Segundo o Le Monde, Índia comprará 63 caças Dassault Rafale franceses ‘de prateleira’
Valor do contrato seria de 7,2 bilhões de euros para exercer opção de compra da proposta original. Negociações teriam avançado a madrugada visando um possível anúncio durante visita do primeiro ministro Narendra Modi à França, segundo o Le Monde. Já o jornal Hindustan Times fala em apenas 40 jatos
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Na manhã desta sexta-feira, 10 de abril (madrugada no Brasil), o jornal francês Le Monde publicou a notícia de que a Índia deverá comprar 63 caças Dassault Rafale, o que representa cerca de metade dos pretendidos 126 jatos do já muito atrasado programa MMRCA (avião de combate de porte médio). Porém, isso não significaria uma redução nessa encomenda preconizada no contrato principal em negociação, que prevê 18 aeronaves produzidas na França e 108 na Índia, mas uma mudança de rumos para agilizar entregas, exercendo uma opção ao invés de assinar o contrato principal.
No que o jornal diz ser uma surpresa após a venda do caça ao Egito, serão comprados para entrega o mais rápido possível e diretamente da fabricante francesa Dassault – ou seja, “de prateleira” (do inglês “off the shelf”), 63 caças Rafale por uma valor estimado de 7,2 bilhões de euros (cerca de 7,6 bilhões de dólares). Isso seria o suficiente para dotar três esquadrões de caça da Força Aérea Indiana, que vem sofrendo queda constante do número de esquadrões operacionais devido à baixa de velhos jatos MiG-21 e outros modelos.
A reportagem do Le Monde, que foi atualizada nesta tarde (manhã no Brasil), informa que as negociações entre representantes dos governos da França e da Índia duraram toda a noite e se estenderam pela manhã desta sexta-feira, visando um possível anúncio ainda hoje ou no sábado, durante a visita do primeiro ministro indiano Narendra Modi à França.
Resumindo o que o jornal diz ter sido acordado para agilizar a entrega dos caças, o Governo Indiano exercerá uma opção que está na proposta francesa de 126 aeronaves selecionada no início de 2012. No caso, é a opção de compra “de prateleira” (em inglês “off the shelf”) de 63 aviões adicionais, o que significa aquisição diretamente do fabricante e não fabricação na Índia, que é o caso do contrato principal. Isso permitiria receber os aviões mais rapidamente sem ter que esperar o final das negociações do contrato inicial e, principalmente, sem ter que lançar uma nova concorrência de caças.
Assim, para a Dassault Aviation e a França isso significaria um novo sucesso na venda do Rafale, após o acordo com o Egito para entrega de 24 caças (num contrato com aquele governo que também inclui uma fragata FREMM do grupo DCNS), após o avançado jato francês ter amargado seis derrotas em tentativas de exportação. Há também negociações com o Qatar para a compra de 36 caças Rafale.
Já para a Índia, que tem boa parte de seus esquadrões de caça dotados de caças MiG-21, os quais precisam ser substituídos com urgência devido ao envelhecimento da frota e acidentes frequentes, isso significaria um reequipamento mais rápido de pelo menos uma pequena parte desses esquadrões com o Rafale. Para se ter uma ideia, segundo o jornal francês a Força Aérea Indiana tem programada já para 2017 a retirada de serviço de caças MiG-21 de quatro esquadrões, de MiG-21 bis de um esquadrão e de MiG-27/UPG de cinco esquadrões – são dez unidades de aviões de combate a menos para daqui a dois anos.
Preço, pressões e alívios – Para alguns meios indianos apurados pelo Le Monde, o fato de exercer a opção de compra desses 63 caças Rafale “de prateleira” poderia ser acompanhado pelo abandono do contrato principal, que cobre 126 aviões – 18 “de prateleira” e 108 a serem fabricados na Índia pela HAL, estatal indiana de aviação HAL. Essa informação que circula em meios indianos não foi confirmada em Paris. O fato é que os problemas com esse contrato principal, conforme informações veiculadas ao longo da negociação que se arrasta há mais de três anos, estão tanto nas garantias exigidas ao fabricante francês sobre os jatos a serem produzidos na Índia quanto no preço.
O valor unitário do Rafale a ser fabricado na linha de montagem indiana se provou, nos cálculos, bem maior que o produzido na França, devido a toda a cadeia de fornecedores a ser estabelecida na Índia e outros fatores relacionados. Essa elevação no valor unitário faria o contrato originariamente estimado em 12 bilhões de euros subir em 8 bilhões, para atingir 20 bilhões de euros, segundo o Le Monde, o que levou a desacordos com o Ministério da Defesa da Índia. A esses desacordos se somariam os interesses da Força Aérea Indiana, pouco disposta a aguardar todo o tempo necessário à fabricação local dos caças, frente a suas necessidades urgentes de reequipamento. Tudo isso trouxe mais pressão sobre os ombros dos negociadores indianos de um contrato tão grande, levando ao risco de inviabilizá-lo, a não ser que se encontrasse uma forma de aliviá-la.
A Defesa da França também teria a pressão retirada de seus ombros (e também da Dassault e suas fornecedoras) caso a compra indiana de 63 caças Rafale “de prateleira” se concretize, pois essa aquisição removeria incertezas no financiamento da Lei de Programação Militar 2014-2019, que prevê uma compra anual de caças Rafale para a Marinha e Força Aérea francesas muito menor do que as realizadas até hoje: nos seis anos de vigência da Lei, a cadência mínima economicamente viável de 11 caças anuais da Dassault representaria 66 aeronaves, das quais nada menos do que 40 teriam que ser exportadas para atender às restrições orçamentárias francesas. Com a compra indiana diretamente do fabricante somando-se ao contrato egípcio, se resolveria com folga tanto as necessidades francesas de adquirir menos caças por ano e de exportar o restante.
Repercussão e possível aquisição menor – A reportagem do Le Monde repercutiu em importantes jornais indianos como o Economic Times e, internacionalmente, na Reuters. Já o Hindustan Times afirma que a compra poderá ser menor, compreendo cerca de 40 caças para equipar dois esquadrões indianos, informação atribuída a fontes indianas ligadas à Defesa. Porém, frente aos números trazidos pelo Hindustan Times e que refletem a perda de capacidade da Força Aérea Indiana devido à baixa de velhos caças, mesmo o alívio com o recebimento mais rápido de jatos Rafale suficientes para dois (ou três) esquadrões parecem ser uma gota d’água num oceano de problemas.
A Índia, segundo o jornal indiano, requer urgentemente um total de 42 esquadrões de caça para fazer face tanto ao Paquistão quanto à China. Mas, atualmente, só possui 34 esquadrões (com cerca de 18 jatos cada um), sendo que os dotados dos modernos Su-30 MKI enfrentam dificuldades na disponibilidade e outros, equipados com grande quantidade dos velhos MiG-21, sofrem com o envelhecimento, obsolescência e alta taxa de acidentes.
Ainda assim, a chegada de caças modernos como o Rafale, ainda que limitados a dois ou três esquadrões no curto prazo, poderia indicar o início de uma mudança da curva para baixo da capacidade da aviação de combate indiana.
FOTOS (em caráter meramente ilustrativo): Dassault