Malvinas 35 anos: por que as bombas não explodiram? (PARTE 7)
Parte 1- Introdução
Parte 2 – Vetores e armamentos
Parte 3 – As Táticas
Parte 4 – Espoletas
Parte 5 – O primeiro ataque
Parte 6 – ‘Bomb Alley’
O dia da Pátria
No dia 25 de maio (aniversário da independência Argentina) dois navios britânicos foram detectados próximo à ilha Borbón (Pebble Island), na entrada norte do Estreito de San Carlos. Na tarde do mesmo dia seis jatos A-4B Skyhawk baseados em Rio Gallegos, divididos em duas esquadrilhas (Zeus e Vulcano), foram designados para atacar os dois alvos. Por problemas técnicos uma aeronave de cada esquadrilha abortou a missão.
Voando por rotas distintas, a Esquadrilha Vulcano chegou primeiro à cena e partiu para cima da fragata HMS Broadsword (Tipo 22). Segundo a versão britânica a proximidade de uma aeronave com a outra acabou por confundir o sistema de mísseis GWS-25 Seawolf da fragata e este teve que ser reiniciado. Aproveitando a queda do sistema, os pilotos argentinos lançaram suas bombas MK-17 impunemente, mas nenhuma delas explodiu. Uma delas quicou no mar e danificou o convoo na popa do navio, arrancando o nariz do helicóptero Lynx que aí estava apeiado.
Logo em seguida chegaram ao mesmo local os dois A-4B da Esquadrilha Zeus (tenente Velazco no C-212 e alferes Barrionuevo no C-207). De forma surpreendente estes aviões estavam armados com três bombas BR-250 cada um (ao contrário das MK-17 até então utilizadas por eles). Todas as bombas foram lançadas contra o contratorpedeiro HMS Coventry (Tipo 42). Pelo menos duas delas atingiram o navio e lá permaneceram. Passados alguns segundos ocorreu uma explosão (há quem mencione duas explosões). Vinte minutos depois o navio emborcou (a história do afundamento do HMS Conventry foi narrada em um post no blog do Poder Naval – para ver o post clique aqui).
É justo afirmar que uma combinação de fatores permitiu que o ataque ao contratorpedeiro Coventry se transformasse num sucesso para a FAA. O ângulo entre a trajetória da bomba e o eixo do navio era de aproximadamente 40º, considerado ideal pelos idealizadores do ataque. Esta situação não foi fruto de uma manobra proposital da aeronave, mas sim uma mudança inesperada de rumo do navio. Mudança esta que surpreendeu o comandante da Broadsword, que não pôde disparar seus mísseis Seawolf contra os aviões atacantes após ter que reinicializar o sistema.
O fato dos aviões da Esquadrilha Zeus levarem três bombas cada um também aumentou a probabilidade de acerto. Das nove bombas lançadas, pelo menos duas atingiram o Coventry. Isto dá uma relação de 0,2. Se fossem três bombas (uma por avião como é o caso da MK-17) essa relação não seria atingida.
O fato é que, independentemente dos motivos, a fama da BR-250 se espalhou pela FAA e o preconceito frente a ela (principalmente dos pilotos de A-4B) se esvaiu. A partir daquele momento os esquadrões de ataque passaram a empregar principalmente bombas Expal (com diferentes tipos de espoletas modificadas) contra os navios da frota.
Invencible
No final do mês de maio a aviação naval argentina contava somente com um míssil AM-39 Exocet. Foi tomada a decisão de empregá-lo contra um objetivo de alto valor. Este era o porta-aviões HMS Invencible. Para potencializar o efeito do ataque a FAA se juntou à missão e disponibilizou quatro A-4C armados cada um com três bombas frenadas por paraquedas Expal.
A missão estava marcada para o dia 29 de maio, mas problemas com o KC-130 de reabastecimento em voo acabaram por adiar a operação para o dia seguinte. Segundo as fontes argentinas, dos quatro A-4C que participaram, dois foram abatidos pouco antes de alcançarem o porta-aviões e os outros dois lançaram suas bombas sobre o alvo. Na versão britânica os pilotos argentinos atacaram a fragata HMS Avenger (Tipo 21) e as bombas caíram n’água.
A última grande oportunidade da aviação de ataque da FAA contra alvos navais durante a Guerra das Falklands/Malvinas ocorreu no dia 8 de junho. Informações provenientes do destacamento argentino em Puerto Argentino informaram a presença de navios britânicos próximos à localidade de Fitz Roy, sendo dois de grande porte e outros de menor porte.
Uma leva composta por duas esquadrilhas (“Dogo” e “Mastín”) de A-4B foi lançada a partir de Río Gallegos. Todas as aeronaves estavam armadas com bombas Expal BR-250. Os aviões identificaram dois navios de apoio da RFA. Os três A-4 da Esquadrilha “Dogo” lançaram-se sobre o RFA Sir Galahad. Três bombas explodiram em seu interior e outras três quicam na água e explodiram na costa. A aeronave que ocupava a posição número 2 na esquadrilha não conseguiu lançar suas bombas.
Logo em seguida os dois A-4 da esquadrilha Mastín, vendo o RFA Sir Gallahad envolto em fumaça, rumaram para o RFA Sir Tristan. Ambos lançaram todas as suas bombas contra o navio. Pelo menos uma o atravessou sem explodir. O navio ficou fora de serviço. Embora tenha sido rebocado de volta para a Grã Bretanha ele não pode ser recuperado. Já o Sir Gallahad ficou totalmente destruído e foi propositadamente afundado.
Ainda como parte da primeira leva foram lançados três Dagger (“Esquadrilha Perro”) a partir de Río Grande armados cada um com duas bombas Expal BRP-250 frenada por paraquedas (além de tanques subalares de 1.700 litros). Estes aviões seguiram para a região de Baía Agradable. Há controvérsias sobre o navio e sua efetiva localização quando se confronta as informações argentinas com as britânicas. Eventualmente este ataque imobilizou a fragata HMS Plymouth (Tipo 12).
Os ataques da segunda leva (Esquadrilhas “Mazo” e “Martillo”), que também empregaram bombas BR-250, foram pouco efetivos em função da presença de patrulhas de Sea Harrier no local. No entanto, uma lancha de desembarque foi afundada com o lançamento das bombas por um A-4 embora não haja confirmação da explosão das bombas.