Em detalhes, a audiência na CRE sobre F-X2 e a escolha do Gripen
Os principais pontos falados na audiência estão detalhados aqui, no Poder Aéreo. Leia e comente!
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Segue abaixo nossa descrição detalhada de como foi a audiência, que começou às 10h07 e terminou às 12h06.
Apresentação do presidente da COPAC
Antes mesmo da apresentação do brigadeiro Crepaldi, o comandante Saito ressaltou que a intenção é assinar o contrato do Gripen com a Saab até o final do ano. Em seguida, o presidente da COPAC fez uma apresentação sobre o histórico e o andamento do programa F-X2, destacando inicialmente a importância de se ter aeronaves desenvolvidas e fabricadas no Brasil. Um exemplo, que segundo o brigadeiro foi voado em algum momento por todos os oficiais generais da FAB na ativa, é o Aerotec T-23 Uirapuru, ao qual se seguiu diversas aeronaves, fazendo com que hoje um piloto de caça da Força Aérea faça cada passo de sua instrução, da primária à especializada, em aeronaves desenvolvidas e fabricadas no país: T-25, T-27 e A-29. Destacou também que a presidente da República também voa em um avião desenvolvido e fabricado no Brasil, e que tudo isso é resultado de anos de investimento e planejamento de longo prazo.
Crepaldi em seguida relembrou que, na Estratégia Nacional de Defesa (END), um ponto básico é que o Brasil é um país pacífico por tradição e convicção, mas que, para ocupar seu lugar no mundo, deve estar preparado para defender-se não só de agressões, mas também das ameaças. Ao mesmo tempo, para um país que tem diversas outras prioridades sociais e econômicas, passando frequentemente por restrições orçamentárias, é fundamental se fazer a análise do tempo de vida de um meio destinado à sua defesa. O estudo do ciclo de vida de aeronaves é, assim, um ponto fundamental do F-X2, sendo que aeronaves de combate costumam operar por cerca de 30 anos, mas o Brasil frequentemente leva esse tempo para 40 ou 50 anos, com modernizações e extensões da vida útil.
Sobre o histórico dos últimos anos do F-X2, o presidente da COPAC lembrou que, desde 2008, uma diretriz do comandante da Aeronáutica estabeleceu que o novo caça deveria substituir no curto prazo o Mirage 2000, e no longo prazo o F-5EM e o A-1M, padronizando a Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira. Destacou também que foi em 5 de janeiro de 2010 que o Relatório Final do F-X2 foi entregue pela Aeronáutica ao Ministério da Defesa.
O programa envolveu a avaliação de 1.200 requisitos, divididos nas seguintes áreas: técnica-operacional, logística, industrial, comercial e contrapartidas. Para cada uma dessas áreas, foi feita uma análise de risco. Um ponto importante a se destacar na questão técnica operacional, é que foram estabelecidos os seguintes requisitos mínimos de autonomia para os novos caças: raio de ação de 300 milhas náuticas (cerca de 540km) para missões ar-ar e de 500 milhas náuticas (aproximadamente 900km) para missões ar-solo. Crepaldi afirmou que o Gripen cumpriu esse requisito, assim como os outros dois concorrentes finalistas.
Os pontos fortes da proposta do Gripen
O presidente da COPAC também resumiu os pontos fortes do Gripen de nova geração, caça selecionado no programa F-X2:
- Lançamento de mísseis com sensores em modo passsivo
- Reduzida quantidade de equipe de apoio e mão-de-obra
- Melhor operação desdobrada
- Motor com menor custo operacional e melhor mantenabilidade e confiabilidade
- Menor impacto de implantação na infraestrutura da FAB
- Participação do país na certificação da aeronave durante o desenvolvimento
- Potencial industrial da empresa
- Menor risco contratual
- Menor custo operacional
- Montagem no Brasil
Para a seleção do vencedor, dois pontos foram considerados fundamentais: um é a transferência de tecnologia, que visa capacitar a indústria nacional com tecnologias para um caça de quinta geração. A própria indústria foi solicitada a mostrar quais tecnologias ainda não dominadas (lembrando que o país já domina várias tecnologias aeronáuticas importantes) deveriam ser solicitadas, ou seja, foi a partir das demandas das indústrias, num processo coordenado pela FAB, que se estabeleceu quais tecnologias seriam fundamentais para capacitar o país para o desenvolvimento de um caça de quinta geração. As telas apresentadas com os pontos principais dos projetos de capacitação oferecidos pela Saab e as demandas da indústria nacional visando a capacitação para o caça de quinta geração estão acima.
