Por causa da lentidão russa, frota indiana de Sukhois está em apuros
VISHAL THAPAR
A chocante marca de 50% da frota de caças Sukhoi Su-30MKI da Força Aérea da Índia (IAF) está no chão, devido a problemas de manutenção não resolvidos com os fabricantes russos da aeronave. Isso também tem corroído a capacidade de combate de aeronaves de ataque de longo alcance da linha de frente da Índia e compromete, mesmo a parte da frota que é capaz de voar.
A IAF e a Hindustan Aeronautics Limited (HAL) tocaram o alarme sobre as repetidas falhas em pleno voo do computador de missão do Su-30 e o apagamento de todas as telas do cockpit. Os russos não responderam ao SOS repetido dos indianos por mais de um ano.
Estas divulgações foram feitas em comunicações que vazaram entre HAL e as agências russas. Estas estão em posse exclusiva de The Sunday Guardian.
O diretor-gerente do complexo Nasik da HAL, que é encarregado da montagem e reparação dos Sukhois da IAF, avisou desesperadamente em vão “vários casos de falhas do computador de missão – 1, o apagamento do HUD e de todos os displays multifunção em voo” aos representantes da Rosboronexport – agência de exportação do governo russo, e da Irkut, fabricante original do Sukhoi Su-30.
“Como o apagamento das telas em voo é um problema sério e crítico que afeta o emprego das aeronaves, isso precisa de ação corretiva/medidas corretivas em prioridade”, defende, em carta datada de 28 de fevereiro deste ano, lembrando aos russos que ele está levantando a questão desde 7 de março de 2013, mas sem sucesso.
Falhas dos computadores de missão e nos displays do cockpit são críticos. Toda a surtida é programada no computador de missão, que é vital para o gerenciamento de requisitos de combate aéreo. O apagamento dos displays da cabine distrai os pilotos e desvia a atenção da missão. A IAF está preocupada com a ponta de lança de sua frota de caça ser atingida por esses senões irritantes. A IAF tem planejada uma frota Sukhoi Su-30 de 272 aeronaves, das quais cerca de 200 foram entregues.
O Marechal do Ar Denzil Keelor, um dos pilotos de caça mais condecorados da IAF, se espanta. “Falhas em voo, como as que estão sendo relatadas tornam um avião de caça vulnerável. Quando um caça está sendo voado abaixo da capacidade ideal, torna-se mais vulnerável a um adversário. Nenhuma aeronave deve voar, a menos que tenha capacidade de execução de 100%”, ele adverte.
O que parece ainda mais preocupante é a lentidão russa, que atingiu severamente a manutenção e disponibilidade da frota de caças. Mesmo após cinco anos da assinatura do contrato para a criação de instalações de reparação e revisão geral de Su-30 na Índia pela HAL, não há nenhum progresso, apesar de “acordos” e garantias, mesmo ao nível dos ministros da Defesa dos dois países.
“Devido à falta de disponibilidade de instalações para a revisão de agregados (peças de aeronaves), a facilidade de manutenção (disponibilidade para voar) do Su-30MKI está diminuindo lentamente e a demanda por itens para aeronaves em solo (AOG) em ascensão,” reclama a divisão Nasik da HAL com a Rosboronexport da Rússia, em uma carta reveladora de 24 de dezembro de 2013. Mesmo os prazos revisados com os russos para configurar a instalação de reparo e revisão na HAL até dezembro de 2013, e revisar a primeira aeronave em junho de 2014, parecem longe do horizonte.
Pior, a Rússia tem colocado em espera o envio de seus especialistas da Sukhoi para a Índia para ajudar na capacitação de reparação e manutenção. Documentos disponíveis com o The Sunday Guardian sugerem que os dois lados estão discutindo sobre preço. Isso vai contra um acordo que definia que o envio de especialistas russos não seria interrompido, mesmo que as negociações de preço não fossem concluídas. Na ausência desses especialistas, a HAL foi forçada a se defender por conta própria, com os aviões em solo (AOG) se acumulando.
“Enormes quantidades de agregados inservíveis (partes) estão esperando por revisão, em várias bases de IAF”, afirma a HAL, revelando que o número de Su-30 que está sendo aterrado por falta de reparos está aumentando rápido. Os russos foram informados de que cinco caças Su-30MKI já estão estacionados na HAL para extensa revisão, e outros 15 serão enviados para a revisão no ano em curso. Este número é equivalente a um esquadrão inteiro.
Lamentando o atraso da Rússia, a HAL expressa ainda mais desamparo: “Parece que a Rosboronexport e a Irkut Corporation (as principais partes do contrato) tem controle limitado sobre outras empresas russas (que fornecem partes vitais, como motores).” Suprimentos e delegação de especialistas de outras empresas são ainda mais erráticos.
Embora alertando que operar os caças sem conclusivamente solucionar as dificuldades recorrentes poderia afetar a confiança dos pilotos, o Marechal do Ar PS Ahluwalia, que recentemente dirigiu o Comando Ocidental da IAF, também questiona o Ministério da Defesa e a HAL pelo o triste estado de coisas. “É um problema de má gestão dos acordos de manutenção. O Departamento de Produção de Defesa do Ministério da Defesa é responsável. Eles não conseguiram resolver os problemas”, diz ele.
Como comandante-em-chefe do Comando Aéreo Ocidental, Ahluwalia não hesitou em aterrar a frota de MiG-29 por três meses após suspeitas de sua aeronavegabilidade após um acidente. Ele colocou a frota novamente para voar somente após o problema de manutenção ser resolvido.
Números revelam o quão sério é o problema da disponibilidade da frota de Su-30MKI da IAF. Contra o número de apenas 50% dos Sukhoi para voo operacional, as estatísticas revelam o quanto o solo está descoberto. Os índices de disponibilidade dos caças franceses Mirage 2000 da IAF e até mesmo os de origem russa MiG-29 é de cerca de 75%. Enquanto a Índia discute com a Rússia sobre os acordos de manutenção, a questão maior é: quão boa é uma arma se ela não pode ser usada?
FONTE: The Sunday Guardian / Tradução e adaptação do Poder Aéreo
VEJA TAMBÉM: