Queda do Sukhoi Su-30 venezuelano: análise do comunicado oficial

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por Guilherme Poggio

Analisando-se o comunicado oficial do Ministério da Defesa Venezuelano (reproduzido acima) sobre a perda de um caça Sukhoi Su-30 venezuelano é possível destacar alguns pontos que chamam a atenção para quem está acostumado com este tipo de notícia.

Primeiramente foi dado grande destaque para a missão que a aeronave estava (eventualmente) executando. É do conhecimento geral dos especialistas  que o Sukhoi Su-30 não é o melhor instrumento para lidar com ameaças assimétricas com aeronaves de traficantes. Trata-se de um caça de alto desempenho (um dos melhores do mundo) desenvolvido para garantir ou impor superioridade aérea em teatros de operações de grande intensidade e complexidade.

Não se trata, portanto, de um avião adequado para lidar com eventuais aeronaves de baixo desempenho comumente empregadas pelos traficantes. Além disso, é de conhecimento geral que as Forças Armadas da Venezuela estão sofrendo com cortes de investimentos e contenção de recursos para a manutenção de seus equipamentos. Dada a complexidade do sistema de armas Su-30, estes passam boa parte do tempo na Base Aérea de El Libertador ou na Base Aérea Teniente Luis del Valle García. É muito mais comum ver o acionamento de caças F-16, quando a situação assim exige.

O comunicado deixou em segundo plano a situação e o estado dos pilotos. Em comunicados de outras forças aéreas ênfase maior é dada aos ocupantes da aeronave sinistrada, os meios de resgate mobilizados e outros detalhes sobre a missão de busca e salvamento acionada.

Também foram divulgados de imediato o nome dos ocupantes da aeronave sem o conhecimento da real situação deles. Em muitos países este tipo de informação só é fornecido depois que  os ocupantes foram, ou encontrados, ou declarados oficialmente mortos. E mesmo neste último caso os familiares são respeitosamente informados pelos militares antes que a notícia chegue aos meios de comunicação (o informe não deixa claro se os familiares foram ou não informados).

O informe também fornece a hora exata (21h07) em que a aeronave colidiu com o solo. Em muitos casos os comunicados de outras forças aéreas fornecem simplesmente o momento em que houve a perda do contato pelo radar ou perda de comunicação com a aeronave.  E comumente a divulgação da colisão com o solo só é fornecida quando os destroços da aeronave são encontrados, fato que, segundo o comunicado, ainda não ocorreu.

Como a liberdade de imprensa é restrita na Venezuela, fica muito difícil avaliar o que realmente aconteceu neste episódio. As dúvidas são grandes e possivelmente não serão investigadas por setores independentes.

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