Outro ponto fundamental foi a cooperação industrial, que visa capacitar a indústria e a Força Aérea a manter os itens estratégicos da aeronave. Entre os destaques da proposta do Gripen para atender a esse ponto, estão a instalação de um centro de desenvolvimento, integração e simulação no Brasil (dentro do que se chama Gripen Design and Development Network), funcionando online, em tempo real, ao desenvolvedor na Suécia. Essa conexão se dará via Embraer, ou seja, os diversos fornecedores nacionais envolvidos no projeto farão parte da rede tendo como ponto central a Embraer.
Para a concretização de tudo isso e para a decisão pela proposta do Gripen, deu-se bastante peso ao fato desta permitir não só aprender, mas trabalhar junto no projeto da aeronave e dos sistemas necessários. Alguns pontos importantes foram destacados nesse sentido:
- Compartilhamento da propriedade intelectual
- Projetos de estruturas e testes
- Desenvolvimento e produção compartilhados
- 80% das partes estruturais serão fabricados em instalação que será criada em São Bernardo do Campo / SP, incluindo os materiais compostos. Isso compreende a fuselagem traseira, asas e portas do trem de pouso – para esses itens, o Brasil seria “sole source”, ou seja, o fornecedor único. Os componentes seriam montados não somente nas aeronaves brasileiras, mas em todos os caças Gripen a serem vendidos no mundo.
- Haverá uma linha de montagem final no Brasil (além da linha sueca).
- A linha de montagem brasileira atenderia a todos os clientes possíveis no acordo de marketing com a Saab: países da América do Sul e área de influência do Brasil, incluindo África.
- Desenvolvimento de uma tela única de grande área (Large Area Display), do tipo touchscreen (que permite seleção de funções com toque na tela).
- 97% do CLS (apoio logístico do contratante) será feito pela Aeroeletrônica (AEL), instalada no Rio Grande do Sul.
Andamento das negociações com a SAAB – Super Tucano, KC-390 e Erieye
Desde 20 de dezembro já estão sendo negociados pontos do contrato com o fabricante do Gripen, a sueca Saab. Há um cronograma completo de reuniões, incluindo empresas brasileiras, para que se assine o contrato na segunda quinzena de dezembro deste ano, mais especificamente, se possível, no dia 18 de dezembro de 2014. O calendário, segundo o presidente da COPAC, é apertado, porém exequível.
Alguns pontos importantes estão em discussão com a Suécia, entre eles as intenções do país em adquirir aeronaves Super Tucano e KC-390 (este com voo do protótipo previsto para outubro deste ano). Há também na mesa um compromisso da Saab de que futuros projetos envolvendo aviões equipados com radar Erieye seriam oferecidos exclusivamente com aeronaves da Embraer, como plataforma.
O debate com os senadores
Finalizada a apresentação por volta das 10h50, os senadores começaram o debate com o comandante da Aeronáutica e o presidente da COPAC.
A lacuna até 2018
O presidente da CRE, senador Ricardo Ferraço (PMDB – ES) perguntou ao comandante Saito como será coberta a lacuna e feita a transição até que o primeiro Gripen NG seja recebido, em 2018. O tenente-brigadeiro Juniti Saito afirmou que, desde a desativação dos Mirage 2000 no final do ano passado, o caça F-5 modernizado está cumprindo a contento toda a missão de defesa aérea, mesmo sem ser o ideal. A partir da decisão pelo Gripen no programa F-X2, foram iniciadas conversas com o Ministério da Defesa da Suécia e a Força Aérea Sueca, cujo comandante esteve no Brasil e ofereceu o empréstimo de caças Gripen C/D, de geração anterior aos NG pretendidos pela FAB, para cobrir a lacuna. Ou seja, já há um compromisso da Força Aérea e do Ministério da Defesa da Suécia em fornecer essas aeronaves, e espera-se que se possa tomar uma decisão por volta do meio deste ano.
Essas 8 a 12 aeronaves Gripen C/D operariam na FAB entre 2016 e 2020 pois, apesar das primeiras entregas do Gripen NG estarem programadas para 2018, ainda levaria dois anos para se estabelecer de forma completa um primeiro esquadrão com o novo caça. Com tudo isso – o uso do F-5M na defesa aérea e o empréstimo de caças Gripen C/D – Saito foi explícito em dizer que a FAB vai cumprir suas prerrogativas.
