Base Aérea de Santa Catarina está na mira de cortes da Aeronáutica
Para comprar caça suecos de R$ 4,5 bilhões, instalações militares podem ser fechadas
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A possibilidade foi negada pela Força Aérea Brasileira (FAB) por meio de uma nota enviada pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica em Brasília. Mas o texto admite que existe um plano de reestruturação em curso que inclui estudos a respeito de Florianópolis.
A revista especializada Poder Aéreo, editada pelo ex-militar Alexandre Galante, publicou informações diferentes e acrescentou que as sete aeronaves existentes em Santa Catarina seriam enviadas para Canoas (RS), onde também há uma base aérea. A estrutura existente em SC seria desativada. O comandante da Base Aérea de Florianópolis, coronel-aviador Claus Kilian Hardt, refutou o fechamento.
No entanto, duas unidades militares que estavam no plano de restruturação foram esvaziadas de acordo com O Globo. O argumento de redimensionar a frota fez o esquadrão que operava em Fortaleza ser transferido para Natal.
A estrutura existente na capital cearense é bem semelhante à catarinense. Ambas contam com aeronaves do mesmo modelo, o Bandeirante. O tamanho do contingente é igual ao da Base Aérea de Florianópolis, cerca de mil militares.
O hangar de Natal também absorveu a estrutura de Santos (SP). Os helicópteros Esquilo que operavam no litoral paulista foram para o Nordeste. Trata-se de outra unidade que está no plano de reestruturação da FAB.
A eventual saída removeria de Santa Catarina dois grupamentos conhecidos como Esquadrão Phoenix, que tem função de patrulhar todo o litoral da Região Sul. A decisão também acarretaria prejuízos financeiros. Estudos realizados em Fortaleza revelaram que a cada ano a instalação injetava R$ 200 milhões na economia local.
“Não tem nada no curto prazo”
Diário Catarinense – A Base Aérea de Florianópolis será desativada?
Coronel-aviador Claus Hardt – Não está na programação oficial da Aeronáutica. Não tem nada oficial, não tem nada no planejamento de curto prazo e, pelo que eu li (na imprensa), essas desativações que estão acontecendo, uma em Santos e outra em Fortaleza, já estavam num planejamento que vem sendo executado há alguns anos.Quando foi feito esse planejamento em 2006, a Base de Florianópolis estava lá. Naquela primeira versão, saiu sim que a Base de Florianópolis seria desativada. Mas depois, o assunto saiu de pauta, não foi mais o caso, desistiram…
DC – Por que o comando desistiu de desativar Florianópolis?
Coronel-aviador – Eu não sei. Esse tipo de decisão é do alto comando, não é compartilhada. O que posso dizer é que hoje não tenho informações oficial com relação à desativação de Florianópolis. Pelo contrário.
DC – Mas se no passado a Aeronáutica planejou desativar Florianópolis, a situação não pode ser reavaliada?
Coronel-aviador – Olha, quem sabe… Mas hoje eu posso te dizer que realmente não há nada mesmo. Se o alto comando vai, num próximo estudo, colocar de novo a Base de Florianópolis para eventualmente ser desativada, não sei e não posso dizer, mas acho extremamente improvável porque estamos até ampliando.
DC – Ao que o senhor atribui as especulações?
Coronel-aviador – Justamente porque, no planejamento realizado em 2006, a Base de Florianópolis tinha entrado na lista das bases a ser desativadas. Inclusive, de todas as bases que estavam na lista, a nossa era a última. Se não estou enganado, no planejamento inicial, a Base de Florianópolis era para ser fechada em 2019. Mas no início de 2013, quando estive em Brasília, o comando disse que a Base de Florianópolis não será desativada. É a posição oficial que eu posso passar.
DC – Mas a FAB está cortando gastos…
Coronel-aviador – Mas não tem nada a ver uma coisa com a outra… Essas desativações (Santos e Fortaleza) já estavam previstas, mas não tem nada a ver com a compra do Gripen.
DC – E a contenção de gastos, até que ponto interfere no trabalho?
Coronel-aviador – Hoje a gente tem mil homens. Para manter o destacamento funcionando, só para manter as instalações e servir de base para pousos técnicos, a gente conseguiria trabalhar com 100 homens.
DC – O planejamento inicial era reduzir a Base de Florianópolis para 100 homens?
Coronel-aviador – Isso. Seria o mesmo que acontece em Santos. Só que não é o caso. Isso não existe mais.
DC – Em caso de desativação, esses militares seriam transferidos?
Coronel-aviador – Vou te dizer que 80% a 90% do pessoal.
DC – Quantos aviões há em Florianópolis?
Coronel-aviador – São Bandeirante de patrulha usados no patrulhamento marítimo, o que passa a ter uma importância muito grande agora com o Pré-sal.
DC – E com sete aviões é possível fazer um bom patrulhamento?
Coronel-aviador – Sim, claro…
Base Aérea de Florianópolis foi o assunto desta segunda-feira na Tapera
Vizinhos se dividem quando perguntados sobre a desativação da instalação militar
O futuro da Base Aérea de Florianópolis virou o assunto do dia entre os vizinhos da unidade militar nesta segunda-feira.
