Empresa sueca ainda espera conquistar novos clientes para a versão atual do Gripen, nos próximos 5 a 8 anos

Fernando “Nunão” De Martini

Nestes últimos dias, os holofotes se concentraram na apresentação do Gripen E da Saab, cujas imagens e detalhes o Poder Aéreo mostrou (e continuará mostrando em próximas matérias) diretamente das instalações da empresa em Linköping, na Suécia.

O desenvolvimento do Gripen F (modelo biposto da nova geração – NG – da qual o Gripen E é o monoposto) também foi mencionado tanto por executivos quanto por engenheiros ligados ao programa, e será abordado aqui em breve. Mas a geração atual do caça, composta pelas versões C e D (de um assento e dois assentos, respectivamente), não foi esquecida pela Saab, nem em suas declarações à imprensa, nem nas ações em curso que pudemos conferir pessoalmente.

O motivo é simples: segundo Lennart Sindhal, vice-presidente senior da Saab, a empresa ainda espera conseguir oportunidades de vendas das versões C e D do Gripen nos próximos 5 a 8 anos. Essas aeronaves ainda servirão por décadas após as possíveis compras, gerando necessidades de apoio, manutenção e, principalmente, de atualizações graduais. Nisso se incluem a integração de novas armas e capacidades, para que continuem atendendo às necessidades militares de seus operadores pelas próximas décadas.

Vice-presidente senior da Saab, Lennart Sindhal, durante apresentação realizada em 18-5-2016 sobre o Gripen e seu futuro. O cliente que aparece acima da bandeira brasileira é a Eslováquia, que recentemente selecionou o caça.

O mesmo vale para a atual frota, que opera tanto em esquadrões da própria Suécia quanto da República Tcheca, Hungria, África do Sul e Tailândia. Os tchecos, por exemplo, que vinham operando o caça principalmente nas funções ar-ar (prioridade em face de suas necessidades de substituir aeronaves de origem soviética e cumprir obrigações de defesa aérea no âmbito da OTAN), agora estão interessados em ampliar o leque de missões, com modernos armamentos ar-solo.

Sem falar nas necessidades que a própria Suécia tem de realizar sua dissuasão, integrando em seus caças armas mais modernas como o míssil ar-ar Meteor. Quanto a este, foi lembrado mais de uma vez que o Gripen será o primeiro caça do mundo a empregá-lo operacionalmente.

Por isso, no dia da apresentação do Gripen E, e do lado de fora do hangar onde os holofotes apontavam para o novo membro da família, um Gripen C empregado em campanhas de testes em voo e integração de novas capacidades e armamentos estava exposto.

Sob as suas estações de cargas externas, estavam as mesmas armas vistas no protótipo do Gripen E que já mostramos aqui: mísseis ar-ar Meteor e IRIS-T, bombas de pequeno diâmetro (SDB, consideradas cada vez mais importantes em vários cenários dos conflitos recentes, pela combinação de precisão, e menores possibilidades de danos colaterais), acompanhadas de pod designador de alvos Litening.

Não eram apenas de itens de decoração ou fundo para as fotos dos convidados que chegavam à cerimônia – neste dia 19 pudemos ver a mesma aeronave, de indicativo 39261, abrigada no hangar dos jatos Gripen utilizados nos testes em voo. Ou seja, são versões dos armamentos que estão voando em seguidas surtidas de ensaios e validação.

Como fotos no hangar de aviões de testes não foram permitidas hoje, esta matéria segue com as imagens do dia anterior, com a aeronave 39261 cercada de convidados em sua chegada para a apresentação do Gripen E (entre eles o comandante da Força Aérea Brasileira, tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato, visto na foto acima), e um pouco menos procurado para fotos na saída após toda a atenção dispensada ao novo membro da família – o que foi bom para que parte das imagens desta matéria pudesse mostrar melhor o caça, por inteiro e em detalhes.

A respeito dos armamentos, as vantagens da integração do Meteor (visto nas fotos acima nos pilones mais externos das asas) foram destacadas tanto no dia 18, por Sindhal, quanto na visita ao hangar das aeronaves de testes neste dia 19, pelo piloto de testes da Saab que nos acompanhou, Marcus Wandt.

Ambos mencionaram que o Meteor é um verdadeiro “game changer” (virador de jogo), por ampliar e muito as distâncias de engajamento nos combates BVR (além do alcance visual). Para integrá-lo, além da evolução do software do sistema de combate da aeronave para o novo padrão MS 20, o radar multimodo PS-05/A também passou por significativas mudanças – e tanto Sindhal quanto Wandt deram a entender em suas palavras e expressões faciais que estes aprimoramentos demandaram bastante tempo e trabalho.

Como resultado, desde o ano passado o radar chegou à sua quarta versão, ou Mk.4, após cerca de dois anos de desenvolvimento. Em relação ao Mk.3, versão que pode ser convertida para o novo padrão com a troca de módulos de processamento e de receptor/amplificador (excitador), o alcance de detecção e acompanhamento foi praticamente dobrado e otimizado para detectar alvos de baixa assinatura radar. Essas eram as mudanças necessárisa para explorar o alcance maior do míssil Meteor.

Perguntamos o quanto esse alcance de engajamento de alvos foi melhorado, para o caça, com a combinação do míssil Meteor com o radar PS-05/A em sua versão Mk4. A resposta já esperada é que a informação é classificada, não podendo ser liberada. Porém o piloto Wandt deixou claro, em sua ênfase nas palavras “veeeeery much” (muuuuuito), que a diferença em relação à combinação hoje empregada – míssil AMRAAM e radar PS-05/A Mk3 – é grande.

O piloto Wandt também destacou as vantagens de contar com o IRIS-T (visto nas imagens nos trilhos das pontas das asas), capaz de suportar grandes cargas G em suas manobras para atingir os alvos, em combinação com o sistema de mira montada no capacete – outro “game changer” para o piloto.

Ainda assim, mesmo com o emprego desses novos mísseis e sistemas, Wandt não considera que o dogfight (luta a curta distância empregando manobras de combate aéreo) esteja morto. Isso porque as contramedidas também evoluem, assim como as capacidades furtivas das aeronaves de combate.

Ambos os fatores (contramedidas e furtividade) se combinam conferindo boas possibilidades de que os engajamentos acabem se apresentando em curtas distâncias, onde as manobras de combate aéreo e a manobrabilidade dos caças continuariam fazendo a diferença – somadas à capacidade de mirar o IRIS-T em ângulos extremos.

Será que essas combinações de fatos e possibilidades farão a diferença para novas vendas de Gripen C/D?

O que se pode dizer é que a Saab continua trabalhando nessas potenciais vendas, e cada novo cliente trará consigo novos compromissos de manutenção e upgrades dentro dos limites da plataforma C/D, que segundo a empresa pode receber muitos aprimoramentos com base nos sistemas de combate e aviônicos desenvolvidos para os novos E/F.

Continuaremos em próximas matérias a trazer informações divulgadas tanto por altos executivos, como Sindhal, quando pelos pilotos que exploram diariamente os limites dos envelopes de voo e das arenas de combate, como Wandt. Em breve, novos capítulos aqui no Poder Aéreo.

O editor Fernando “Nunão” De Martini viajou à Suécia a convite da Saab

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