gálio, e para o qual também foi selecionado outro produto da SELEX, as iscas (decoys) dispensáveis ativas BriteCloud. Espera-se que esse conjunto completo, combinado ao fato do caça já ter uma seção reta-radar reletivamente pequena, aumente sua capacidade de sobrevivência contra ameaças da chamada quinta geração de caças e de novos tipos de mísseis superfície-ar (SAM).

Quanto ao poder ofensivo em combates aéreos, o Gripen já foi ou está sendo certificado para utilizar uma gama muito grande de armas, como os mísseis ar-ar Phyton 4 e 5,
IRIS-T, AMRAAM e o Meteor – quanto a este último, o Gripen C/D com software padrão MS20 (o padrão seguinte, MS21, deverá equipar a nova geração) deverá ser o primeiro caça a operar a arma.

O aumento da capacidade de combustível interno, resultante da mudança no trem de pouso principal, permitirá que o Gripen NG atinja um alcance de translado de 2.200 milhas (4.000km) e um raio de combate de 700 milhas náuticas ou 1.300km, com 30 minutos “on station”, aumentando seu potencial defensivo e ofensivo (neste último caso, a já razoavelmente extensa gama de armamentos ar-solo e ar-mar das versões atuais do Gripen deverá ser ampliada com o Gripen NG, capaz de decolar com maior carga útil).

Primeiro voo

A Saab realizou a apresentação em Linköping (cerimônia de roll out) do protótipo 38-9 do Gripen E no dia 18 de maio de 2016. O primeiro voo do Gripen E 39-8 estava previsto para ocorrer até o final de 2016, mas foi adiado segundo a Saab para permitir o refinamento do software de controle de voo.

A Saab enfatizou que o atraso no primeiro voo do protótipo não se deveu a dificuldades técnicas. Em vez disso, a empresa decidiu revisar seu planejamento de testes e atrasar o início dos testes de voo até que a arquitetura inovadora da aviônica da aeronave tivesse sido totalmente qualificada. Usando um conceito conhecido como DIMA (distributed integrated modular avionics – aviônica modular integrada distribuída), a aviônica do Gripen E segrega as funções críticas do voo de aplicativos não críticos.

Refinar a arquitetura antes do voo deve acelerar o programa de testes, uma vez que novas funcionalidades podem ser adicionadas e testadas sem ter que ser re-qualificadas à medida que as iterações sucessivas da arquitetura básica são introduzidas.

Saab Gripen E

Finalmente, no dia 15 de junho de 2017, a Saab realizou o primeiro voo de seu caça Gripen E 39-8. O piloto de teste do avião de nova geração, Marcus Wandt, decolou da fábrica da Saab em Linköping, às 10h32, hora local, para um voo de 40 minutos durante o qual o controle de voo foi avaliado.

Wandt inicialmente manteve o trem de pouso baixado, enquanto uma aproximação simulada e uma volta foram conduzidas, antes que o trem de pouso fosse levantado e o manuseio da aeronave fosse avaliado em modo de combate.

Segundo o piloto, o desempenho do Gripen E superou as expectativas.

Gripen E decolando para o primeiro voo

Cronograma de desenvolvimento

Ao longo de sua vida, o sistema Gripen foi atualizado através de uma série de atualizações como parte do programa MS (material system). O primeiro Gripen E (aeronave 39-8) destina-se a testes do veículo aéreo e estruturais e está voando com uma versão do atual software MS20 do Gripen C/D, juntamente com a instrumentação de testes no cockpit.

Por enquanto, muitos dos sistemas de missão previstos da aeronave estão sendo testados no demonstrador de tecnologia Gripen Demo (aeronave 39-7), mas as duas aeronaves subseqüentes (39-9 e 39-10) assumirão o trabalho de desenvolvimento do sistema.

As primeiras entregas de aeronaves de produção estão previstas para 2019. A aeronave inicial para a Suécia terá o software MS21 que fornece uma capacidade básica de combate ar-ar, mas, até o final de 2023, o primeiro verdadeiro esquadrão multifunção com a especificação completa do software MS22 está programado para se tornar operacional.