Quem concorda com a desativação das instalações fala da possibilidade de encurtar em cerca de 10 quilômetros o trajeto entre o Centro e a Tapera. Sem falar nos congestionamentos que poderiam ser evitados com a nova alternativa. Aqueles que têm autorização para cortar caminho e transitar pela unidade diariamente, ainda que com restrições de horário, não gostam da ideia de perder a segurança proporcionada pela simples presença dos militares.
– Não tenho do que reclamar. São os melhores vizinhos do mundo e ninguém me incomoda. Apesar das restrições no trânsito, a presença deles garante tranquilidade – fala o policial militar Pedro Adelino da Rosa, 51 anos, que nasceu e cresceu na Rua do Sol Nascente, na Tapera, e não acredita que a Base Aérea de Florianópolis venha a ser desativada pela Aeronáutica.
Nas guaritas de acesso à Base nenhum militar falou sobre o futuro. Extraoficialmente, disseram que ouviram falar da desativação pela imprensa, mas não têm mais detalhes e nem podem comentar o assunto.
Nessa segunda-feira, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica em Brasília negou a desativação das instalações em Florianópolis, apesar das notícias de que cortes de despesas serão necessários para garantir os R$ 4,5 bilhões que serão gastos na compra de 36 caças suecos Gripen. A informação é de que as atividades feitas hoje em SC seriam transferidas para a Base Aérea de Canoas (RS), que continuaria a realizar o patrulhamento do mar do litoral Sul. Em nota, a Aeronáutica esclarece que realiza estudos constantes para concentrar meios e otimizar custeio, mas neste momento não há definição específica para a unidade em SC.
Apesar da declaração oficial, está em andamento um plano de reestruturação das Forças Armadas para superar o “estado de penúria”, como diz Alexandre Galante, ex-militar e consultor. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.
“É correto e necessário cortar gastos”
Diário Catarinense – A possível desativação da Base Aérea de Florianópolis é reversível?
Alexandre Galante – Não acredito. Faz algum tempo que as Forças Armadas convivem com dificuldades básicas, como treinar pilotos e manter aviões voando. Já houve mudanças em Santos (SP), Afonso (Rio de Janeiro) e Fortaleza.
DC – O senhor acha correta a decisão de cortar despesas fechando ou transferindo unidades?
Galante – Sim. É inteligente, correto e necessário cortar onde se pode.
DC – O senhor acredita que essa decisão em relação à Base Aérea de Florianópolis está relacionada a compra dos caças suecos?
Galante – Independentemente da compra dos caças isso aconteceria. É preciso cortar para não permanecer no estado de penúria em que se encontram as Forças Armadas, o que vem acontecendo há bom tempo.
FONTE / FOTOS / INFOGRÁFICO: Diário Catarinense – as duas matérias foram publicadas no dia 23 de dezembro, uma delas pela manhã e outra à noite (clique nos links para acessar os textos originais de cada uma)
NOTA DO EDITOR: é importante lembrar que, em entrevistas a jornais, normalmente parte do conteúdo é editado para se adequar aos formatos e espaços disponíveis. Assim, deixamos claro que a opinião do editor-chefe do Poder Aéreo e da revista Forças de Defesa, mostrada no jornal, é apenas parte de um contexto maior de discussão. A opinião sobre fechamento de bases tem como apoio informações que temos de diversas fontes da FAB, e não decisões finais de cada caso, pois se trata de um processo em discussão há anos e em andamento, como bem lembrou o comandante da Base Aérea de Florianópolis.
Deve ser lembrado que há estudos da FAB para diminuir ou até encerrar atividades em algumas bases no Sul e Sudeste do país, que acabam se mostrando redundantes num momento em que se expande a presença no Norte e no Oeste, como são exemplos bases e núcleos de base sendo construídos e ampliados, como São Gabriel da Cachoeira, Eirunepé, Vilhena, Tiriós e outras localidades. Também deve ser lembrado que tanto o programa F-X2 quanto os estudos para fechamentos de algumas bases no Sul e Sudeste, ao mesmo tempo em que são expandidas no Norte e Oeste, são processos existentes há muitos anos, então o fechamento de bases não pode ser considerado consequência direta da compra de caças, e sim de um planejamento global de evolução da FAB para atender a novos cenários (assuntos que já foram objeto de diversas matérias no Poder Aéreo) e enxugar custos.
Assim, discordamos da relação direta expressa na matéria do alto, que diz que “para comprar caça suecos de R$ 4,5 bilhões, instalações militares podem ser fechadas”, e o editor-chefe Alexandre Galante deixou isso claro quando afirmou que “independentemente da compra dos caças isso (fechamento de bases) aconteceria.” Sejam esses caças de procedência sueca, francesa ou americana. É certo que verbas economizadas com fechamento de bases podem ser aplicadas em outras áreas e até mesmo em caças, como opinou outro colaborador do Poder Aéreo, o coronel Franco Ferreira, afinal, tanto bases quanto caças fazem parte da Força Aérea, como tantos outros bens e equipamentos, e dependem de um mesmo orçamento.
Por fim, é importante considerar que mudanças de esquadrões, relacionadas ou não a fechamento de bases / redução para núcleos de bases, não são atividades que reduzem custos num primeiro momento, e sim a longo prazo, pois é necessário alocar verbas para a própria mudança.