Componentes norte-americanos
O senador Ferraço, baseado em afirmações que circulam na mídia e atribuídas a especialistas, questionou se procede as alegações de críticos à escolha do Gripen de que boa parte dos componentes do caça não são suecos, e se isso poderia gerar embargos, principalmente por parte dos Estados Unidos quanto a motores e especialmente quanto a armamentos e códigos-fonte de origem americana, afetando o nível de independência que teríamos com o caça sueco. O comandante Saito respondeu que, hoje, ninguém fabrica 100% de um caça com componentes da indústria do próprio país. O principal item externo do Gripen é o motor, americano, mas trata-se de um item mecânico.
Os motores virão junto com os caças e serão comprados motores extra, como reserva, assim como será garantida a manutenção dos mesmos aqui. Hoje, há 4 ou 5 fabricantes de motores a jato no mundo, tecnologia para a qual se precisa de muitos anos para desenvolver e competir. O Brasil está só no primeiro passo desse desenvolvimento, ainda focado em turbinas para geração de energia. Quanto à aviônica, ela será produzida no Brasil e o código-fonte será transferido integralmente, para que o país possa integrar armamentos próprios.
O senador Ferraço insistiu no questionamento sobre 40% da aviônica do caça ser dos Estados Unidos, ao que o presidente da COPAC, brigadeiro Crepaldi, retomou a questão como um todo: pode-se integrar armamentos de vários países no Gripen, e não só americanos. Principalmente, pode-se integrar armamentos nacionais. Quanto à parte estrutural, essa é a mais fácil de se realizar o desenvolvimento e produção no Brasil. O principal objetivo é, este sim, o desenvolvimento do software. Hoje, há aviônica de procedência norte-americana no Gripen, fornecida pela Rockwell Collins, mas o objetivo é que ela seja brasileira, com foco no ciclo de vida do caça. Há garantias explícitas de que haverá transferência de tecnologia nessa área, segundo o presidente da COPAC. Ainda sobre os motores, Crepaldi reforçou que, qualquer que fosse a escolha do caça, haveria esse risco de dependência de fornecedores quanto ao motor, pois há poucos fabricantes mundiais. Por isso focou-se em garantir a sua manutenção no país.
O valor da proposta e o ‘status’ do Gripen
O presidente da CRE, senador Ricardo Ferraço, mostrou preocupação com o valor de 4,5 bilhões de dólares da proposta, se este é um limite ou se haveria risco de uma escalada de custos. O comandante Saito respondeu que o valor final é algo que se está sendo negociado, podendo ficar tanto acima quanto abaixo desse valor, quando da assinatura do contrato.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB – SP) levantou a questão da longa duração de todo o processo, que considerou preocupante, assim como o drama da descontinuidade orçamentária poder afetar o programa. Perguntou também se 36 caças são considerados suficientes, tendo em vista muitas afirmações de que a autonomia do Gripen seria inadequada para um país continental, e se haveria dificuldade para adaptação dos pilotos, rapidamente, ao Gripen C/D que cobriria a lacuna enquanto os novos não chegassem. O senador Ferraço aproveitou para questionar se o Gripen é um projeto ou uma realidade, e se não é um caça adequado só para países pequenos, como os que atualmente operam a aeronave.
O tenente-brigadeiro do ar Juniti Saito reforçou que o caça atende aos requisitos de raio de ação estabelecidos pela FAB, assim como o fato de que os três concorrentes finalistas cumpriram esses requisitos. Para qualquer um dos caças operar em raios de ação superiores aos estabelecidos pelo programa (300 milhas náuticas para missão ar-ar e 500 milhas náuticas para missão ar-solo), é necessário reabastecimento em voo, de forma a realizar missões acima de um raio de 1.500 milhas náuticas. É por isso que a FAB está empenhada nos programas do KC-390, avião de transporte tático e reabastecimento, e do KC-X2, de transporte estratégico e reabastecimento. Quanto a este último, foi selecionada uma proposta da IAI israelense para converter jatos Boeing 767 para o reabastecimento em voo, aguardando-se autorização do governo para a assinatura do contrato. Quanto a demoras de decisão, o comandante da Aeronáutica reconheceu que em mais de uma ocasião a decisão do governo foi adiada, devido a diversas outras prioridades deste.
