Uma parte da frota de jatos Mirage IIIEA, Dagger e A-4B/C da Fuerza Aerea Argentina, no final dos anos 1970.

A Argentina possuía quase 200 aeronaves de combate no início da Guerra das Malvinas/Falklands em 1982, entre elas:

  • 9 bombardeiros Canberra
  • 19 Mirage IIIEA
  • 26 Dagger (cópia israelense do Mirage V)
  • 68 jatos A-4 Skyhawk
  • 45 Pucará bimotores turboélice

O restante da Força Aérea Argentina era formado por treinadores, transportes e helicópteros.

No final de abril de 1982, diversas unidades da FAA começaram a ser movimentadas para as bases ao sul do país, que ficavam mais próximas das ilhas.

Oito bombardeiros Canberra foram para a Base de Trelew, juntamente com jatos Learjet de reconhecimento.

Dez IAI Dagger foram para San Julian, acompanhados de 15 Skyhawk A-4B.

Rio Gallegos recebeu 24 Skyhawk e 10 Mirage IIIEA dos Grupos 5 e 8.

Comodoro Rivadavia recebeu outros Mirage e Rio Grande recebeu 10 Dagger, além dos jatos Super Étendard da Armada Argentina (ARA) e os A-4Q que desembarcaram do porta-aviões ARA 25 de Mayo.

Mirage III com mísseis Matra M-550 enfrenta um Sea Harrier do Esquadrão 801. Isla Borbón, Malvinas. Pintura de Pablo Albornoz

Nos primeiros encontros entre jatos argentinos supersônicos (Mirage e Dagger) e os subsônicos Sea Harrier ingleses, ficou patente a grande superioridade do pequeno caça inglês equipado com mísseis guiados por infravermelho Sidewinder AIM-9L, cedidos pelos americanos. Até o final do conflito, os Sea Harrier disparariam 26 mísseis Sidewinder, com 18 vitórias, sem nenhuma perda em combate aéreo.

A grande maioria dos disparos foi em engajamentos pela retaguarda contra aviões de ataque que não manobravam ou nem sabiam que estavam sendo atacados.

Dois Sea Harrier retornam de uma missão nas Malvinas armados com mísseis Sidewinder AIM-9L

Com a manutenção da superioridade aérea, os ingleses passaram então a atacar os aeródromos nas ilhas com bombardeio naval e aéreo, empregando bombardeiros Vulcan (a partir da Ilha de Ascensão) e jatos Sea Harrier e Harrier GR3 embarcados. Também empregaram forças especiais SAS e SBS, que realizaram missões de reconhecimento e destruíram várias aeronaves argentinas no solo.

Entretanto, a reação argentina foi feroz: aeronaves da FAA e da ARA conseguiram afundar ou avariar seriamente diversos navios britânicos: o HMS Sheffield (afundado em 4 de maio), as fragatas HMS Ardent (afundada em 21 de maio) e HMS Antelope (afundada em 23 de maio), os navios de desembarque RFA Sir Galahad e Sir Lancelot (avariados em 24 de maio), o destróier HMS Coventry e o MV Atlantic Conveyor (afundados em 25 de maio) – este último com um míssil Exocet. O RFA Sir Galahad foi finalmente destruído no dia 8 de junho, quando o RFA Sir Tristan foi seriamente avariado. No dia de 12 de junho, o destróier HMS Glamorgan foi avariado por um míssil Exocet MM-38 lançado de terra. No dia 14 de junho, as forças terrestres britânicas ocuparam Port Stanley e as forças argentinas assinaram a rendição.

No total, a aviação argentina conseguiu afundar 7 navios britânicos e avariar (levemente ou seriamente) cerca de 20 unidades. Mas o preço foi alto: a FAA perdeu ao todo 47 aeronaves e 55 tripulantes (somando os feridos, o total de baixas chegou a 101):

  • 10 Douglas A-4B Skyhawk
  • 9 Douglas A-4C Skyhawk
  • 2 Mirage IIIEA
  • 11 IAI M-5 Dagger
  • 2 BAC BMK-62 Canberra
  • 11 FMA IA-58 Pucará
  • 1 Lockheed C-130H Hercules
  • 1 Gates LR-35A Learjet

Algumas lições dos vencidos: as limitações materiais e humanas

Capa da revista Newsweek no início da crise das Malvinas. Os porta-aviões HMS Hermes e HMS Invincible, equipados com 20 jatos Sea Harrier STOVL (12 no Hermes e 8 no Invincible) dos esquadrões 800, 801 e 899, lideravam a Força-Tarefa, composta de 23 destróieres e fragatas.

