Suíça rejeita compra de caças e futuro do Gripen agora depende do Brasil
Para analistas, decisão nas urnas abre ‘período de incerteza’ em relação ao futuro do programa para a fabricação do Gripen E
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O governo da Suécia já anunciou que compraria 60 jatos da Saab. Mas, para que o projeto seja viabilizado, a empresa sempre indicou que a produção dos novos modelos do Gripen precisariam contar com a exportação de pelo menos 20 jatos.
O governo suíço havia fechado em 2011 um acordo* para a compra de 22 jatos que custariam aos cofres públicos US$ 3,4 bilhões. A Saab havia oferecido produzir parte** dos aviões na Suíça, concedendo contratos de até US$ 450 milhões para as empresas nacionais. Mas nem isso foi suficiente para convencer a população a votar a favor da compra.
O assunto foi a um referendo popular depois que a oposição ao contrato conseguiu reunir 50 mil assinaturas e forçou a votação, alegando que não existia justificativa para o gasto num país que há 200 anos não vai à guerra. Ontem, 53,4% dos suíços disseram “não” à iniciativa. Para Jo Lang, um dos porta-vozes da campanha contrária à aquisição, o gasto foi o principal motivo da rejeição. Segundo ele, além dos US$3,4 bilhões, os suíços gastariam mais US$ 10 bilhões em manutenção.
Promessas – A Saab garantiu que seu programa do Gripen E será mantido. “Respeitamos o processo na Suíça”, declarou Håkan Buskhe, CEO da empresa. Ontem, as ações da Saab perderam terreno. Mas a empresa garante que isso não tem um impacto na negociação com o Brasil.
O governo de Dilma Rousseff anunciou que a Saab havia sido a escolhida para fornecer 36 caças ao Brasil e, desde o início do ano, o governo negocia como e quando os aviões seriam entregues. A previsão é de que os primeiros jatos já voariam no Brasil em 2018.
“A votação na Suíça não significa o fim do desenvolvimento do Gripen”, garantiu o presidente da Saab, Marcus Wallenberg, ao jornal Tages-Anzeiger. Lennart Sindahl, diretor de Aeronáutica da Saab, indicou que a empresa está em negociações com dez países e que mesmo começar a produção com a encomenda brasileira já seria um “grande primeiro passo”.
Mas analistas apontam que o “não” abre questionamentos. “Apesar de a encomenda brasileira ser mais importante, a rejeição dos suíços significa que haverá um período de incertezas até que o contrato com o Brasil seja finalizado”, apontou Mats Liss, analista do Swedbank AB.
Para fontes consultadas pelo Estado, o “não” suíço também abre a possibilidade de que o governo brasileiro tenha uma maior influência na negociação sobre o preço final e sobre as condições de pagamento. “Hoje, a Saab depende do Brasil para manter seu programa”, declarou um militar envolvido em negociações sobre vendas de caças na Europa. “O Brasil hoje significa a sobrevivência do Gripen e, por isso, o governo pode ter mais espaço para negociar”, alertou.
Originalmente, o preço fixado para as vendas ao Brasil chegava a US$ 4,5 bilhões. Mas a Saab deixou claro que poderia negociar o preço e a transferência de tecnologia. O ministro da Defesa, Celso Amorim, chegou a viajar para a Suécia há poucas semanas e o governo espera fechar um acordo ainda em 2014.
FONTE: Estadão (reportagem de Jamil Chade)
IMAGENS: Saab
*NOTA DO EDITOR 1: em 2011 foi apenas anunciada a seleção do Gripen como vencedor de uma competição com o Dassault Rafale e o Eurofighter Typhoon. Um acordo-quadro com os suecos só foi assinado em agosto do ano seguinte.
**NOTA DO EDITOR 2: o correto em relação aos fatos, ao invés de “parte dos aviões”, seria dizer “partes dos aviões”, no plural. Isso porque nenhuma parte da encomenda seria produzida na Suíça, no sentido de montagem / fabricação de certo número de aeronaves numa linha instalada no país, já que os suíços preferiram não investir numa linha local (o que era uma opção no contrato). O que os suíços produziriam em suas indústrias, e que ainda poderão efetivamente produzir no caso de contratos já assinados, seriam algumas “partes”, ou “peças” das aeronaves, para montagem final na Suécia.
NOTA DO EDITOR 3: as notas não têm a intenção de criticar a reportagem do jornal, mas somente embasar o debate dos leitores com informações mais corretas nesses pontos específicos destacados.
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