Indústria da aviação desenvolve tecnologia para ajudar pilotos a pousar na neblina
Os novos sistemas de bordo para pouso estão ganhando força e parecem prontos para receber novas aprovações regulatórias nos dois lados do Atlântico. Com imagens coloridas em alta resolução das pistas e outros recursos, eles foram desenvolvidos para permitir que muitos aeroportos que não têm os mais modernos aparelhos terrestres de auxílio à navegação permaneçam abertos com mau tempo. Nos Estados Unidos, os sistemas permitiriam pousos com baixa visibilidade que hoje são proibidos em dezenas de aeroportos pequenos e médios.
Segundo os proponentes, o resultado seria aumento de capacidade e maior segurança, já que os pilotos receberiam um volume consideravelmente maior de detalhes sobre o terreno ou possíveis obstáculos. O objetivo final, segundo essas pessoas, é eliminar por completo a necessidade de enxergar a pista física. A tripulação de um jato ou jatinho executivo poderia prosseguir na aproximação com baixa visibilidade praticamente o trajeto inteiro até pousar no chão, mesmo sem poder ver a pista real. Os reguladores ainda têm um longo caminho pela frente antes de dar sinal verde para mudanças tão radicais. Antes que as regras atuais possam ser revistas em milhares de aeroportos do mundo todo, os fornecedores dos sistemas precisam demonstrar que as imagens virtuais são tão seguras e confiáveis quanto as normas atuais, que exigem que o piloto de fato veja a pista real pouco antes de pousar.
“Definitivamente, é uma grande tendência” e o progresso até agora “é enorme”, disse Kent Statler, diretor de operações da divisão de produtos comerciais da Rockwell, numa apresentação durante a feira internacional de aviação de Farnborough, Inglaterra, realizada em julho. Contando com sensores capazes de enxergar em meio ao nevoeiro, seja qual for a temperatura ou umidade, acrescentou, a Rockwell dedicou “muito tempo”desenvolvendo esses equipamentos, e avanços significativos provavelmente virão “no futuro bem próximo”.
Evitar desvios de voos devido ao mau tempo “sem dúvida economiza combustível e poupa tempo”, diz Chris Benich, diretor de questões regulatórias da divisão aeroespacial da Honeywell. Os produtos da empresa procuram “extrair o máximo de proveito [dessa tecnologia]” e, ao mesmo tempo, reduzir os custos do investimento para as aéreas”, diz o executivo. Hoje, uma porcentagem relativamente pequena de companhias aéreas é capaz de pousar com visibilidade quase nula. Os jatos mais avançados pousando nos aeroportos mais bem equipados podem usar sistemas totalmente automatizados em casos em que uma forte tempestade, nuvens baixas ou neblina impedem a maioria dos outros aviões de pousar. Dependendo das preferências dos pilotos, equipamentos de pouso automático também podem usar computadores para aplicar os freios, reduzir a potência do motor e até mesmo taxiar pelo meio da pista.
Em poucos anos, espera-se até a adoção de sistemas automatizados para taxiamento que vão dirigir as aeronaves pela pista e usar motores elétricos acoplados ao trem de pouso para encaminhá-las ao portão de desembarque, tudo isso sem comandos diretos do piloto. Mas nos EUA, por exemplo, a maioria dos voos das companhias aéreas não se enquadra nessas categorias. Quando um piloto de uma aérea do país faz uma aproximação para um aeroporto que está com muito nevoeiro, sem poder contar com a mais recente tecnologia de pouso automático, em geral, ele precisa avistar a pista antes de descer abaixo de 200 pés (60 metros). Com treinamento e equipamentos especiais, a tripulação de cabine de algumas aeronaves e jatinhos pode baixar até 100 pés (30 metros) antes de decidir se consegue enxergar pelo para-brisa um trecho da pista que seja suficiente para pousar.
Caso contrário, o piloto deve abandonar imediatamente a aproximação, subir novamente, afastar-se do aeroporto e passar a voar em círculos, ou rumar para outro local. O equipamento de última geração em desenvolvimento tem a meta de derrubar esses antigos limites na altitude permitida para aterrissar e, ao mesmo tempo, permitir pousos quando o piloto não consegue enxergar mais que 400 metros de pista logo antes de pousar.
No ano passado, a Administração Federal da Aviação dos EUA (FAA) propôs regras que permitiriam, pela primeira vez, que o piloto possa adiar a decisão de não pousar até que o avião esteja a menos de 100 pés da pista, usando visão aperfeiçoada, ou a chamada visão “sintética”. Mas o cronograma para uma decisão normativa ampla não é claro, e os regulamentos podem acabar exigindo aprovação individual para sistemas específicos em várias categorias de aeroportos.
Uma porta-voz da FAA não quis comentar.
A Rockwell aposta na reprodução de imagens e certos dados dos instrumentos do painel no para-brisa da aeronave. A empresa afirma que já completou mais de 140 testes de aproximação e pretende iniciar voos para certificação em 2015. Há dois anos, a Rockwell conseguiu um sucesso de marketing quando os reguladores da aviação chinesa se comprometeram a instalar esses sistemas da empresa, os chamados “heads up displays” em centenas de novos jatos 737 da Boeing Co. e, potencialmente, de vários outros modelos de aeronaves. Os dispositivos permitem que os pilotos se concentrem em olhar para a frente, em vez de ter que abaixar a vista para examinar os instrumentos no painel durante os pousos e decolagens.
A Honeywell se concentra no que descreve como um sistema mais barato, chamado SmartView, que usa os visores tradicionais no painel. Nos próximos anos, a Honeywell espera que versões mais avançadas sejam instaladas em uns dez ou doze modelos diferentes de aeronaves, incluindo um jato regional. Executivos da Honeywell já argumentaram que sua solução de unir uma base de dados digital com uma câmera infravermelha é capaz de dar ao piloto o máximo de informação e uma fidelidade de imagem incomparável, sem os custos adicionais de aquisição e manutenção associados com a instalação de visores de para-brisa.
Só no Aeroporto Internacional de San Diego, na Califórnia, a empresa já estimou que o uso amplo do seu sistema poderia permitir o pouso de centenas de voos adicionais anualmente.
FONTE: Valor Econômico