Diferentemente do Gripen E, cujo trem de pouso dianteiro mudou para uma só roda, o projeto da versão naval Gripen M, também chamado de Sea Gripen, mantém as duas rodas que caracterizam a versão C. Mas as mudanças apresentadas vão além

Para quem é familiarizado com trens de pouso de caças para emprego em porta-aviões CATOBAR (dotados de catapulta e aparelho de parada) a ilustração do projeto do Gripen M (naval, também chamado de Sea Gripen) acima mostra o padrão consagrado de trem de pouso dianteiro – e também indica que, com o perdão do jogo de palavras, a Saab entende que nessa área não vale a pena “reinventar a roda”.

Antes de aprofundarmos essa questão, vale lembrar ao leitor que nossa cobertura sobre a apresentação da nova versão E do caça Gripen da Saab, evento realizado em 18 de maio e que o Poder Aéreo presenciou na Suécia, já abordou tanto a nova geração da aeronave quanto as atualizações do Gripen C – mesmo porque o próprio foco da empresa, nos três dias de apresentações voltadas à imprensa internacional antes, durante e após o evento, manteve-se nesses dois polos: o novo Gripen E e a continuidade do Gripen C.

Mas e o projeto da versão naval da nova geração, o Gripen M? Esse assunto esteve longe dos holofotes durante o evento. Apesar de constar da pauta de questões que pretendíamos abordar em nossa visita à Suécia (embora não como item prioritário), o fato é que a agenda lotada de apresentações e discursos tornou curtíssimos os tempos para perguntas, tanto ao final das longas exposições comerciais e técnicas quanto nas rápidas brechas para conversas de bastidores. Assim, este editor optou por aproveitar estas oportunidades exclusivamente para questões relacionadas ao Gripen E – e as respostas a nossos questionamentos já fazem parte de matérias publicadas e estarão em outras ainda a publicar, mas não abordaram a versão naval.

Porém, não nos esquecemos da necessidade de mostrar aos leitores ao menos algumas curiosidades e atualizações, para fomentar o debate sobre o Sea Gripen / Gripen M, mesmo que a matéria-prima para isso venha de folhetos de divulgação distribuídos na ocasião pela empresa.


Comparando os trens de pouso – Compusemos a ilustração comparativa acima, a partir de três ilustrações de três vistas publicadas pela Saab em diferentes materiais de divulgação, para facilitar ao leitor a percepção da principal diferença entre as versões do Gripen: os trens de pouso. O Gripen C, à esquerda, possui trem de pouso principal que recolhe na fuselagem e trem dianteiro (também chamado de bequilha) composto de duas rodas. O Gripen E, ao centro, possui trem de pouso principal que recolhe sob as raízes das asas e trem dianteiro composto de uma única roda. Já o Gripen M, que deriva do E, possui trem de pouso principal que também recolhe nas raízes das asas, porém com design diferente e mais robusto, e bequilha composta de duas rodas.

Pode-se perceber, também, que a bequilha /  trem dianteiro do Gripen M possui perna com comprimento significativamente maior que o de sua contraparte no modelo E, proporcionando um maior ângulo de ataque do caça para operações de pouso e decolagem em porta-aviões. A bequilha também incorpora uma barra de reboque / catapultagem à sua frente, para conexão à catapulta do navio-aeródromo, e seu projeto inclui uma haste de retração na parte de trás, necessária tanto para retrair a longa perna do trem quanto reforçá-la nas cargas às quais é submetida. Esse conjunto se assemelha bastante ao do caça naval Super Hornet, visto na foto abaixo, porém proporcionalmente a altura do equipamento no Gripen M é maior – o que também o torna parecido com a bequilha do Rafale M (naval).

Quanto ao trem principal, quando comparado ao do Gripen E do centro da imagem (das três vistas), é possível perceber que a posição das rodas em relação ao comprimento da aeronave não muda em relação ao M, mas o ponto em que a perna do trem se conecta à estrutura do avião está mais adiante, sendo o projeto desse conjunto mais complexo e em formato de “L”. Também nesse caso, há algumas semelhanças com o trem de pouso principal do Super Hornet, visto na imagem acima, e que também segue o formato geral de “L”  (embora se perceba consideráveis diferenças em detalhes).

Concepções artísticas mostrando o projeto do Gripen M com esse conjunto de trens de pouso já haviam sido publicadas há alguns anos (caso da imagem abaixo), porém as ilustrações em três vistas e do tipo “cutaway” (raio-x) mostradas neste material de divulgação recente da Saab ajudam a perceber melhor esses detalhes que o diferenciam bastante do trem de pouso do Gripen E – e a padronização dos desenhos em três vistas e em raio-x, no material divulgado agora, torna ainda mais fácil essa comparação.

Comunalidade de 95% e velocidade máxima menor – Ainda que as diferenças nos trens de pouso, que geralmente também implicam em reforços estruturais significativos, apontem para mudanças consideráveis em relação ao novo Gripen E, a Saab informa um elevado (e até surpreendente, na opinião deste editor) índice de comunalidade entre o caça terrestre e o caça naval da nova geração: segundo material de divulgação datado do mês de abril, o Gripen M “tem as mesmas excelentes capacidades multimissão do Gripen E e 95% de suas partes são comuns ao Gripen E e ao Gripen F” (versão de dois lugares do modelo E, que é monoposto).

A empresa publicou folheto em português com as informações básicas do Sea Gripen / Gripen M (para acessar, clique aqui). As dimensões externas, 15,2m de comprimento incluindo tubo de pitot e 8,6m de envergadura, são as mesmas, mas as (poucas) projeções de desempenho divulgadas para o Sea Gripen mostram uma variação na performance global. A velocidade máxima em elevada altitude, que no Gripen E é informada como Mach 2, no Gripen M cai para Mach 1.8. A altitude máxima de serviço também cai de aproximadamente 52.500 pés para cerca de 50.000 pés. Já a velocidade máxima ao nível do mar mantém-se nas duas versões: acima de 1.400 km/h.

Apesar do peso vazio e máximo de decolagem serem divulgados para o Gripen E nesse material mais recente (respectivamente 8  e 16,5 toneladas, valores que são os mesmos de divulgações dos últimos anos), no folheto do Gripen M não constam essas informações. É de se esperar que o peso vazio estimado do Sea Gripen seja superior ao do Gripen E, no mínimo devido ao trem de pouso mais complexo e pesado, mas a não divulgação dá margem a se entender que esse acréscimo não esteja totalmente definido – ou, caso tenha sido estimado com precisão, não seja do interesse da empresa divulgá-lo no momento de forma pública, mas apenas de forma restrita a possíveis clientes. Já dados como empuxo máximo (98 kN), limites G (-3G / +9G) e número de pilones para cargas externas (10) são comuns ao material de divulgação das duas versões.

Para facilitar aos leitores perceberem todas as diferenças e embasar o debate sobre o Sea Gripen / Gripen M, seguem abaixo as três “cutaways” simplificadas das versões C, E e M apresentadas no material recente de divulgação da Saab. Um detalhe final e interessante a ressaltar é o grande suporte externo do gancho de parada do Gripen M mostrado na ilustração, que “emenda” com o pilone central da fuselagem. Matérias publicadas anteriormente sobre o projeto do Sea Gripen, tanto no Poder Aéreo quanto no Poder Naval, estão na lista ao final. Boa discussão a todos!

 

 

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