Pentágono teme que caças russos possam atirar melhor que caças ‘stealth’ americanos
Aviões de combate norte-americanos estão entre os mais rápidos e manobráveis jatos do mundo. Mas suas armas estão se tornando cada vez mais obsoletas, o que tem alarmado alguns na Força Aérea dos Estados Unidos
Dave Majumdar
Voando alto e rápido, o caça furtivo F-22 Raptor é de longe o caça mais letal que a América já construiu. Mas o Raptor e, na verdade todos os caças americanos têm um potencial calcanhar de Aquiles, de acordo com a opinião de meia dúzia de oficiais da Força Aérea atuais e antigos. Os mísseis ar-ar de longo alcance do F-22 podem não ser capazes de acertar um avião inimigo, graças às novas técnicas de bloqueio de radar (“jamming”) inimigas.
A questão veio à tona com as tensões que continuam a aumentar com a Rússia e um potencial conflito entre as grandes potências é mais uma vez uma possibilidade, mesmo que remota.
“Nós – os EUA [Departamento de Defesa] – não buscamos métodos adequados para combater o AE [ataque eletrônico] há anos”, disse um alto oficial da Força Aérea, com vasta experiência no F-22, ao The Daily Beast. “Então, enquanto nós somos furtivos, teremos um duro trabalho no nosso caminho através do AE para mirar num alvo [como um caça de fabricação russa Sukhoi Su-35] e nossos mísseis terão dificuldade de acertá-los.”
O problema é que muitos adversários potenciais, como os chineses e os russos, desenvolveram “jammers” avançados com memória de freqüência de rádio digital (DRFM – digital radio frequency memory). Estes “jammers”, podem efetivamente memorizar um sinal de radar de entrada e repeti-lo de volta ao remetente, prejudicando gravemente o desempenho dos radares do alvo.
Pior ainda, esses novos “jammers” essencialmente cegam os pequenos radares encontrados a bordo de mísseis ar-ar, como o Raytheon AIM-120 AMRAAM, que é a arma de longo alcance primária para todos nós e aviões de combate aliados.
Isso significa que será preciso disparar vários mísseis para abater um caça inimigo, mesmo para uma aeronave furtiva avançada como o Raptor. “Enquanto os números exatos de Pk [probabilidade de acerto] sejam classificados, vamos apenas dizer que eu não vou conseguir matar esses caras na proporção um para um”, disse o oficial sênior da Força Aérea. É o “mesmo problema” para versões anteriores dos caças americanos, como o F-15, F-16 ou F/A-18.
Outro oficial da Força Aérea, com experiência no novo caça furtivo F-35 Joint Strike Fighter concordou. “O AMRAAM teve alguns grandes melhoramentos ao longo dos anos, mas no final do dia, é tecnologia antiga e não foi realmente concebido com o AE (Ataque Eletrônico) significativo de hoje em mente”, disse este oficial.
Como pugilistas, cada míssil tem um alcance, uma distância, um limite que ele pode atingir. Em um futuro não muito distante, o AMRAAM também pode estar fora do alcance por novas armas que estão sendo desenvolvidos em todo o mundo. Particularmente, a Rússia é conhecida por estar desenvolvendo uma arma de extremo longo alcance chamada de K-100, que tem muito mais alcance do que qualquer arma do tipo atualmente existente.
O problema não é novo. Historicamente, o Pentágono sempre priorizou o desenvolvimento de novos caças ao longo dos anos do que desenvolver novas armas, o que é um ponto cego exclusivamente americano. Durante os anos 1970, o então nova caça F-15A Eagle levava o mesmo armamento antiquado do F-4 Phantom II da Era do Vietnã. Não foi até a década de 1990 que o F-15 recebeu uma arma adequada sob a forma do AMRAAM, que poderia tirar o máximo proveito de suas habilidades. O mesmo aplica-se ao míssil de curto alcance que não ocorreu até o início de 2000, com a introdução do AIM-9X, quando os EUA tinham uma arma de “dogfight” que poderia igualar ou superar o míssil R-73 Archer russo.