As ilhas Malvinas tinham 3 pistas de pouso, mas a maior não tinha comprimento para operar caças a jato. Ela precisaria ter sido ampliada logo após a invasão argentina (incluindo suas áreas de escape) para poder receber jatos A-4 e Mirage/Dagger, o que não aconteceu.

Somente os bombardeiros bimotores Canberra tinham alcance para voar até as Falklands e voltar, sem reabastecimento, mas eram também mais vulneráveis à interceptação dos Sea Harrier. Os Mirage e Dagger, por sua vez, só podiam realizar PAC na área das ilhas em altitudes elevadas, ou atacar evitando o emprego do pós-queimador (afterburner). Isso porque precisavam economizar combustível, por serem aeronaves desprovidas de capacidade REVO (reabastecimento em voo) e as Malvinas estavam no limite de seus raios de ação, com o combustível que podiam carregar nos tanques internos e externos.

Os A-4Q da Armada Argentina também tiveram participação importante no conflito, operando a partir de terra

Os A-4 Skyhawk possuíam sonda REVO e podiam alcançar as ilhas após realizarem reabastecimento em voo, mas somente levando uma carga menor de bombas.

As aeronaves argentinas disponíveis foram projetadas para missões de curto alcance e para operações de apoio aéreo aproximado. A FAA tinha se especializado mais, nos últimos anos, em operações de contrainsurgência (empregando os turboélices Pucará) e não contra um inimigo externo.

Faltou também efetiva coordenação com as outras duas Forças, pois o Exército e a Marinha mantiveram a Força Aérea fora dos planos de invasão das Malvinas até a véspera.

Com a invasão, a FAA ficou com a maior responsabilidade na defesa das ilhas. Justamente a Força que, antes da guerra, era proibida por lei de praticar operações sobre o mar, missão que era de exclusividade da ARA.

A maioria das aeronaves da FAA não tinha equipamento de navegação nem radar, itens necessários para operações sobre o mar.

A FAA não sabia como ajustar corretamente as espoletas das bombas para missões antinavio (60% das bombas que acertaram os alvos não explodiram). A ARA sabia como ajustar as espoletas, mas não passou as informações para a FAA, que também não solicitou sua ajuda.

A-4C da FAA sendo armado com bomba para mais uma missão

Decisões táticas ruins
Durante o grande desembarque anfíbio realizado pelos britânicos na baía de São Carlos, no dia 21 de maio, os aviões argentinos atacaram os navios de guerra (que podiam se defender e que não levavam tropas), ao invés de concentrarem os ataques nos navios de transporte e de desembarque. Atacaram em pequenas formações espaçadas, ao invés de grandes formações de ataque que chegassem aos alvos num só momento. Isso facilitou as interceptações pelos caças Sea Harrier ingleses.

O único radar Westinghouse AN/TPS-43 instalado pela FAA nas ilhas foi de importância fundamental, mas não foi acompanhado por outra unidade similar, para instalação em outra posição.

A instalação do radar foi feita num local ruim, o que permitia aos ingleses se aproximarem das ilhas sem serem detectados, mascarando-se no terreno.

A ARA tinha uma boa quantidade de mísseis antinavio instalados em suas belonaves, mas a FAA não possuía mísseis antinavio. Quando a guerra começou, a Aviação Naval só tinha 5 mísseis ar-superfície Exocet AM-39, quantidade claramente insuficiente para uma campanha contra um inimigo forte.

Balanço final
A Guerra das Malvinas pode ser considerada um conflito essencialmente marítimo, que foi decidido parcialmente no primeiro embate de forças navais entre os dias 1º e 2 de maio de 1982. Foi um conflito clássico, com um campo de batalha bem definido, com forças reconhecíveis, sem guerrilhas e praticamente sem populações civis envolvidas nos combates. O ambiente ideal para estrategistas.

Uma vez alcançados dois objetivos, a vitória sobre a Armada Argentina (onde se destacou o emprego do submarino nuclear de ataque) e a conquista da superioridade aérea com uma combinação aeronave / armamento superior (Sea Harrier + Sidewinder AIM-9L), o desembarque anfíbio tornou-se possível, mesmo diante da forte oposição aérea argentina.

Apesar da da forte oposição aérea argentina, os britânicos conseguiram desembarcar na baía de San Carlos e chegar até a capital onde obtiveram a rendição argentina

A vitória das forças terrestres britânicas, mesmo enfrentando duros combates, foi apenas uma questão de tempo, já que a qualidade dos seus soldados era superior e as tropas argentinas não tinham mais uma linha de suprimentos que vinha do continente.

Apesar da bravura dos combatentes argentinos, principalmente de seus pilotos, o preparo militar inglês prevaleceu no final.

FONTE: Revista Forças de Defesa número 4

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