A desativação dos caças F-5M e dos jatos de ataque A-1M
Prosseguindo na sua resposta, o comandante Saito ressaltou que a FAB possui 43 jatos de ataque A-1 e 57 caças F-5M para defesa aérea, e que eles têm tempo pela frente. O F-5 deverá ser desativado a partir de 2025 e o A-1 a partir de 2030. Por hora, serão adquiridos 36 caças Gripen, porém mais exemplares deverão substituir, no futuro, a frota de F-5 e A-1. Sobre a adaptação dos pilotos da FAB ao Gripen C/D, Saito afirmou que não vê dificuldade para a adaptação dos pilotos a essa plataforma. O usual é um ano de treinamento para isso, e a Força Aérea Sueca já ofereceu a possibilidade de dois pilotos iniciarem esse treinamento, na Suécia, a partir de agosto deste ano. Ainda a respeito dos aviões de reabastecimento em voo, o comandante Saito disse que o KC-390 e o KC-X2 deverão estar em linha quando da chegada do Gripen NG, que tem capacidade de ser reabastecido no ar.
A produção dos caças no Brasil
A senadora Ana Amélia Lemos (PP – RS) lembrou que, com a intenção de se produzir as aeronaves no Brasil, é de se esperar uma competição entre cidades do país pelas instalações de linhas de montagem, já deixando claro que deseja garantir a participação de municípios do Rio Grande do Sul. Perguntou se os primeiros caças seriam produzidos na Europa com aprendizado brasileiro ou se a produção de todos os 36 aviões seria no Brasil, questionando também se, por ser menor e monomotor, teria menos autonomia, se há expectativa de se produzir uma versão naval e para onde o caças poderia ser exportado. O senador Ferraço aproveitou para insistir na pergunta ainda não respondida, se o Gripen NG é um projeto ou uma realidade.
O comandante Juniti Saito começou pela pergunta de Ferraço, afirmando que, hoje, há um avião de prova conceitual do Gripen NG em voo, no qual houve mudança do trem de pouso da fuselagem para as asas, de forma a ocupar a antiga posição do equipamento com mais combustível. O protótipo do Gripen NG deverá voar no ano que vem, segundo Saito, que reforçou que a nova geração do Gripen é um derivativo do Gripen C/D, asim como o Super Hornet deriva do Hornet. Lembrou que chegou a voar no Gripen B (biposto de primeira geração do caça) em 1997 e que o fato do Gripen NG precisar ser desenvolvido não é encarado como um problema, e sim como uma solução. Ferraço insistiu que os operadores do Gripen são países pequenos, ao que Saito também insistiu no ponto de que o caça foi extensamente analisado e que atende às nossas necessidades, e não há dúvidas sobre isso.
Versão para a marinha e as vantagens e desvantagens de um caça monomotor
Prosseguindo nas questões levantadas pela senadora Ana Amélia Lemos, o comandante Juniti Saito disse que a Marinha do Brasil tem interesse em desenvolver versão naval e que os suecos podem colaborar com esse desenvolvimento, complementando que a Marinha está sendo convidada para discutir esse assunto. Quanto ao fato de ser monomotor, há vantagens e desvantagens. Entre as vantagens, está o fato de tornar o avião menos detectável pelo inimigo, Entre as desvantagens, está o fato de que, em caso de perda da turbina, o piloto tem que ejetar. As vantagens em equipamentos de guerra eletrônica oferecidos pelo Gripen, por outro lado, compensam o fato de ser monomotor, segundo o comandante da Aeronáutica. Saito esclareceu também que o Gripen é um caça de geração 4,5. Caças de quinta geração só existem os Estados Unidos, hoje, com o F-22 que os americanos não vendem para ninguém e o F-35 que chegou agora está sendo oferecido internacionalmente. Russos e chineses estão desenvolvendo os seus caças de quinta geração.
Orçamento e pagamento após última entrega, em 2023
Quanto a preocupações levantadas pelos senadores sobre orçamento, o comandante Juniti Saito ressaltou que é fundamental haver desembolsos previsíveis, e que os pagamentos para o KC-390 têm sido regulares pois não pode atrasar, visto que concorrentes estão a caminho. O senador Aloysio Nunes relembrou que essa questão orçamentária é fundamental e que sua previsibilidade precisa ser garantida, cobrando o presidente da CRE, senador Ferraço, de agir politicamente nesse sentido.
