Enquanto uns querem mais caças, outros têm caças ‘demais’

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Áustria só tem 12 pilotos para 15 jatos Eurofighter, por problemas financeiros

Segundo reportagem da versão austríaca do jornal The Local, atualmente há apenas 12 pilotos de caça disponíveis para voar os 15 jatos Eurofighter que a Áustria possui, e que foram adquiridos num acordo envolto em controvérsias. A Força Aérea Austríaca já pôde contar com 18 pilotos treinados no caça, mas por razões financeiras só consegue, hoje, ter 12 pilotos. A informação foi dada por um porta-voz do ministro da Defesa Gerald Klug.

Para se adequar ao orçamento, as horas de voo precisaram ser reduzidas, ao passo que os pilotos precisam manter um mínimo de horas de voo para se manterem adestrados. Como consequência, reduziu-se o número de pilotos.

A aquisição dos caças em 2002, feita pelo governo anterior de centro-direita, foi impopular e gerou desavenças políticas, segundo o jornal. Um relatório de 2008 da corte de auditores calculou que, ao invés de comprar 18 caças no estado da arte por 109 milhões de euros cada, como estipulado no contrato original, um acordo revisto fez com que a Áustria comprasse 15 caças de segunda mão e menos avançados, por um valor unitário de 114 milhões de euros. O negócio continua, hoje, no centro do debate sobre defesa no país.

FONTE: The Local Austria (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de original em inglês)

FOTOS: Forças Armadas Austríacas (em caráter meramente ilustrativo)

NOTA DO EDITOR: o caso da Áustria parece ser típico do mal planejamento de recursos frente à projeção de despesas. No início, a operação dos jatos adquiridos de segunda mão e da primeira versão do Eurofighter Typhoon (Tranche 1, limitada praticamente ao emprego ar-ar) foi mais intensa, e em pouco tempo os caças já acumulavam o primeiro milhar de horas de voo em operações e treinamentos de defesa aérea. Porém, mesmo com uma modesta força de 15 caças,  o orçamento também modesto não combinou com o custo relativamente alto das horas de voo das aeronaves. Como consequência, hoje apenas uma parcela voa, e menos pilotos podem ser treinados e mantidos operacionais.

Enquanto isso, países vizinhos com economias menores, como a Hungria e a República Tcheca, operam quase o mesmo número de caças de primeira linha cada uma, porém com custos operacionais bem menores – no caso, os jatos Gripen C/D. Aumentando ainda mais o contraste, enquanto os austríacos precisam cortar o número de pilotos treinados no Eurofighter, os tchecos não só mantêm sua capacidade de defesa aérea como participam de exercícios e revezamentos da OTAN para o policiamento aéreo do Báltico, planejando também ampliar o treinamento de seus pilotos para emprego ar-solo e adquirir armamento para esse fim.

Chega a ser irônico que na também vizinha Suíça, às vésperas de um referendo sobre aquisição de 22 novos caças  (Gripen E), os opositores à compra aleguem, insistentemente, que se poderia fazer um acordo de defesa compartilhada do espaço aéreo com os vizinhos austríacos – como se a Áustria já não tivesse dificuldades suficientes para cuidar de sua própria defesa. Mais irônico é o fato de que, como aeronaves “tampão” entre a desativação de seus caças Draken (adquiridos usados) e a entrada em operação dos jatos Eurofighter, a Áustria tenha utilizado justamente aviões F-5 excedentes da… Suíça! –  vistos na imagem acima com um dos primeiros caças Eurofighter entregues. E, como ironia máxima, está o fato de que alguns opositores à compra do Gripen pela Suíça insistem que seria “mais barato” adquirir jatos Eurofighter usados, oferecidos pela Alemanha, como fez a vizinha Áustria…

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