Reflexões
Durante o final de ano, aproveitando os feriados prolongados resolvi fazer uma ação drástica e dolorida:
Não podendo mais suportar a falta de espaço em minhas estantes de livros sobre militaria e principalmente sobre aviação, as quais coleciono desde a minha infância, resolvi passar uma tesoura(estilete seria a palavra certa) nas revistas da minha coleção.
Uma opção mais que dolorosa, embora não tanto como já fizemos(eu e meu irmão Horácio) quando nos desfizemos de centenas de publicações nos anos 60 a 80 doando-os para o saudoso François Durand. Estas revistas se perderam com o falecimento dele , mas o que mais senti foram duas maquetes preciosíssimas (do Pulqui II e do Basler AC-47 da Força Aérea da Colombia ) que estavam em sua oficina para restauro e a viúva dele me recusou em devolvê-las.
Do recorte das minhas revistas, inúmeros títulos raros foram sacrificados: Air Pictorial, Aircraft Illustrated, JP4, Air Classics, Air Power, Wings, Air Enthusiast, Air International, Air Forces Monthly , Air Progress,Koku-fan, etc…
Obviamente, as matérias que preservei se limitam a temas de minha predileção (forças armadas e aviação latino-americana), sendo assim muita coisa boa foi sacrificada indo direto para a reciclagem.
Na hora de recortar as revistas francesas (Avions, Le Fana, Air Magazine) e alguns de muito boa qualidade( Air Enthusist Quaterly, Small Air Forces Observer entre outros) meu coração falou mais alto, e resolvi preservá-las intactas .
Por incrível que possa parecer , este emagrecimento compulsório, facilitou muito a consulta das matérias, pois agora devidamente classificados, não tenho mais aquele problema de procurar em pilhas e pilhas de revistas aquela matéria que queria consultar.
Como reflexão de ano novo, lamentei muito a perda de dois grandes amigos, que devido a doenças foram para “o andar de cima”. São eles Romulo Figueiredo e o uruguaio Rolando Grasso, ambos pesquisadores sérios, o Rolando por exemplo já nos anos 50-60 fornecia fotos de aviões militares do Uruguai para William Green( que nunca teve o cuidado de publicar a autoria das fotos) . O Romulo, ex-oficial da FAB morava no Rio, era muito dedicado e assim como eu fazíamos parte da Latin American Aircraft History Society-LAAHS, lar dos maiores pesquisadores do mundo sobre a aviação latino-americana. Iriamos escrever um livro juntos, mas a luta contra o cancer fez com que eu tocasse o projeto solo.
Percebi que a grande maioria dos pesquisadores que preservam material histórico de forma séria, já estão com mais de 60 anos. São de uma época AI ( Antes da Internet), quando correspondíamos por cartas pois o telefone interurbano era muito caro. As unidades militares eram muito difíceis de serem acessados e os poucos dados que tínhamos muitas vezes incorretas. Fontes primárias eram quase impossíveis e assim como muitos pesquisadores já fui detido por estar fotografando aviões militares.
Um dilema que assola muitos pesquisadores como eu, é o que fazer com o acervo depois da morte. Eu por exemplo, tenho um filho de 30 anos que adora avião para encurtar distancias, mas minha biblioteca não tem serventia.
Alguns pensaram em doar para bibliotecas de quartéis, eu desisti quando visitei a biblioteca do INCAER no Rio, e ví inúmeros livros maravilhosos, literalmente perdidos nas estantes (colocados de forma desorganizada) e por incrível que pareça nunca sequer folheados! A mesma coisa posso dizer da biblioteca do Arquivo Histórico do Exercito, também no Rio.
Talvez, este hobby esteja em extinção, afinal para que uma pessoa se deslocaria a uma biblioteca para fazer pesquisa se posso “dar um google” aqui mesmo em casa?
Indo na contramão da tendência mundial, me surpreendeu, neste final de ano a frequência de clientes na Livraria Cultura, sempre lotada mesmo numa época em que as ruas de São Paulo estão desertas pois grande parte da população está viajando. Longa vida às livrarias!
Feliz 2014
Hélio Higuchi