Ferraço perguntou se procede a informação de que os pagamentos só começariam após a entrega da 36ª aeronave, ao que o comandante Saito respondeu que essa é uma questão em negociação para o contrato. A Saab ofereceu financiamento em que o pagamento só seria iniciado 6 meses após o recebimento do último caça, em 2023. Porém, isso precisa ser discutido com os ministérios da Fazenda e do Planejamento, quanto ao interesse na proposta, ou se esses ministérios preferem que os desembolsos sejam feitos periodicamente pelo tesouro.
O senador Ferraço, interrompendo um questionamento do senador Eduardo Suplicy (PT – SP) sobre a expectativa de geração de empregos, perguntou sobre a fábrica que a SAAB pretende instalar em São Bernardo do Campo / SP, se essa diversificação seria necessária ao invés de uma concentração na Embraer, em Gavião Peixoto.
O comandante Saito respondeu que, em São Bernardo, deverá ser instalada uma fábrica para montar estruturas, e não para montar aeronaves. Lembrou que, nas instalações da Embraer em Gavião Peixoto, não se produz estruturas, e sim se faz a montagem final e integração de componentes nos aviões. Assim, em São Bernardo do Campo serão fabricados componentes estruturais e a Embraer irá receber esses componentes para a montagem dos caças em Gavião Peixoto.
Quanto à previsão de geração de empregos, o comandante da Aeronáutica estimou em 2.000 a 3.000 empregos diretos, além de cerca de 22.000 indiretos.
Suplicy solicitou uma comparação do valor do programa do Gripen em relação ao orçamento da Aeronáutica, e quanto isso representaria em desembolso anual, no caso do financiamento oferecido. O comandante Saito respondeu que seriam desembolsados 500 milhões de dólares por ano ao longo dos 9 anos de pagamento, e que esses pagamentos representariam menos de 10% do orçamento anual da Aeronáutica.
Os diferenciais da transferência de tecnologia
Já nas considerações finais, o senador Ferraço perguntou o que, dentro da oferta de transferência de tecnologia da Saab, foi um fator decisivo, que os outros concorrentes não ofereceram. O presidente da COPAC, brigadeiro Crepaldi, relembrou a filosofia do domínio tecnológico mostrada na apresentação inicial, ressaltando a vantagem do desenvolvimento conjunto e a garantia da propriedade intelectual, como pontos fortes da proposta do Gripen. Outros foram o acesso aos códigos-fonte, incluindo dados de desenvolvimento das versões anteriores do caça. Crepaldi ressaltou que as outras ofertas também eram muito boas e que cumpriram os requisitos da FAB, mas que não poderia dar detalhes a respeito, pois isso poderia interferir em concorrências que os concorrentes não selecionados realizam em outros países.
Ferraço insistiu, porém, na questão dos códigos-fonte, se poderia ser dada uma resposta objetiva à questão de quem ofereceu a melhor proposta nesse sentido, ao que Crepaldi respondeu que a Boeing e a Dassault, mesmo cumprindo os requisitos, não ofereceram o mesmo nível de acesso aos códigos-fonte que a Saab ofereceu.
Por fim, o senador Ferraço levantou a questão das compensações (off sets) oferecidos pela Saab, recebendo do comandante Saito a resposta de que, dentro do que pode falar, há compensações que representam 170% do valor do contrato.
Respondendo a um novo questionamento de Ferraço sobre os critérios para se distribuir essas compensações, o brigadeiro Crepaldi informou que, conforme portaria do Ministério da Defesa, as compras de material de defesa no exterior devem, obrigatoriamente, ser acompanhadas de compensações tecnológicas, industriais e comerciais. A FAB focou na compensação tecnológica e industrial, conforme os critérios mostrados na apresentação do início da audiência. O brigadeiro informou também que essas compensações são regidas por um contrato separado, administrativo. Este inclui sanções em caso de não cumprimento, e vem sendo aplicado há anos pela Aeronáutica.
E assim chegou ao final a audiência, por volta das 12h06 desta quinta-feira, conforme as anotações que fizemos ao longo de sua transmissão. Há diversos pontos interessantes para discutir, muitos deles já levantados como dúvidas em diversas ocasiões pelos leitores do Poder Aéreo, que agora podem ser respondidos e, principalmente, servir para novas questões. Ao debate!
Atualização: para assistir a vídeo de 32 minutos disponibilizado pela TV Senado, compreendendo a íntegra da apresentação inicial feita pelo brigadeiro Crepaldi da Copac, clique aqui.