Todos os oficiais da Força Aérea dizem que alguns dos mísseis americanos vão acertar durante um combate, não há dúvida disso, mas gastariam muito mais mísseis do que qualquer um espera. O problema é que aviões de caça não carregam muitos mísseis.
O F-22 Raptor carrega seis mísseis AMRAAMs e dois AIM-9 Sidewinder de curto alcance em suas baias de armas. No momento, o F-35 carrega apenas quatro mísseis AMRAAM no interior dos compartimentos de armas, mas que pode ser ampliado para seis no futuro. Caças mais antigos como o Boeing F-15 Eagle levam um máximo de oito mísseis enquanto o F-16 carrega geralmente não mais de seis mísseis.
Isso significa que, se um caça tem que disparar por exemplo, três mísseis para abater um único caça inimigo, o Pentágono está enfrentando um problema sério.
“Conseguir um primeiro tiro é uma coisa”, disse um antigo piloto de caça da Força Aérea, com uma vasta experiência em armas russas. “Precisar de um outro tiro quando você gasta a sua carga é outra, quando sua estrutura de força é limitada em termos de número de plataformas disponíveis para uma determinada operação.”
Existem algumas soluções potenciais, mas todos elas significam gastar mais dinheiro para desenvolver novos mísseis. O ex-chefe de inteligência da Força Aérea tenente-general Dave Deptula disse que é “crítico” que os EUA e seus aliados busquem “armas ar-ar que possam efetivamente lidar com ataque eletrônico adversário”.
Uma correção relativamente simples seria desenvolver um míssil que escolhe seus alvos usando radares em uma faixa de freqüência completamente diferente. Radares atuais de caças e mísseis operam na chamada banda X, mas eles não têm necessariamente que operar nela. “Sair da banda X é uma opção”, disse um alto oficial da Força Aérea.
O Pentágono também poderia desenvolver um novo míssil que combina vários tipos de sensores, tais como infravermelho e radar para a mesma arma, o que foi tentado sem muito sucesso no passado.
Agora, o Departamento de Defesa, liderado pela Marinha – está trabalhando para aumentar o alcance da versão AIM-9X do Sidewinder em 60 por cento, para dar à frota de caças do Pentágono algum tipo solução para lidar com o problema de interferência eletrônica. Mas, mesmo com o maior alcance, o Sidewinder modificado não chegará nem perto do alcance de um AMRAAM.
A outra opção é encher caças como o F-22 e F-35 com mais mísseis de menor tamanho. A Lockheed Martin, por exemplo, está desenvolvendo um pequeno míssil ar-ar de longo alcance chamado de “Cuda”, que poderia dobrar ou triplicar o número de armas carregadas por um ou outro caça stealth americano. “Buscamos uma nova geração de mísseis ar-ar norte-americanos, como o Cuda, para neutralizar qualquer potencial vantagem numérica do adversário”, disse um representante sênior da indústria do setor.
O representante da indústria disse que, apesar do tamanho pequeno, as novas armas como o Cuda podem oferecer um alcance extremamente impressionante, porque não têm uma ogiva explosiva nelas, apenas correm para o alvo e o destroem com energia cinética.
Mas o oficial sênior da Força Aérea expressou ceticismo profundo que tal arma poderia ser pequena e de grande alcance. “Eu duvido que você possa resolver o problema do alcance e a necessidade de mais espaço na baia de armas, com o mesmo míssil”, disse.
Este oficial acrescentou que as armas futuras serão muito melhores em enfrentar a interferência inimigo, a tal ponto que os caças futuros não precisarão ter a velocidade e a manobrabilidade de uma aeronave como o Raptor. “Eu acho que a velocidade final superior, super cruzeiro, e aceleração terão menor importância com o avanço no alcance e velocidade dos mísseis”, completou.
Para um militar que está comprometido com centenas de bilhões de dólares para caças avançados, esses desenvolvimentos podem não ser exatamente uma boa notícia.
FONTE: www.thedailybeast.com / Tradução e adaptação do Poder Aéreo
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