Stealth é necessário, mas não suficiente: adicione guerra eletrônica, inteligência e táticas
Por Colin Clark
A capacidade stealth (furtiva) foi vendida como algo próximo à magia quando surgiu pela primeira vez. E, como costuma acontecer, quando reivindicações extraordinárias são feitas, a retaliação foi intensa. Os céticos apontaram a sua vulnerabilidade aos radares terrestres em grande escala, ao fato de não ser invisível a olho nu, aos custos e dificuldades de manter os revestimentos caros e ao custo geral surpreendente de algumas aeronaves (por exemplo, o bombardeiro B-2).
No dia 2 de agosto, o Instituto Mitchell da Associação da Força Aérea (AFA) dos EUA lançou um estudo sobre furtividade que deve pôr fim a muitas dessas críticas. O relatório argumenta simplesmente que os caças, os bombardeiros e, provavelmente, os aviões-tanque precisam de stealth para se manterem eficazes e para lidar bem contra ameaças de mísseis cada vez mais sofisticadas em terra e no ar.
Na linguagem fundamentada do relatório: “A furtividade, ou a redução da assinatura da aeronave, é uma capacidade militar potente e viável no combate moderno, e permanecerá assim no futuro. Não é, no entanto, uma capacidade tudo ou nada, como sugeriram algumas críticas”.
Portanto, a furtividade não é mágica, mas é absolutamente necessária, dizem os autores do estudo. Por quê? Stealth “reduz significativamente o alcance em que a aeronave pode ser detectada e, por sua vez, aumenta a capacidade de sobrevivência. Stealth combinado com velocidade cria desafios adicionais para as defesas aéreas inimigos. (veja o F-22). Mesmo que os defensores possam detectar a presença de aeronaves, o tempo que eles têm para rastrear, disparar e orientar os mísseis superfície-ar (SAM) é mínimo. Às vezes, as janelas de engajamento são tão pequenas, que aeronaves furtivas detectadas são quase impossíveis de se engajar”.
Eles têm um gráfico útil para ilustrar os conceitos básicos de detecção de uma aeronave:
Para a perspectiva, a detecção do alcance visual é de três milhas — em clima perfeito.
E quanto menor é a seção reta radar de um avião — graças ao stealth — mais difícil é detectar com certeza. Isso significa que um inimigo deve construir um sistema de defesa aérea muito mais denso para garantir uma chance decente de parar os aviões de guerra dos EUA. Quão denso? Confira o quadro abaixo:
Em uma entrevista que fiz há três anos com o Gen. Mike Hostage, escrevi que o que marca o F-35 como arma dominante é a combinação de furtividade, poder de computação, designador de alvos embutido e bancos de dados e sensores. Toda essa informação é fornecida ao piloto através do capacete com alvos gerados automaticamente, armas e escolhas de rota. Essas escolhas de rota, baseadas em inteligência, são extremamente importantes para a capacidade de uma aeronave de penetrar nas defesas do inimigo.
Este gráfico, apresentado no evento da AFA, ilustra como os aviões furtivos conseguem atravessar as defesas aéreas do inimigo:
Mesmo com o projeto furtivo (bordas inclinadas, ar resfriado e entradas e revestimentos mascarados), a aeronave precisa gerenciar seu espectro eletromagnético. O radar AESA e as ferramentas de guerra eletrônica em aeronaves como o F-35 podem ajudar a mascarar o avião ainda mais. Adicione a guerra cibernética e a falsificação eletromagnética — enviando informações erradas aos sensores inimigos — e você terá uma combinação bastante letal.
Como disse o major-general da reserva Mark Barrett, um dos dois autores do estudo, à audiência, “o stealth ainda nos dá uma chance de luta”. Barrett, ex-piloto de F-22 e agora vice-presidente da empresa de consultoria Operational Support Group, acrescentou que o custo total das aeronaves furtivas é “relativamente baixo” pelo simples motivo de que elas podem penetrar as defesas de um inimigo de forma mais eficaz do que os aviões de quarta geração, especialmente quando você fala sobre a frota de bombardeiros B-2. Confira este gráfico:
A capacidade stealth melhora as probabilidades de um caça no combate contra um inimigo — Hostage e outros pilotos de combate chamam esse fator de “kill chain” — que também pode ser verificado no próximo gráfico. O F-16 e o russo Su-27 se detectam na mesma distância. O F-22, nesta ilustração não secreta, possui uma enorme vantagem porque a furtividade torna muito mais difícil a detecção frontal. (Todos os aviões com caudas podem ser mais facilmente detectados de lado). O avião furtivo pode detectar a outra aeronave a uma distância muito maior, permitindo uma probabilidade muito maior de matar o piloto inimigo.
Mas os autores do estudo levantam a pergunta correta: “A furtividade permanecerá viável nas próximas décadas diante das novas tecnologias, ou sua eficácia diminuirá? Os Estados Unidos devem continuar a investir em sistemas furtivos para melhorá-los ou mitigar a tecnologia que tenta neutralizá-los ou mudar sua abordagem? O debate sobre essas questões aumentará nos próximos anos à medida que os gastos com sistemas como o F-35 e o futuro B-21 aumentam”.
A conclusão é que, sim, stealth é absolutamente necessário, mas não existe por conta própria. Mas é importante que Barrett tenha dito durante a apresentação que ele pensa que a recente discussão sobre a construção de um avião-tanque furtivo está no caminho certo por causa das “tiranias da distância” no teatro do Pacífico. Claro, eles vão ter que descobrir como construir uma sonda de reabastecimento furtiva.
FONTE: Breaking Defense / Tradução e adaptação do Poder Aéreo