Gripen na Suíça: mais dois editores da mídia local defendem o ‘sim’

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Um deles já foi ferrenho opositor da compra de caças pelo país

Na segunda-feira, 5 de maio, o editor-chefe do jornal suíço Berner Zeitung (publicado em alemão) publicou opinião defendendo o “sim” no referendo que será realizado em 18 de maio na Suíça, em que será aprovada ou não a forma de financiamento da compra do caça Gripen, fabricado pela empresa sueca Saab.

O editor-chefe Peter Jost discorreu sobre os dois lados em disputa: os que são contra, notadamente os verdes e da esquerda, e que dizem que se trata de um caça de papel, ainda não desenvolvido, com desempenho mínimo e muito caro; e os que são a favor, no caso os partidos do “bloco burguês” e organizações industriais, que vêm o caça sueco como perfeitamente adequado à Suíça, de alta eficiência frente ao custo, destacando também a Suécia como um parceiro confiável. Para Jost, a verdade está, como sempre, em algum lugar no meio.

Toda compra de caças de novo desenvolvimento é associado a riscos, mas para muitos especialistas, não são maiores do que outros projetos dessa magnitude. Já as alegações de desempenho fraco ou de desperdício de dinheiro são cercadas de polêmicas. Todos os fabricantes que participaram da avaliação suíça confirma que o processo foi de alta qualidade e objetividade, então seria difícil imaginar que o vencedor não atendesse aos requerimentos. Sobre o valor, de 3,12 bilhões de francos para 22 caças, de fato é bastante dinheiro. Porém, o Gripen ainda é a opção mais em conta frente aos competidores Rafale e Eurofighter. E opções como uso de de drones para proteger o espaço aéreo também podem ficar ainda mais caras.

Não é hora de fazer experimentos com a política de segurança, na opinião do editor-chefe do Berner Zeitung, como mostraram os eventos recentes da Ucrânia, levando em conta que os 32 caças F/A-18 não são suficientes para satisfazer os requerimentos a médio prazo. Quem não quiser que a segurança da Suíça seja colocada em risco, faria bem em votar sim no referendo, na opinião de Jost.


O ‘vira-casacas’ Roger Koppel, editor-chefe do jornal Die Weltwoche: das sugestões de um exército suíço ‘guerrilheiro’ ao apoio ao Gripen

Aparentemente, uma surpresa foi a opinião defendida em editorial do jornal Die Weltwoche por seu editor-chefe, Roger Koppel, que ganhou destaque na mídia. No mesmo dia em que publicou o texto de seu próprio editor-chefe Peter Jost, o Berner Zeitung trouxe matéria destacando a mudança de opinião de Koppel, que era conhecido até pouco tempo como um feroz oponente não só de caças, mas da ideia de um exército convencional para a Suíça. O Tages Azeinger também publicou reportagem sobre a mudança de opinião do editor do jornal concorrente.

O Koppel de hoje teria uma discussão áspera com o Koppel de ontem, que tinha como modelo para o Exército Suíço os guerrilheiros afegãos. Em 2009, ele se opunha veementemente à compra de novos caças, defendendo a ideia de baixo custo de luta guerrilheira nas montanhas suíças, algo que o país sempre treinou bem, numa visão de “David versus Golias”. Hoje ele afirma que nenhum exército regular no mundo pode dispensar caças. A situação na Ucrânia seria um exemplo de que quem não tem forças armadas de credibilidade é uma presa fácil. “É diferente se defender com uma faca de bolso ou um revólver”, afirmou Koppel.

O motivo da mudança de alguém que, ainda em setembro do ano passado, era contra caças? A crença na efetividade de armas baratas (metralhadoras, minas, granadas, facas e bazucas) numa milícia guerrilheira, mudou, segundo Koppel, depois de muitas conversas com pessoal das forças armadas que lhe mostraram a “significativa improbabilidade” de suas propostas para a defesa da Suíça, ainda que fossem variáveis concebíveis. 

Agora o antigo opositor concorda com as opiniões do chefe do Departamento de Defesa Ueli Maurer e do comandante do Exército, André Blattmann, de que sem forças armadas de credibilidade não há uma Suíça independente, como escreve logo no início de seu editorial, e que nenhum exército regular no mundo pode dispensar uma força aérea (ou mesmo navios de guerra, quando é o caso). Assim, não haveria boas razões para negar a compra de novos caças Gripen E no referendo do dia 18, escreveu Roger Koppel, pois a função de forças armadas é deter um agressor infligindo-lhe o máximo possível de danos. Ele destacou que os argumentos contra a compra são pouco confiáveis.

O fato da Suíça ser cercada de países amigos, segundo o editor, mudaria de figura se ela tivesse forças armadas fracas, pois todo estado só é estável conforme suas forças armadas também sejam. Como as Forças Armadas Suíças já foram diminuídas até o osso desde o final da Guerra Fria, Koppel conclui que quem é favorável às forças é favorável à Suíça, e essa deve ser a lógica do referendo de 18 de maio.

FONTES: Berner Zeitung, Tages Azeinger e Die Weltwoche (compilação, tradução e edição do Poder Aéreo a partir de originais em alemão)

IMAGENS (meramente ilustrativas, do hotsite da campanha da empresa na Suíça): Saab

NOTA DO EDITOR: o resultado do referendo pode até ser negativo para o Gripen, no próximo dia 18, mas não se pode negar que a discussão do assunto na mídia suíça foi extensa, antes mesmo da campanha do referendo chegar à sua reta final. Para comprovar  pelo que já publicamos aqui a respeito (que foi uma parcela pequena de tudo que foi publicado na mídia e fontes oficiais da Suíça), experimente digitar a palavra “Suíça” no campo busca do Poder Aéreo: aparecerá uma relação de mais de 20 páginas, com 20 matérias cada uma, e a maioria relacionada à concorrência de caças daquele país.

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