‘Não é um avião para assustar, mas impõe respeito’
Claudio Dantas Sequeira
Na tarde da quinta-feira 19, ele recebeu ISTOÉ em seu gabinete. “Minha missão está cumprida”, disse o brigadeiro. Há oito anos no comando da Aeronáutica, Saito elogia o Gripen e comenta o assédio dos concorrentes para conquistar o contrato bilionário. “Alguns queriam me fazer agrados”, revela.
ISTOÉ – O senhor está satisfeito com o resultado?
Juniti Saito – Toda a Força Aérea estava ansiosa para ver esse programa resolvido. Foi um trabalho técnico irretocável, muito elogiado pelos finalistas. Mais de 60 oficiais participaram da análise. Temos 28 mil páginas de estudos registrados.
ISTOÉ – A decisão demorou demais? Ficaremos sem defesa aérea até chegar o primeiro lote?
Saito – 15 anos é demais. E ainda temos a negociação do contrato, que deve levar mais um ano. O primeiro lote só deve chegar em 2018, mas até lá a Saab poderá nos fornecer 12 Gripen C/D que estão em operação.
ISTOÉ – Num processo de cifras bilionárias, há muita pressão econômica e política. Como o senhor encarou os lobbies?
Saito – Todo mundo quer vender o seu produto. Vêm conversar, tentam me agradar. Mas a gente tratou de forma profissional todos esses assédios dentro da ética e da honestidade. Chamavam para visitar o país, conhecer a fábrica. Pediam uma atenção especial. O assédio era ainda maior nas feiras, mas eu sempre tratei a todos igualmente. Quando alguém exagerava, eu dizia “Não é aqui que você vai tratar dessas coisas”.
ISTOÉ – Se o Gripen é um protótipo, o valor de US$4,5 bilhões não é apenas uma estimativa?
Saito – Quer saber uma coisa? A Saab já disse que vai baixar o preço. A Força Aérea da Suécia comprou 60 aeronaves dessa mesma versão. A Suíça, outras 22 e o Brasil agora mais 36. No futuro podermos adquirir mais 50 aeronaves. A produção em escala reduz o custo. O pacote sueco inclui armas, manuais, simulador, manutenção e treinamento do piloto. E ainda poderemos integrar nossos mísseis.
ISTOÉ – Com a transferência de tecnologia, o Brasil poderá fabricar e exportar o Gripen?
Saito – Sim, inclusive para os suecos. Queremos entrar no mercado latino-americano e na África. É um caça barato e potente.
ISTOÉ – Ele pode alterar a balança de poder no subcontinente?
Saito – É um avião que não vai assustar, mas vai ser respeitado. Por ser monomotor, tem menos assinatura radar. Leva mais de 5 toneladas de bombas, mísseis ultramodernos, tem sistema de guerra eletrônica embarcado.
FONTE: ISTOÉ