Os sauditas não querem mais C-130J?
por Guilherme Poggio (texto atualizado às 18h00)
Desta maneira foi tornado público o interesse da Arábia Saudita em adquirir a versão mais atual da família Hercules para substituir seus antigos aviões da mesma família. Cabe destacar que a Arábia Saudita é a maior operadora de Hercules (nas diversas versões ‘legacy’) do mundo, excluindo-se a própria USAF.
Menos de um ano depois da notificação ao Congresso, a própria Lockheed Martin (fabricante do C-130) anunciou que havia concluído um acordo com o Governo dos EUA, via Foreign Military Sales (FMS), para a venda “dos primeiros dois C-130J de um potencial de 25 aeronaves” para a Arábia Saudita.
Após a conclusão do acordo de outubro de 2013, o pedido saudita para dois KC-130J entrou na longa fila de produção da Lockheed Martin. As aeronaves foram entregues no início de 2016 e se juntaram aos outros KC-130 mais antigos do 32º Esquadrão da 6ª Ala, sediada na Base Aérea de Prince Sultan.
A parte intrigante dessa história é que sobre as demais 23 aeronaves da intenção inicial não se ouviu mais nada. Por outro lado, em dezembro de 2015 o site da fabricante de aeronaves ucraniana Antonov publicou uma nota curiosa. Uma empresa saudita chamada Taqnia Aeronautics havia assinado um Memorando de Entendimento com a Antonov.
A intenção do acordo era promover conjuntamente o novo avião de transporte An-178 (em desenvolvimento) em outros mercados do Oriente Médio e, no futuro, produzir o avião de forma cooperada. No dia seguinte a agência de notícias russa Sputnik, tendo como base a matéria publicada pela RIA Novosti, anunciou que a Arábia Saudita havia comprado 30 aeronaves de transporte An-178.
O An-178 é um projeto novo derivado do jato regional An-148/158. Um único protótipo foi produzido até o momento, sendo que o mesmo foi exibido pela primeira vez em Le Bourget, em 2015. Há informações de que uma empresa civil do Azerbaijão assinou contrato para a compra de dez exemplares.
Há dúvidas de que o An-178 realmente atenda aos requisitos de uma aeronave de transporte militar de médio porte. A própria Embraer, após diversos estudos, concluiu que adaptar o E-jet não era o melhor caminho e partiu para o desenvolvimento de uma aeronave totalmente nova. Por estes e outros motivos o editor do Poder Aéreo acredita que a RFAS já tenha descartado o projeto da Antonov.
Voltando ao C-130J, não são conhecidos os reais motivos que levaram a Arábia Saudita a suspender ou eventualmente cancelar a compra das demais unidades.Descarta-se a hipótese de ausência de recursos para a aquisição. Também não são considerados problemas de ordem técnica, uma vez que a aeronave tem recebido elogios de seus operadores. Portanto, as hipóteses levantadas são: problemas de relacionamento com o fabricante da aeronave ou problemas de ordem política com o Governo dos EUA.
O mais recente capítulo da novela da venda dos C-130J para a Arábia Saudita aconteceu em maio passado. Naquela ocasião o atual presidente dos EUA, Donald Trump, visitou o país árabe e propôs um pacote de armas avaliado em US$ 110 bilhões. Neste pacote estão incluídos os cinco KC-130J restantes (conforme mencionado acima, dois foram entregues em 2016) e os 20 C-130J de transporte.
Nesta queda de braço entre Arábia Saudita e Estados Unidos/Lockheed Martin entra em cena o KC-390, aeronave de transporte desenvolvida pela Embraer. Conforme se tornou público, o KC-390 pousou na Base Aérea de Prince Sultan no último dia 3 de julho para testes e avaliações de autoridades locais.
A grande questão é saber se há interesse real da Arábia Saudita pelo KC-390 após descartar por completo novos C-130J ou se os testes são uma forma de pressionar a fabricante do C-130J/Governo dos EUA por outras vantagens. Os árabes são hábeis negociantes e tomam o tempo que for necessário para concluir um acordo comercial, procurando levar o máximo de vantagens.