Pisa, Itália, abril/1945

O dia amanheceu calmo e como não havia missões programadas para aquela manhã, um denso silêncio pairava sobre a Base da Força Aérea Brasileira em Pisa.
O final da guerra era eminente.

A quietude porém, foi quebrada com o silvo crescente de motores chegando forte e baixo.
UOFFFF…!

Dois Mustangs P-51 prateados com as estrelas norte-americanas passam rasante sobre o campo.

Bem no meio da interseção das pistas puxam um subida vertiginosa, asa com asa e fecham um looping perfeito. O mergulho termina em cima da torre de controle, cujos operadores abaixam a cabeça instintivamente.

O desafio está lançado.

Os Mustangs aguardam.

No páteo de operações do 350th Fighter Group inicia-se uma atividade febril para por em voo dois P-47, enquanto os Mustangs giram em círculos, aguardando.
Poucos minutos depois, os dois Thunderbolts lisos e com as asas despojadas de cabides e tanques decolam para o “duelo”.

O ronco dos motores e as passagens vertiginosas low pass acabam por chamar a atenção de toda a base, inclusive do lado brasileiro, onde o pessoal se acomoda para assistir ao show.
Os quatro caças se engalfinham numa sequência alucinante de manobras, bem ao gosto dos pilotos de P-51, que sabem ter vantagens.

Apesar dos esforços e perícia demonstradas, os P-47 americanos são “abatidos” para o deleite dos atrevidos Mustangs.

Preparando-se para retornar à sua base, os aviões “vitoriosos” percebem bem na sua vertical um terceiro Thunderbolt decolando.
Opa, aí vem mais um!

Aquele mais um, no entanto, tinha a cauda pintada de verde e amarelo.

Um Jambock da Força Aérea Brasileira!

Seu piloto, o Tenente Aviador Roberto Tormin Costa iria fazer um voo de testes.

Mas, foi mesmo para teste aquele voo?

Ávidos, os Mustangs partiram pra cima daquele Thunderbolt para “cortá-lo em pedaços”.

O Tenente Aviador Roberto Tormin Costa voou 66 missões de combate na 2ª Guerra Mundial. Sobreviveu e retornou ao Brasil assumindo o comando de instrução da aviação de caça. Teria feito uma belíssima carreira na FAB. No dia 29 de abril de 1946, durante um voo de treinamento e no ápice de um looping, colidiu com seu piloto-ala. Os dois aviadores morreram no abraço fatal dos P-47s. Tormin tinha 21 anos de idade

Tormin subiu rápido e atento aos retrovisores, deixou os americanos chegarem bem perto, com o excesso de confiança transbordando.

Em manobra muito rápida e violenta, pé pressionando fundo o pedal esquerdo e manche quebrado no limite máximo, desacelerou o motor num estalar de compressor.
Pelo canto do olho, mais sentindo do que vendo, deixou as duas manchas passarem zunindo pouco abaixo e à sua direita.

Célere, inverteu toda a sequência anterior e enquadrou aquele avião prateado de asas quadradas e nervosas.

O atônito ianque move a cabeça procurando o P-47, mas é tarde demais. “Uma rajada” das oito ponto 50 manda-o para o chuveiro antes do jogo terminar.
Claro que o seu amigo não ficou nada feliz e a coisa esquentou ainda mais para o Tormin.

O 51 acelerou e rugiu pra cima, achando que pesado 47 não conseguiria acompanhá-lo.

Calculou errado.

O Thunderbolt que vinha em alta velocidade entrou junto no apertado arco e colou na cauda do americano que, achando ser o suficiente, acabou desistindo.
Os dois caças, então, emendaram um immelmann e juntos, vieram para o pouso.

Na sala de operações do 1º GAvCA os “inimigos” congratularam Tormin pela grande exibição e “vitória”. Outros pilotos do 350th apareceram e a coisa terminou em festa, com muitos brindes sendo levantados em homenagem aos aviões, cujos motores esfriavam lá fora.

FONTE: página Contos no Céu no Facebook, extraído do livro “Senta a Púa” do Major-Brigadeiro Rui Moreira Lima

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