Em mais alguns anos a Lockheed Martin poderá ser a única fabricante de aviões de caça dos EUA. A atual rival da Lockheed, a Boeing, ficaria limitada à oferta de aeronaves derivadas de seus jatos comerciais como reabastecedores e aviões de reconhecimento.

Esta é a imagem que está emergindo das decisões de compra do Pentágono durante a última década diz Richard Aboulafia, analista de aviação da Teal Group.

O que ele vê no orçamento de aviões militares dos EUA é “morte e destruição ” da base industrial, disse Aboulafia a executivos no último dia 19 de fevereiro, durante uma reunião da Associação Nacional de Aeronáutica (National Aeronautic Association).

O problema não é a falta de dinheiro, diz ele, mas a quantidade desproporcional está sendo gasta com o Joint Strike Fighter (o F-35), fabricado pela Lockheed Martin.

“Nós colocamos todos os ovos na mesma cesta”, diz Aboulafia. “Um monte de programas estão morrendo”.

Durante reestruturação militar pós-Guerra Fria, os fabricantes se fundiram e a indústria encolheu, mas o Pentágono manteve a maioria de suas principais linhas de montagem, e só desativou a do F-14 da Marinha e a do bombardeiro B-2 da Força Aérea.

A desaceleração dos gastos com defesa nos próximos anos provavelmente vai marcar o fim da produção do C-17 para a Força Aérea, dos caças F-15 e F- 16, e do F/A-18 da Marinha, diz Aboulafia. “O dia do acerto de contas virá”, ele diz. “Honestamente, não há muitas alternativas para salvar essas linhas”.

Os vencedores são o F-35 e o avião de carga C-130J, também feito pela Lockheed Martin, que o Pentágono pretende comprar em grandes números. Há uma chance de que a Força Aérea encomendará novos bombardeiros, mas isso não vai acontecer antes de 10 anos. “Esta não é uma imagem feliz do ponto de vista da base industrial de aviões militares a menos que você tem uma parte do programa F-35”, diz ele.

O Pentágono fez um péssimo trabalho recapitalizando sua frota de aviões quando os orçamentos de defesa foram subindo após 9/11, Aboulafia observa. Os gastos militares em novos equipamentos ainda é relativamente alto, 94 bilhões de dólares em 2014, comparado a 130 bilhões dólares durante o pico de guerra. Mas o alto custo dos novos aviões e uma falta de planejamento deixou as forças militares com uma frota envelhecida e com o seu maior programa, o F-35, que está evoluindo muito mais lentamente do que o esperado. “Isto é desastroso”, diz Aboulafia. Ele observou que, em dólares correntes, no auge da era Reagan, em 1986, o Departamento de Defesa adquiriu 387 aeronaves. No ponto alto de gastos da era Iraque/Afeganistão foram comprados 75.

“Temos essa frota envelhecimento que não está sendo substituída”, diz ele. Isso transformará o mercado dos EUA consideravelmente uma vez que mais dinheiro será gasto em atualizações e reparos do que na nova produção.

De acordo com as projeções atuais, os caças da Boeing como o F-15 e F/A-18 Super Hornet continuarão em produção por alguns anos e, de repente, serão sumariamente encerrados, diz Aboulafia. “Neste momento, a Boeing tem de decidir como uma empresa se ​​a linha vai ser mantida em atividade com investimento próprio”. Como o Pentágono investe seus dólares em aquisições no próximo ano poderá ter consequências duradouras, diz ele. “A batalha do orçamento vai determinar o futuro das últimas linhas de produção de aviões de combate de asa fixa da América”.

As vendas de exportação não podem ser consideradas para compensar os cortes do Pentágono. Perder a concorrência no Brasil foi um golpe duro para o Super Hornet, diz ele. Ele credita aos líderes da Boeing que, há quatro anos, apostaram suas fichas no programa do reabastecedor da Força Aérea, assegurando a manutenção da empresa no mercado militar. “Se você fosse da Boeing e visse tudo isso acontecendo há alguns anos, você colocaria todo o seu capital político no programa do reabastecedor”, diz ele. “E isso é exatamente o que eles fizeram. Eles viram isso acontecer”.

A Boeing muito provavelmente deva sair do mercado de caças táticos e focar em derivados militares de jatos comerciais, como o KC-46 de reabastecimento e o P-8 de vigilância marítima. “Esta é uma grande mudança radical “, diz Aboulafia . “A composição desta indústria está mudando. Os próximos dois anos vão ser uma experiência chocante para os envolvidos”.

FONTE: National Defense Magazine(tradução e edição do Poder Aéreo a partir do original em inglês)

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