A Força Aérea sueca planeja que todos os seis de seus esquadrões de combate operem 60 Gripen E com o MS22 até 2026.

Saab Gripen E, em foto feita durante o primeiro voo

Gripens brasileiros

O Brasil encomendou 36 caças Gripen E/F e sua indústria aeroespacial está desempenhando um papel fundamental na aeronave de nova geração. A Embraer lidera o consórcio brasileiro e os principais componentes da aeronave, como seções de fuselagem dianteira e traseira, caixa de asa, cauda e freio aerodinâmico serão fabricadas na instalação Saab Aeronáutica Montagens (SAM) em São Bernardo do Campo.

Um centro de montagem final está sendo completado em Gavião Peixoto – SP, onde a GDDN (Gripen Design and Development Network) foi inaugurada em novembro passado. Outras empresas brasileiras envolvidas incluem AEL Sistemas, Akaer, Atech, Atmos, DCTA e Inbra Aerospace.

As atividades de desenvolvimento que estão sendo realizadas no Brasil estão centradas em torno do Gripen F biposto, para o qual uma equipe conjunta da Saab-Embraer foi formada na GDDN. O Brasil também é responsável pelo Gripen marítimo proposto para operar em porta-aviões, para o qual um estudo de viabilidade faz parte do programa de compensação tecnológica.

GDDN

Grande parte do desenvolvimento do cockpit está sendo realizado no Brasil, com a subsidiária da Elbit AEL Sistemas liderando o esforço. O Brasil especificou um layout do cockpit com uma única tela ampla WAD e uma versão de mira montada no capacete Elbit Targo. A Suécia ainda não decidiu se vai para a tela ampla ou emprega um cockpit semelhante ao encontrado no Gripen C/D, com três monitores grandes multifunções em cores.

Display panorâmico WAD Modelo B da AEL Sistemas – Foto: Gilmar Gomes

Hoje, cerca de 60 engenheiros brasileiros de empresas parceiras estão sendo treinados nas instalações da Saab, na Suécia, e mais de 100 profissionais já retornaram ao Brasil. A maioria deles está trabalhando no desenvolvimento da aeronave no GDDN.

Até 2024, mais de 350 profissionais brasileiros, entre engenheiros, operadores, técnicos e pilotos das empresas parceiras da Saab e da Força Aérea Brasileira participarão de cursos e treinamento on-the-job na Suécia.

Habilidades e conhecimentos serão adquiridos pela indústria brasileira, possibilitando um extenso trabalho de desenvolvimento e produção do Gripen, incluindo a montagem final de aeronaves no Brasil. O programa de transferência de tecnologia é composto por mais de 50 projetos-chave, com duração de até 24 meses.

Alguns números do programa:

  • Serão 8 bipostos, somente para o Brasil;
  • 8 aeronaves serão montadas na Suécia com auxílio de brasileiros realizando on-the-job training;
  • 8 monopostos serão montados integralmente na Embraer;
  • 7 bipostos serão montados integralmente na Embraer;
  • 10 pilotos brasileiros, 2 de ensaio e 8 operacionais serão formados na Suécia.

O último cronograma divulgado pela FAB sobre o desenvolvimento do Gripen E/F é o seguinte:

2019

  • Janeiro – Início da certificação
  • Julho – Primeiro voo da aeronave FTI (Flight Test Instrumentation) monoposto brasileira

2020

  • Junho – Início da produção de aeronaves na Embraer

2021

  • Outubro – Primeiro voo da aeronave FTI (Flight Test Instrumentation) biposto brasileira
  • Outubro e Novembro – Entrega das primeiras aeronaves de série (8 e 3 aeronaves respectivamente)

2022

  • Agosto – Entrega do primeiro monoposto produzido na Embraer

2023

  • Setembro – Entrega do primeiro biposto produzido na Embraer

2024

  • Novembro – Entrega da última aeronave biposto
Saab Gripen E no segundo voo de testes
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